Natureza Selvagem: O Holocausto como estudo da natureza humana

 

Distribuído pela A2 Filmes e disponível para aluguel nas principais plataformas digitais como NOW, Looke, Vivo Play, Google Play, Microsoft e iTunes, Natureza Selvagem é um chocante filme e uma agradável surpresa. O longa feito entre Alemanha, Holanda e Polônia pode enganar se julgar pela capa ou sinopse e achar que se trata de um terror. O título original Werewolf pode até dar a entender que se trata de lobisomens ou cães assassinos, mas a obra trata de outros elementos. 

Existe sim a presença de suspense, mortes e sangue, mas o filme de Adrian Panek fala diretamente do instinto da natureza, humana e animal. Após a Alemanha perder a Segunda Guerra Mundial, um grupo de jovens libertos de um campo de concentração precisa sobreviver com poucos recursos e pobreza no meio do nada, cheios de traumas e cercados por cães pastores alemães treinados pelos nazistas para matar prisioneiros. Agora sem os donos, os cães famintos atacam os jovens, reclusos em uma velha casa no meio de uma floresta polonesa. 

Inicialmente o filme tem traços de terror e de sobrevivência pós-holocausto, com os jovens tendo de lidar com os cães e com as diferenças entre eles mesmos. Mas são nas entrelinhas e em alguns detalhes interessantes que a obra cresce. E nesses detalhes os roteiristas e o diretor buscam dissertar sobre o instinto de sobrevivência dos seres. Discute sobre o que nos difere, nós humanos, dos animais e até que ponto nossas características primitivas em situações extremas vem à tona. 

Temos um dos jovens extremamente traumatizado pelos horrores dos nazistas, que faz com que ele seja uma ameaça aos outros. Temos a inocência da pequena criança, a única que por ser jovem demais, não se contamina com o cenário de horror, sua inocência ainda está intacta. Temos uma jovem moça que ajuda os garotos e temos nela uma provável visão materna, mas também quando soldados nazistas ainda vivos surgem, os garotos presenciam o abuso do homem em cima do ser feminino. Temos um jovem alemão bem-intencionado, que prova seu valor mesmo que desdenhado pelos demais. Provavelmente ele pertencia a uma família alemã contra o regime nazista, mostrando que mesmo em países extremistas, há aqueles que são resistência e lutam pelo certo. E temos a relação de sobrevivência desses jovens versus os cães famintos. 

O roteiro talvez atire para muitos lados, tentando várias coisas e não se aprofundando exatamente em nenhuma, mas o pouco que se propõe a debater, faz isso de forma crua e visceral. A direção é firme e traz algumas cenas enervantes e pesadas, embora nunca explícitas demais. O longa flerta com vários temas urgentes e talvez caberia aqui uma aposta maior da produtora da obra em fazer algo mais aprofundado, pois mesmo sendo bom, o filme poderia ser mais forte e complexo nas metáforas que são passadas. Mas foi uma escolha criativa o manter mais simples. Pena, pois poderia ter sido uma obra-prima, existe aqui o potencial.

Mesmo assim, mantendo um primeiro e segundo ato mais desesperadores e intensos, no terceiro ato há um paralelo entre os meninos e os cães que é interessantíssimo e que eleva o nível da obra. Existe aqui um paralelo entre os jovens e os cães estarem tentando sobreviver e isso ser algo natural, deixando-os em um mesmo patamar, mas a presença de nazistas no ambiente não é natural, sendo uma ameaça para ambos. E o desfecho traz uma “improvável” aliança, que na verdade faz todo sentido e um pequeno afago depois de tanta desgraça. Passa a ideia de que a natureza dá um jeito. Ela faz o que é preciso para sobreviver, às vezes de forma violenta, mas que também ela se une contra aquilo que não é natural, aquelas ações do homem que agridem toda a balança natural das coisas. 

Talvez tal discurso soe forçado ou irrealista, mas novamente essa é uma escolha narrativa artística e de metáforas, uma forma de dizer que o nazismo e outras formas perversas de poder e violência não são aceitas como algo natural, e que mais cedo ou mais tarde a natureza dá um jeito de usar seus instinto para reagir. Com boas atuações, um visual obscuro e sujo e uma criação de atmosfera tensa que antecipa a criação do suspense, Natureza Selvagem é um bom thriller de sobrevivência, que no fundo traz uma mensagem sobre adaptação, luta e fazer aquilo que é certo. O mal é capaz de grandes atrocidades, mas ele nunca prevalece por tempo demais, tampouco sai ileso. A natureza, física ou instintiva, busca uma saída. Alugue Natureza Selvagem, vale a experiência. 

Título Original: Werewolf

Direção: Adrian Panek

Duração: 88 minutos

Elenco: Kamil Polnisiak, Nicolas Przygoda, Sonia Mietielica, Danuta Stenka, Werner Daehn, Jakub Syska, Helena Mazur, Krzysztof Durski

Sinopse: Oito adolescentes mantidos em campos de concentração nazistas são libertados por russos. Eles são entregues aos cuidados de Jadwiga num local abandonado na floresta polonesa e, além de carregarem diversos traumas, terão que enfrentar fome, sede e um grupo de violentos lobos.

Trailer:

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