Crítica: Trapaça (2013, de David O. Russel)




Estreou aqui no Brasil nesta sexta-feira o filme ‘Trapaça’, uma das obras mais comentadas do momento. Com 10 indicações ao Oscar deste ano, a produção vem chamando a atenção de cinéfilos. David O. Russel, que anteriormente fez os ótimos O Vencedor e O Lado Bom da Vida entrega mais um competente produto, que mesmo levemente inferior aos seus filmes anteriores, mantém um padrão classe A. Mas desta vez o diretor investe em uma trama estilo “Scorsese”, porém mais leve. Comparações à parte (que aliás Scorsese também concorre ao Oscar deste ano com o seu polêmico O Lobo de Wall Street), Russel vem se destacando como um dos mais interessantes diretores americanos da atualidade. Aqui em Trapaça, embora não seja diretamente um remake ou adaptação da clássica história de Bonnie E Clyde; Russel lança sua versão badalada e estilisada que lembra muito o título citado. Falsários, mafiosos, mentiras, belos decotes e músicas setentistas incríveis recheiam este retrato cheio de drama, romance e golpes.


David O. Russel mantém uma direção segura. Pode-se dizer inclusive que ele tem melhorado, orquestrando o filme de maneira corretíssima e acima da média. Um dos poucos problemas do filme é o roteiro, não tão bom ou original quanto se imagina. Na verdade o filme tem ganhado um status bom com todas estas indicações ao Oscar, mas não sei se é para tanto. Não estou dizendo que o filme é ruim, na verdade é um dos mais divertidos de 2013. Apenas saliento que de fato o roteiro não apresenta nada novo, nada que você já não tenha visto em outras produções sob mesma temática. Para compensar, o filme traz figurinos e maquiagem de época impecáveis. E a fantástica trilha sonora traz o melhor dos anos 70, uma época em que se ia às casas noturnas para dançar e se divertir. Entre as canções estão sucessos como Goodbye Yellow Brick Roa, de Elton John e I Feel Love, de Donna Summer.

Depois de comentar rapidamente sobre alguns aspectos do filme, chega a hora de comentar o ponto forte da obra, o fator decisivo para o merecido sucesso: o extraordinário elenco! As atuações do filme são o ponto chave para a projeção se tornar deliciosa. Mesmo que uma trama envolvendo máfia, ladrões e polícia não lhe chame a atenção; acredite: você não irá querer perder as atuações deste elenco. Christian Bale está sensacional, com uma atuação concentrada e surpreendentemente boa, onde seu visual desleixado e seus trejeitos e expressões facias facilitam para que o público se identifique com sua jornada. Mas Bradley Cooper ganha mais uma vez seu lugar, mostrando que é muito mais do que Se Beber Não Case, entregando uma atuação forte, chamativa e hilária em alguns momentos. Amy Adams e Jennifer Lawrence brilham com seus decotes em lindos vestidos, enquanto atuam e choram de maneira magnífica. Sensualizando o tempo todo sem nunca apelar, as duas atrizes tem seu destaque na obra. Jennifer Lawrence entrega uma coadjuvante de peso, com algumas cenas incríveis de sua personagem um tanto desequilibrada. Não é atoa que estes quatro atores estão concorrendo ao Oscar! De fato um belo trabalho de equipe, onde inteligentes diálogos são ditos em sintonia pelo elenco.

Por estes e outros motivos, Trapaça torna-se um dos grandes favoritos à premiação deste ano. Com um tom divertido e nostálgico, ressucitando um estilo de filme que não se via em anos, Trapaça pode ter suas falhas e em alguns momentos ter furos no roteiro. Pode também não ser o melhor trabalho deste diretor. E pode até mesmo não levar alguns dos 10 prêmios em que concorre. Mas se tem uma coisa em que a obra acerta é em apresentar a construção de suas personagens. Aborda seus amores, suas lágrimas, suas genialidades e principalmente, suas artimanhas de maneira crível e cativante. Após o filme acabar, independentemente de você ter gostado ou não, as personagens ficarão em sua mente, e isso é um grande mérito. Se você, amigo leitor, puder assistí-lo; vá aos cinemas e delicie-se com uma obra pipoca cult. Certamente as narrativas envolvendo o jogo de “gato-e-rato” tanto políticas quanto emocionais valem a sessão.


Trailer:

Direção: David O. Russel

Elenco: Jennifer Lawrence, Jeremy Renner, Bradley Cooper, Christian Bale, Amy Adams, Robert De Niro, Alessandro Nivola, Anthony Zerbe, Colleen Camp, Dawn Olivieri, Elisabeth Röhm, Erica McDermott, Jack Huston, Louis C.K., Michael Peña.

Sinopse: Irving Rosenfeld (Christian Bale) é um grande trapaceiro, que trabalha junto da sócia e amante Sydney Prosser (Amy Adams). Os dois são forçados a colaborar com um agente do FBI (Bradley Cooper), infiltrando o perigoso e sedutor mundo da máfia. Ao mesmo tempo, o trio se envolve na política do país, através do candidato Carmine Polito (Jeremy Renner). Os planos parecem dar certo, até a esposa de Irving, Rosalyn (Jennifer Lawrence), aparecer e mudar as regras do jogo.

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