A crítica de Zimba teve que, por consequência dos fatos, passar pelo imaginário cultural. Não obstante, o filme é um traçado da genialidade maluca do ator e diretor Zbigniew Ziembinski, que viveu entre 1908 e 1978. Popularmente chamado de Zimba, sua figura se assemelha ao meu próprio imaginário cultural: o charme excêntrico dá ao personagem a fragrância de Einstein, Zé Celso, Sérgio Mamberti e outros ícones que se fizeram ser compreendidos.
Ziembinki fugiu da Polônia às vésperas da invasão de Varsóvia e adotou uma nova identidade: o abrasileirado Zimba foi considerado precursor do teatro moderno no país e também foi responsável pela condução de uma gama de atores brasileiros, que viriam a se destacar na Globo anos depois. É o caso de Nicete Bruno, que volta ao Theatro Municipal para relembrar os feitos de seu companheiro de arte e de ofício.
O filme de Joel Pizzini é uma homenagem que faz uma intensa busca. Ao todo, o diretor produziu peças teatrais, performances, teleteatros, e se destacou na adaptação da peça Vestido de Noiva, com crítica revolucionária e ácida de Nelson Rodrigues.
As amarras do filme partem de uma busca que beira o academicismo, que conta a sua história com o levante biográfico do personagem somada às lembranças de seus companheiros que, em vida na época da filmagem, ajudaram a narrar o percurso do artista.
O documentário disseca a imagem curiosa e contundente do personagem. Por vezes, há uma lentidão da narrativa, que parece repetir a proposta: a obra aparenta ser feita em primeira pessoa, como se o falecido Zimba narrasse suas memórias póstumas. Em sua pessoa, no entanto, cabem muitas. Os atores e atrizes emprestam seu corpo e voz para reviver o personagem e proferem o que ele diria.
O ato de Zimba era, sempre, a transformação. O diretor propôs um encontro entre a arte brasileira e a arte europeia. O esforço e a dedicação de um personagem pouco conhecido é, nas palavras do personagem título, “como guardar um violino de um grande violinista quando o mundo vai abaixo”.