A Equipe do Blog Comenta: Black Mirror – 5ª Temporada (2019, de Charlie Brooker)

 Com cinco temporadas e dois especiais, Black Mirror é o seriado referência no tema distopias sociais desde que foi comprada pela Netflix em 2016. Mas esta última temporada lançada no último dia 5 de junho, faz jus ao que foi construído em cima da marca? Leia abaixo as diferentes visões da equipe sobre os episódios desta 5ª temporada: 

Black Mirror 5ª Temporada

Episódio 01 – Strinking Vipers (Dirigido por: Owen Harris|7.0 – IMDb| 71% Rotten Tomatoes) 


Lívia Martins: O ritmo de Striking Vipers é bem cansativo e demora um pouco até engrenar. Achei interessante ver a familiaridade dos cenários brasileiros, mas ao mesmo tempo estranhei de ver todos os personagens falando em inglês. Mas, este episódio me fez refletir sobre algumas coisas além do óbvio: seria normal um homem lutar e bater em uma mulher? Como seria a sensação de poder estar em outro corpo que não seja o seu? Mas o questionamento central para mim do episódio é:  por mais que as pessoas tenham o que desejaram, elas podem mesmo assim não ser felizes?  Danny e Theo tem uma vida bem bacana, mas como todas as rotinas em algum momento passam a ser infelizes. E aí, fica o questionamento, existe a felicidade em si ou picos de felicidade? Por outro lado é pelos relacionamentos superficiais do amigo Karl que eu me pergunto: será que ele não gostaria de ter a “felicidade” que ele acreditava que o amigo tinha? Será que ele não queria tanto estar no lugar do outro a ponto de atrapalhar toda a vida dele? Muito além da sexualidade não explorada, questionamentos sobre até onde vai uma traição e sobre a objetificação das mulheres nos jogos, Striking Vipers te faz refletir sobre o quanto o irreal pode ser melhor do que o real e o quanto esta troca pode ser saudável ou não. O melhor da temporada. 



Nota 7.5/10


Yago Tanaka: O episódio consegue permear bem entre o drama, o romance e a tensão, mostrando como a tecnologia pode interferir nas nossas relações e como videogames futuristas podem trazer sensações completamente reais para o nosso corpo. Já vimos esses dois temas abordados antes? Sim, mas mesmo sem surpreender, o episódio é bem executado, com boas atuações e um final maravilhoso. 




Nota 7.5/10


João França: É o que a nova temporada da tão aclamada Black Mirror oferece de melhor. Infelizmente isso não é motivo pra comemoração. Com um início que nos instiga a descobrir qual o tema do episódio, Striking Vipers empolga até os 5 minutos finais, para então, cair numa conclusão que não combina com os roteiros rebuscados que estávamos acostumados a ver no seriado. É uma conclusão ruim e preguiçosa para um tema tão interessante e que podia ter sido melhor explorado.

Daria nota 9 se não fosse o final, mas, como ele está lá e faz parte do episódio…

Nota 5.0/10

Episódio 02 – Smithereens (Dirigido por: James Hawes| 7.7 IMDb| 67% Rotten Tomatoes) 

Eduarda Souza: Em pleno 2019, no auge do governo
Bolsonaro no Brasil, o presidente apresenta um projeto de lei a ser levado para
a Câmara dos Deputados para votação: dentre diversos pontos, os principais são
o aumento de pontuação no prontuário de motoristas e a não-obrigatoriedade de
que se tenha cadeirinha para crianças no carro. E o que é que isso tem a
ver com o episódio de
Black Mirror mesmo? Calma, já te explico!

Smithereens foi para mim uma das
experiências mais tocantes que já tive com o seriado. Funcionando lindamente como
um vídeo educativo para trânsito, o episódio mostra bem como um dos pontos do
nosso código de trânsito pode ceifar a vida de alguém: utilizar o celular
enquanto dirige. 
Obviamente esta reflexão não é a
única e nem a principal do seriado. O grande ponto aqui é mostrar como as redes
sociais nos fizeram seres totalmente viciados, constantemente conectados,
bombardeados de informações, memes, vídeos, situações do mundo inteiro que são
rapidamente esquecidas e/ou ignoradas, mesmo que sejam altamente chocantes.
Ademais, Smithereens apesar de
possuir extrema relevância, um roteiro que consegue sustentar a trama de
maneira sóbria e envolvente, não consegue criar um elo mais forte com o
espectador, o que pode ser relacionado grandemente com o protagonista do
episódio. Contudo, a escolha de Topher Grace como CEO da empresa Smithereen foi
grandemente acertada e devo dizer que a sacada de Charlie Brooker em reproduzir
o ritual que o CEO do Twitter fez na vida real foi mais uma vez um lembrete e
uma crítica de como estamos nos aproximando da distopia que Black Mirror
insiste o tempo todo em nos alertar. Aliás, já estamos vivendo nela.




*alerta de spoiler
Para os que já assistiram, o
final me provocou uma reflexão que devo compartilhar: alguém morreu
com o tiro disparado pela policial. Pode ter sido o personagem principal ou o
estagiário negro e as pessoas, que estavam totalmente inteiradas do ocorrido simplesmente
verificaram o desfecho e não se importaram, como se fosse somente mais um meme
de grande repercussão e rápida esquecimento. 


Nota: 8.5/10

João França: Assim como o primeiro, o final é o que há de pior, no entanto, ele já começa fraco. Smithereens é um episódio problemático que começa em tom de suspense e termina quase que como uma propaganda/conscientização do governo federal sobre os perigos da direção distraída.

A motivação do personagem é tão ruim que eu não consigo, sinceramente, levar a sério. 

Nota: 3.0/10


Episódio 03 – Rachel, Jack and Ashley Too (Dirigido Por: Anne Sewitsky |6,0 IMDb| 47% Rotten Tomatoes)





Igor Motta: Rachel,Jack and Ashley Too é um episódio ruim de uma temporada ruim. Muito ruim. Trata-se de um episódio mal feito, em quase todos os quesitos. É apenas um especial da Hannah Montanah que passou na Sessão da Tarde, mas que decidiram colocar um filtro de cores menos vibrantes na casca de um seriado de ficção científica de abordagem filosófica.

A atuação de Miley Cirus é ok. Não difere de sua personagem referência do episódio, muito menos de outras personagens de sua carreira. Existe uma tentativa de construção que é baseada, justamente, na própria vida da artista. Mas, lamento dizer, é horrível. Existem três Ashleys no episódio e apenas duas são intencionais. Temos a artista perfeita, a real pessoa imperfeita e a robô arrogante. Uma tenta justificar o comportamento da outra, mas nenhuma assim faz corretamente. O mero conflito ente a artista e a pessoa em si, embora seja uma questão pessoal de Miley Cirus, não carrega o episódio, e a inserção da personalidade arrogante da I.A. fica desprovida de sentido e origem, visto que, em tese, ela também é as outras duas. Há quase, e eu me mantenho no quase, um aprofundamento quando pensamos que a robô incentivou a morte da Ashley original para tomar seu lugar na justificativa dela ainda ser a própria Ashley. Temos aqui uma grande abertura para conflitos de identidades através da tecnologia que poderia ser mais interessante, até de uma vilania inesperada em meio ao plano de outras pessoas. 




*alerta de spoiler
Porém, além de não ser algo lá maravilhoso, por algum motivo preferiram seguir pro um caminho em que todos os conflitos de larga escala envolvendo pessoas milionárias e poderosas são resolvidos por duas adolescentes do subúrbio, resultando em uma banda de rock adolescente.

Não é ruim porque o final é feliz, por ter uma temática mais jovem (talvez), mas não tem sentido, não tem uma crítica concreta. Há tanto para se falar e aproveitar uma abordagem tão pessoal de Miley Cirus sobre a própria construção de personas que, na realidade, nunca foram ela, que fica até irônico a percepção de que toda sua crítica resultou em mais um estilo de enredo que a cercou durante toda a vida. Bojack Horseman, sem a roupagem Black Mirror, é infinitamente melhor ao tratar do mesmo tema.

Não é porque algo possui um mínimo de referência e crítica social que é bom. Muito pelo contrário, pois dá a sensação de que todos esses elementos que outrora foram a grande marca Black Mirror são, hoje, meramente itens de uma lista a ser cumprida, por uma produção cada vez mais abandonada e subsumida ao próprio universo que critica. Rachel, Jack and Ashley Too é o encerramento de uma temporada que, se os deuses forem bons, poderia ser a última.




Nota: 3.0/10


Yago Tanaka: Rachel, Jack and Ashley Too encerra a curta temporada de maneira “ok”, sem surpreender muito, principalmente com um final clichê, mas mostrando uma Miley Cyrus ótima, com bons momentos dramáticos e explorando bem a relação fã e artista. Com momentos bons e momentos ruins, o episódio acaba tendo um saldo positivo, mas para um seriado que já lançou episódios dramáticos como Volto Já e Hang the DJ, fica a dúvida, será que os criadores precisam de mais que um ano para ter ideias melhores?

Nota: 6.0/10

João França: Começa ruim, depois melhora e por fim parece que está no começo. Me abstenho de nota, posso não ter simplesmente mergulhado na ideia do episódio e ser injusto.

Confiram outros especiais de Black Mirror do nosso site: 

1ª Temporada

4ª Temporada

Especial: Top 5 Episódios Black Mirror


Título Original: Black Mirror Season Five 

Direção: Anne Sewitsky, James Hawes e Owen Harris

Episódios: 3

Duração: 60 a 70 minutos cada episódio (198 minutos ao todo)

Elenco: Anthony Mackie, Yahya Abdul-Mateen II, Nicole Beharie, Andrew Scott, Damson Idris, Topher Grace, Angourie Rice, Madison Davenport e Miley Cyrus.  

Sinopse: 
Este seriado de ficção científica explora um futuro próximo onde a natureza humana e a tecnologia de ponta entram em um perigoso conflito. Em “Striking Vipers”, dois colegas universitários se reencontram após anos, desencadeando uma série de eventos que podem alterar suas vidas para sempre. Em “Smithereens”, um motorista de táxi se torna o centro das atenções em um dia que sai de controle rapidamente. Em “Rachel, Jack and Ashley Too”, uma adolescente solitária anseia por se conectar com sua estrela do pop favorita – cuja existência encantada não é tão cor-de-rosa quanto parece.

Trailer:



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