A Equipe do Blog Comenta: Nós (2019, de Jordan Peele)



Ettore R. Migliorança:

Jordan Peele assume seu posto como mestre do terror na atualidade, sem esquecer sua essência. Depois de subverter os clichês de terror para discutir o racismo enraizado na cultura americana em Corra!, Peele ainda trabalha com arquétipos clássicos do terror em seu novo filme para entregar seu novo potencial neste horror com Nós.

Comandando um elenco totalmente encabeçado pela atuação de Lupita Nyong’o, o cineasta garante o domínio da construção do suspense sem esquecer o humor que o colocou no estrelato, ao mesmo tempo em que estimula o espectador a presenciar um terror com debates sobre busca de identidade, luta de direitos das minorias e possíveis discussões sobre políticas americanas, só que em uma execução carregada de metáforas complexas. Sendo assim, prova-se que Jordan Peele e seu cinema está estão apenas começando!

Gabriel Magarão:

Leia a crítica completa dele aqui aqui! 

É impossível assistir Nós e não tentar criar imediatamente paralelos com Corra!, porém as similaridades entre os dois filmes se resumem basicamente ao fato que ambos trazem para tela questões sociais referentes aos Estados Unidos. Algo bem parecido entre os dois filmes é o recurso do humor que está muito presente em ambos os longas, porém enquanto Corra! tinha no personagem Rod (Lil Rel Howery) um alívio cômico, em Nós o humor é intercalado dentro das cenas de horror sendo explorado quase o tempo inteiro e criando um certo sentimento de estranheza que intensifica o desconforto do espectador.

Os dois filmes trabalham suas temáticas de maneiras distintas, ao passo que Corra! é mais centrado nos temas que propõe, Nós não se preocupa em entregar diretamente ao público tudo que quer dizer. O novo terror de Peele expõe suas críticas dentro do universo aterrorizante que elabora, fazendo paralelos com a cultura americana e sua história de opressão.


Guilherme Amado:

Nós coloca em discussão o próprio gênero em que funciona. Com uma direção, atuações e trilha sonora intensamente atmosféricas, mesmo com um roteiro bagunçado, evoca um sentimento positivo: a imprevisibilidade. Ao criar um universo em que os elementos não fecham, em que as coisas parecem tão pouco plausíveis, o diretor atinge justamente um ponto interessante de uma narrativa de terror: coisas estranhas nem sempre tem explicações e nem sempre fazem sentido.

O fascínio de Jordan Peele com o terror e seu desejo de o explorar de outras formas é evidente durante o filme todo. Em meio a tantas produções desinteressadas em oferecer qualquer nuance ou profundidade, é refrescante ver um diretor tomar uma posição mais arriscada e criar uma história mais densa do que seu trabalho anterior. Com seus mistérios e confusões, Nós é um filme que merece ser visto mais de uma vez.


Rodrigo Zanateli:

Nós foi a primeira decepção do ano pra mim.

O roteiro não segue o padrão mais comum de 3 atos que é 1/4 pro primeiro ato, 2/4 pro segundo e 1/4 para o terceiro. E a má execução da direção dessa quebra de padrão, faz com que o filme, principalmente em seu segundo ato, tenha ficado tedioso demais.  A escolha de que o filme não tenha sido apenas durante a invasão domiciliar, faz com que ele seja cheio de invencionices, que algumas vezes o diretor acerta, e em outras tantas, ele erra. Os constantes alívios cômicos quebram quase que totalmente a vibe estranha que o filme se propõe, me impedindo de imergir totalmente no longa durante toda a sua execução.  

Apesar das críticas, a obra está longe de ser ruim, o roteiro está cheio de significados bem executados, a direção de arte e de fotografia são muito cuidadosas, deixando o cinema de Peele com aquele “quê” de diferencial que só um bom diretor autoral consegue alcançar. Além disso, as questões técnicas do filme ajudam também a ambientar a história que até conseguiu me deixar tenso inúmeras vezes. Jordan Peele fez aqui um filme com um significado lindo, e consegue passar tudo o que quer durante a reprodução, o problema é que também valoriza no filme muitas distrações que não são pertinentes à boa história que quer contar, e acabou me impedindo de imergir inúmeras vezes na própria história.  


Eduarda Souza:

Apesar da genialidade já confirmada em Corra!, Jordan Peele decide ousar neste novo longa, trazendo uma trama com maior profundidade em seu tema central e com mais camadas para que o espectador disseque o que acabou de presenciar. Um filme com muitas interpretações e que apesar do ritmo desconexo em alguns momentos e alívios cômicos desnecessários, traz um novo conceito para o gênero do terror, sendo um grande marco para a história do cinema como um todo.
Quem carrega o filme nas costas com muita competência é Lupita Nyong’o, na melhor atuação de sua carreira, até então. Sobra um espaço, mesmo que pequeno para Elizabeth Moss mostrar seu potencial e ela não decepciona. Ficamos vidrados com as duas em cena e devo dizer que há momentos hipnotizantes e de tirar o fôlego. Um filme para se lembrar por dias, para discutir em grupos e para se tornar uma grande referência cinematográfica.



Léo Costa:

É complexo falar de Nós sem soltar spoilers, é um daqueles filmes que é um “spoiler ambulante”. Mas resumidamente, é o melhor filme do ano que assisti até então. O diretor Jordan Peele, que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original com o excelente Corra!, além das indicações de Diretor, Filme e outras, entrega aqui mais outro filme imponente. Se em Corra! tínhamos um suspense mais crescente e sutil, com uma estrutura aparentemente simples, mas uma excelente construção da crítica racial que se fazia, aqui em Nós, temos um terror mais propriamente dito, com uma ideia muito mais complexa, cheia de camadas e lotada de críticas sociais, raciais, teorias da conspiração e simbolismos metafóricos e metalinguísticos.

Essa complexidade, além dos inúmeros plot twists (alguns um pouquinho previsíveis, mas vários muito bem elaborados), são coisas que podem afastar alguns. Algumas coisas aparentemente abstratas podem confundir o expectador, sem falar que em dado momento o filme aparenta tentar ser inteligente demais. Mas sinceramente, gostei muito desta inteligência. O diretor Peele prova que conhece bem o gênero terror e não tem medo de brincar com o estilo, trazendo referências, mas desconstruindo características do mesmo, dando algumas guinadas interessantes. O título original Us serve tanto para a tradução Nós, quanto para a sigla United States, numa clara crítica aos Estados Unidos e seus diversos problemas sociais. Mas vai além disso, trazendo os problemas mais íntimos de famílias e indivíduos, de formas bastante simbólicas. Eu costumo dizer que poucas coisas assustam tanto quanto a realidade. E o que o diretor faz com seus filmes é trazer uma fantasia que na verdade traça paralelos com a realidade.

A direção é boa, com algumas cenas onde o ponto de vista varia de acordo com o personagem e o cenário. O elenco é fenomenal. Lupita Nyong’o é destruidora, uma atuação monstruosa. A moça está crescendo e já pode ser considerada uma das grandes atrizes da atualidade. Sua performance dramática, corporal e vocal é incrível, de cair o queixo em dados momentos. Mas todo restante dos atores está bem, especialmente Elisabeth Moss. Nós é enigmático, levemente divertido, bastante cruel e um complexo quebra-cabeça social e moral. Você poderá amá-lo ou odiá-lo, mas ele irá de algum modo te contar alguma coisa, seja aquilo o que você absorver.



João França:

Quando Jordan Peele nos presenteou com seu primeiro trabalho Corra!, ainda que com excelentes alegorias e metáforas sobre racismo velado e escravidão, algum pensamento sobre “sorte de iniciante” rondou a cabeça de muita gente. Em Nós, entretanto, fica claro que assistimos nestes dois últimos filmes o surgimento de um gênio da sétima arte.

O que mais se destaca no filme, sem dúvida, é que todas as camadas do longa são extremamente relevantes e ainda que você assista apenas na mais superficial de todas, que é a do terror, é um filme que tem um desenvolvimento quase que impecável. Partindo, no entanto, para as demais camadas do filme é que ele se torna único, trazendo para mesa discussões urgentes, interpretações variadas para expandir os horizontes, e um desconforto que somente obras desta grandiosidade causam.

Amém Jordan Peele.


Título Original: Us
Direção: Jordan Peele

Duração: 116 minutos
Elenco: Lupita Nyong’o, Winston Duke, Elisabeth Moss, Tim Heidecker, Shahadi Wright Joseph e Evan Alex.
Sinopse: Uma família sai de férias para sua casa de praia e é surpreendida por invasores, porém os mesmos são mais familiares do que eles imaginam.



Trailer: 


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