Crítica: Capitã Marvel (2019, de Anna Boden e Ryan Fleck)

Eis que quase dois anos após o lançamento de Mulher-Maravilha, recebemos o longa da Marvel que conta com uma heroína em papel solo: Capitã Marvel. No Brasil, fomos presenteados com um dia de antecedência, diferente do restante do mundo em que a estreia se deu no Dia Internacional da Mulher, 8 de março.

Para se ter uma ideia do sucesso que o filme vem fazendo em tão pouco tempo de estreia, de acordo com o site Mulher no Cinemasomente no dia 7 de março foram vendidos cerca de 649,5 mil ingressos, sendo a segunda maior bilheteria de sucesso da Marvel no Brasil, atrás somente de Vingadores: Guerra Infinita (953,3 mil pagantes no primeiro dia de exibição). 

Sendo o primeiro filme do MCU (Universo Cinematográfico Marvel) dirigido por uma mulher, Anna Boden, que divide os louros com Ryan Fleck, roteirizado e produzido também por mulheres, o longa se torna um marco cinematográfico.  Por que digo isso?

Em quantas super-heroínas de destaque, nós mulheres podíamos nos espelhar quando o assunto era poderio no universo do cinema? Você com certeza vai me apontar mais do que depressa a Mulher-Maravilha e eu vou concordar totalmente, mas aí vou te perguntar: Qual mais? 

Até então não tinha, né?! Pois é.

Além deste filme passar pelo Teste de Bechdel com tranquilidade (ponto para o roteiro, diga-se de passagem), a forma como vemos Vers (Brie Larson) desenvolver seu potencial, reconhecendo suas falhas e abandonando aquilo que a atrasa é maravilhoso e inspirador.
É possível até, para um olhar mais atento, fazer um paralelo com relacionamentos abusivos e a libertação destes, mesmo que na prática não ocorra abertamente no filme, mas serve como uma forma didática de demonstrar o quanto uma relação de dependência e altamente abusiva pode minar seu extremo potencial, isso para qualquer relacionamento, sendo amoroso, amigável, profissional, familiar, dentre outros.

E por falar em relacionamento amoroso, não há em nenhum momento a necessidade de enfiar um para que a história fique completa. Diferentemente de Mulher-Maravilha, Vers é autossuficiente e vê como uma forma de realização pessoal ajudar os menos favorecidos, o que em momento algum desmerece o longa de Patty Jenkins, mas faz com que Capitã Marvel tenha um brilho a mais.
Mesmo com mudanças relevantes em alguns pontos das HQ’s que deram origem ao filme, muito do universo de Carol Danvers foi mantido nesse filme, deixando até alguns easter-eggs para que possamos nos deliciar enquanto aguardamos Vingadores: Ultimato. E por falar neste, que é um dos longas mais aguardados de 2019, podemos ficar um pouco mais aliviados ao sabermos que a Capitã será uma grande aliada na luta contra Thanos, pois mesmo que seu poder esteja começando a ser desenvolvido e trabalhado neste filme, já vemos que ela é de longe uma das mais poderosas do universo.



O filme, que aqui na Terra se passa nos anos 90, possui uma ambientação condizente, assim como figurinos, porém, por ser uma época grandemente nostálgica para grande parte dos fãs, talvez as referências à esta época incrível foram poucas para nossa sede.

A trilha sonora, que diga-se de passagem está uma delícia auditiva, auxilia bastante toda a nossa interação para com o filme, e um dos pontos altos é Come As You Are (Nirvana), que, se você observar bem a letra, verá que faz todo sentido para a cena.

“Come as you are, as you were
As I want you to be
As a friend, as a friend 
As an known enemy”

Come As You Are – Nirvana (Nevermind, 1991)
A trama possui um roteiro ágil e direto, o que é um ponto de enorme destaque, uma vez que para se transmitir uma mensagem poderosa, muitas vezes menos acaba sendo mais. Entretanto, há um plot muito óbvio, gerado principalmente pela grande expectativa dos fãs, mas que não compromete a experiência cinematográfica. Há ainda uma perda de ritmo em alguns momentos, mas novamente, nada que atrapalhe o resultado final.


Em uma das cenas mais bonitas do filme, em que Vers descobre quem realmente é, a fotografia é poética! Pode confiar.

E chega então o momento em que precisamos falar sobre Brie Larson: quando apareceram as primeiras imagens promocionais, muitas críticas surgiram em torno da personagem ter a “cara muito fechada” e não sorrir muito. Ignoraram toda a preparação que a atriz teve que se submeter, com ensaio de coregrafia de lutas e musculação, enfrentar sua alergia a gatos, além de ter calibre para tal (vide suas premiações). 

As primeiras impressões sobre o filme vieram e geralmente com caráter mais masculino, informavam que Larson não tinha carisma, ou estava apática ou sem graça. Vários exemplos dentro do próprio universo mostram que as heroínas não estão para brincadeira, não esboçam sorrisos gratuitos e não são a principal fonte de alívio cômico. 

Qual o intuito de que uma mulher, que antes de possuir seus poderes, enfrentou todo o machismo da sociedade para se tornar piloto militar, tenha que ficar sorrindo o tempo todo apenas para agradar pessoas que insistem nesse estereótipo da mulher gentil e dócil? Ou ainda, que uma mulher que não seja considerada como uma sex symbol, tal como consideram Scarlett Johansson (Viúva Negra), não possa ser uma heroína tão poderosa ou bem mais do que esta? 

Assim, os alívios cômicos presentes no longa são bem encaixados e acertados, embora boa parte do filme tenha um ar mais sóbrio, mais maduro. A maioria destes é proporcionada por Samuel L. Jackson, que nos entrega um jovem e inexperiente Nick Fury e possui uma química palpável com Larson, fazendo com que a interação da dupla seja muito convincente. 

Os demais atores entregam coadjuvantes e antagonistas à altura, com destaque para Jude Law (Yon Rogg), Ben Mendelsohn (Talos/ Keller) e Lashana Lynch (Maria Rambeau), e talvez possa ter havido um certo desperdício para a escalação de Annette Bening, que poderia ter mais espaço de cena.


Sendo um dos longas mais aguardados, Capitã Marvel vem não somente para funcionar como um filme de origem à narrativa proposta dentro do MCU, mas muito além disso, servir de referência para todas as mulheres, sejam elas amantes do cinema ou não. Carol Danvers já era uma heroína muito antes de ganhar seus poderes, quando desafiou sua família e o meio social, se tornando uma piloto de renome. 


“Uma obra que coloca uma mulher como a salvadora do Universo, é algo que ainda causa um infeliz espanto. É uma perfeita combinação entre feminismo, lutas pessoais e superação. Não, não precisamos provar nada para você.”

Natália Vieira, colaboradora do Minha Visão do Cinema



Dentro de cada mulher há uma heroína nata, pronta para despertar!


Título Original: Captain Marvel

Direção: Anna Boden e Ryan Fleck

Duração:  128 minutos

Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Jude Law, Ben Mendelsohn, Annette Bening, Lashana Lynch, Clark Gregg e outros. 

Sinopse: Carol Danvers (Brie Larson) é uma ex-piloto da aeronáutica que se torna uma das heroínas mais poderosas da galáxia. Ao se juntar à Força Estelar, uma equipe militar Kree, ela retorna à Terra com novas dúvidas sobre seu passado e sua identidade quando o planeta se encontra no centro de um conflito entre dois mundos alienígenas.


Trailer: 
Ainda não viu este filmaço? Fica a dica: além de duas cenas pós-créditos, a saudade de Stan Lee vai bater com força!

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