A romantização do abuso no cinema e na TV

Abuso
substantivo masculino
1. uso incorreto ou ilegítimo; abusão, excesso.
2. uso excessivo ou imoderado de poderes.
O que são pessoas abusivas:
Pessoas abusivas são frequentemente, elas mesmas, sobreviventes de abuso.
O comportamento abusivo pode variar desde o abuso emocional, verbal, até o
físico e sexual. Frequentemente uma pessoa abusiva emocionalmente é
também abusiva verbalmente ou uma combinação de todos os tipos acima.

Temos na sociedade atual e principalmente nas gerações passadas a mania de romantizar sofrimento, seja ele qual for. Se uma mulher era traída, então tinha que ficar calada e aguentar, já que toda sua renda e sua família consistia em ser bancada por um homem. Com o passar do tempo, muita coisa mudou para melhor e consequentemente, começamos a ter mais espaço e mais noção do “eu” como sociedade, dos meus direitos e principalmente do que eu preciso ou não preciso ter que aguentar de determinada pessoa. Pois bem, empoderamento é algo muito bonito no papel, porém inútil quando não compreendido ou não usado. 
Uma das grandes questões que envolvem a sociedade como um todo é colocar a mulher no patamar mais baixo da cadeia alimentar e aceitar o machismo. Temos exemplos disso em todos os quatro cantos da nossa vida, seja no serviço, em casa ou na família ao lado. Basta querer ver ou pensar um pouco que as histórias começam a acumular na roda de conversa. 
E um dos grandes malefícios do machismo é que, enquanto sociedade, aceitamos a forma como o homem atualmente é criado e damos desculpas para os seus erros. Colocamos panos quentes porque nos foi dito que o homem tudo pode e tudo quer. 

Homem tem a carne fraca“, quando descobrimos que ele traiu sua esposa ou namorada. 

Mas olha a roupa que ela estava usando“, quando um homem estupra uma mulher na rua. 

Mas no meu tempo, mulher tinha que ficar dentro de casa“, quando a esposa decide que quer trabalhar fora.
Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher“, quando o homem parte para violência física e psicológica.

Se não for minha, não vai ser de mais ninguém“, quando ela é assassinada.

E isso está tão enraizado na nossa sociedade que não vimos mais como errado ou certo, é apenas assim que funciona e pronto, então, quando vemos exemplos disso na televisão ou no cinema, me causa um tremendo mal estar, pois em vez de tentar abrir os olhos das pessoas para determinada situação, eles vão lá e glamourizam uma situação que é totalmente errada e pior, as pessoas gostam e se colocam no lugar da personagem que está sofrendo!

A última moda que lançaram é querer ser sequestrada, já que no filme 365 Dni, um exuberante homem, lindo e rico se acha no direito de sequestrar uma mulher e dar a ela um tempo para que se apaixone por ele. É tão absurdo que eu acho que nem deveria ter que explicar o quanto isso é problemático, querer se colocar numa situação onde, você literalmente é obrigada a viver uma vida controlada por outra pessoa, então, vou dar alguns exemplos bem realistas sobre o que realmente seria, caso isso acontecesse com você um dia.

Vou começar com O Quarto de Jack, que apesar de não ser baseado em uma história real, ela poderia muito bem ser a vida de alguém.


Esse filme é poderoso, as atuações são críveis, angustiantes e chocantes. Uma moça de 17 anos é sequestrada e mantida em cativeiro por oito anos,
nesse período ela tem um filho com o sequestrador que a estupra
regularmente.

O filme se divide em duas partes, dentro e fora do quarto, prisão e liberdade
Jack teve uma infância saudável e feliz enquanto estava no quarto porque não tinha necessidade de nada, ele tinha o principal que toda criança precisa, o amor da mãe dele.
Depois que saiu do quarto ele desejava voltar para lá, pois era o mundo
que conhecia. Não brincava com os brinquedos novos e sentia falta da
rotina com a mãe.  

Tudo o que Joy queria era sair do quarto e voltar para a família e
quando isso acontece, ela não se vê feliz, entra em depressão profunda e
tenta suicídio. Esse momento do filme representa as nossas fantasias de
liberdade. Muitas vezes acreditamos que ao mudar de situação seremos
mais felizes, ao sair de um casamento, da casa dos pais, de um emprego,
ou qualquer situação em que nos sentimos presos, mas mudar de realidade não é garantia de felicidade.
Análise feita pelo site CuritibaCult, leia a matéria completa


em 3096 Dias poderia muito bem ter sido a inspiração para o Quarto de Jack, já que nesse caso, Natascha Kampush ficou em cativeiro por 8 anos. 

Nos primeiros anos o sequestrador, Wolfgang Priklopil, a dava tudo que
ela pedia, apesar de a manter no quartinho fechado. Ele tentava
convencê-la de que ninguém do mundo exterior ligava mais pra ela. E
provavelmente ele realmente acreditava nisso, o coitado achou que, com o
tempo, ela poderia se apaixonar por ele e eles viveriam uma vida feliz
juntos.
“…ninguém no mundo exterior acreditaria que uma vítima de sequestro
pudesse se sentar com seu sequestrador para jogar ludo. Mas o mundo
exterior não era mais meu mundo. (…) E havia apenas uma pessoa que podia
me tirar da solidão opressiva – a mesma que criara aquela solidão pra
mim.”
Natascha Kampush 
Trecho retirado do site Science Blogs, para ler a matéria completa, acesse aqui! 
Verdades Secretas foi uma excelente novela que trouxe à tona, de maneira nada sutil, diversos tabus e temas nunca antes citados, e ao meu ver ele encaixa aqui perfeitamente, um cara se “apaixona” por uma modelo quando se encontram durante um programa que ela faz para manter a carreira de modelo. A menina rompe seu caráter sonhador e opta fazer programas, mas o sonho ainda está lá e ela insiste para que eles se casem – está apaixonada. Nada feito, ela tenta seguir a vida tendo seu sonho como prioridade: quer casar, ter filhos, enfim, viver o que o romance básico proporciona. O cara, na verdade, não estava apaixonado: ele já tem o caráter rompido e quer porque quer estar ao lado da mocinha. Assim, decide casar com a mãe dela. 
 
Casado com a mãe dela, volta a seduzir a garota, que novamente tem o
caráter rompido e cai na lábia do bonitão (sim, ele é bem bonito,
sedutor, são características que facilitam este trabalho sujo, mas tão sujo
que nos últimos capítulos já não dava pra sentir a beleza do ator,
tamanho nojo que me davam as cenas de traição – parabéns, Lombardi!).
Acredite você no que quiser acreditar, mas a verdade nada secreta que
fica escancarada fala tanto sobre nós nos acostumarmos com as coisas
mais terríveis acontecendo debaixo dos nossos olhos quanto sobre nossa
incapacidade de mudar este foco e realmente apontar os erros, por maiores
que sejam. 
Trecho retirado do site GGN, leia a matéria completa, vale a pena! 
O documentário Um Crime Entre Nós, lançado esse ano, retrata a realidade brasileira que, muita gente fecha os olhos e finge que não vê, exploração sexual infantil.



Por ser mulher, percebo que muita coisa ainda vem de berço, como o conceito do “ser homem”, “ser macho”, ser o procriador! Quando na verdade criamos homens que não aceitam não, não aceitam as consequências de seus atos e principalmente, criamos eles para serem impunes e o pior, como se tudo o que eles fazem fosse certo, já que, segundo a nossa sociedade, o homem branco e hétero é a famosa família de bem.



Cito esse documentário pelo simples fato dele acontecer no nosso quintal, e mais uma vez ele deixa explícito a ignorância e a cultura burra do machismo. Se tiver a chance de assistir, assista.



Algo que falta na nossa sociedade é empatia e conhecimento. Quanto mais falarmos sobre esses assuntos, quanto mais tocarmos na ferida, quem sabe algo comece a mudar na vida das pessoas e finalmente, tenhamos mais consciência das nossas palavras e ações.



Leia a matéria completa no nosso site!




Por fim, eu diria que estamos doentes e aceitando que essa doença corrompa cada um de nós. Em tempos em que as leis e o conhecimento são dados a todos, apenas uma parcela parece de fato compreender ou aceitar o que acontece. É triste saber que a minha liberdade acaba quando o próximo acha que pode mais do que eu. É triste saber que a vítima é culpada na maioria das vezes e apesar de tudo, ainda duvidamos de sua palavra. Somos gerações de adultos doentes que plantam e disseminam o mal sem perceber e por vezes, não somos capaz de quebrar o ciclo de violência que vivemos.
Então pense bem antes de se por no lugar glamourizado  que você vê em filmes ou do “amor” que essas pessoas dão, você merece coisa melhor. 
 

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