Godzilla vs. Kong – Ode aos exageros hollywoodianos (2021, de Adam Wingard)

 


O primeiro filme do gorila gigante King Kong foi lançado nos cinemas americanos em 1933. O primeiro filme do lagartão kaiju (termo japonês para monstros), Godzilla, foi lançado pelos japoneses em 1954. De lá para cá, muitas continuações, remakes e derivados foram feitos, especialmente no Japão em obras mais voltadas para o cinema B e trash, onde ambos tiveram um tratamento mais mitológico e focado no fato de serem uma espécie de super-heróis. Mas desde 2014, Hollywood e a Warner começaram a construir seu Monsterverse, filmes interligados destes gigantes, trazendo esse heroísmo retratado antes no cinema asiático, agora com características americanas.

Godzilla de 2014 é um filme eficiente, sério e tenso por horas, com um pequeno defeito de fazer mistério demais em cima do personagem título, focando muito no medo dos humanos diante tal criatura. Em Kong: A Ilha da Caveira de 2017, também temos bastantes humanos, mas há aqui um esforço maior em fazer o herói título brilhar, tornando o filme mais interessante e selvagem. Já Godzilla II: Rei dos Monstros de 2019 é o mais mediano, pois este defeito de focar demais nos humanos é ainda mais explícito, deixando o herói e outras criaturas em segundo plano. Problema ampliado pelo uso de fumaça, água, noite e outros recursos visuais que escondem os monstros, tornando o embate deles “camuflado”, infelizmente.

Altamente aguardado, chegamos a Godzilla vs. Kong, superprodução extravagante que coloca ambos titãs um contra o outro. Maior estreia dos cinemas mundiais desde o início da pandemia, e favoravelmente aceito pela crítica, o longa apresenta muitos problemas no seu início, mas que a partir do segundo ato, compensa e muito quem aguardou esse confronto.

Os quarenta minutos iniciais de Godzilla vs. Kong até mostra toda a majestade de ambos em situações rápidas e isoladas, mas há aqui um excesso de personagens humanos em diferentes situações ligadas aos monstros. Temos cientistas, crianças, vilões humanos, críticas ecológicas, teorias de ficção científica e outras coisas, nada muito aprofundado, apenas informações correndo o mais rápido possível para que o roteiro clichê e problemático possa de fato colocar os dois cara a cara. Nesse caminho, os humanos são praticamente rasos e desnecessários no filme, e infelizmente a maioria dos personagens seriam descartáveis.


As exceções são um vilão que apesar de caricato, é necessário à obra e uma criança, a pequena Kaylee Hottle, atriz surda, que possui uma ligação com Kong através da língua de sinais. Ela é inclusive a melhor atuação em cena. O elenco é bacana, temos Alexander Skarsgård, Millie Bobby Brown, Rebecca Hall, Eiza González e Demián Bichir desfilando pela produção, mas roteiro e a direção pouco os aproveita, e na verdade nem há espaço para isso, fato que contesta termos tantos personagens.

Mas aos 40 minutos de filme, finalmente temos Kong e Godzilla um contra o outro, e é aí que a superprodução fica evidente, com efeitos especiais e cenas de ação de tirar o fôlego. A escala de destruição é gigante, tudo acontece de forma bem visível, vemos toda catástrofe criada no confronto desses titãs. O destaque é a direção nas cenas de ação, tecnicamente eficiente e engenhosa, com coreografia de luta interessantes. A ação é correta geograficamente, temos noções de escalas, pesos, localizações, é como se toda essa fantasia fosse palpável, devido a esta escala corretamente posicionada.

Em cenas em que os pelos do Kong tem textura ou balançam com a água, ou objetos menores tremendo só com o pisar dos gigantes, percebemos o trabalho cuidadoso em trazer certa coerência nas lutas e perseguições. É interessante também ressaltar que este apuro técnico também foi designado nas personalidades de ambos personagens. Temos aqui um Kong humanizado, com trejeitos e características que mais parece um herói humano de filmes de ação dos anos 80, é quase um Bruce Willis em Duro de Matar. Já Godzilla é uma força da natureza, uma fera mais animalesca e carrancuda, mas sábia e majestosa, mais próximo de um Rei Leão. E nos combates, cada um traz suas características, qualidades e fraquezas. Nos pontos fracos, note certa insegurança do Kong e certa falta de agilidade (inclusive dos braços curtos) do Godzilla.

Existe toda uma sequência no núcleo da terra que é apenas jogada no roteiro, mas que é lindamente criada com um CGI perfeito e de novo, escolhas visuais interessantes, como o elemento das duas gravidades opostas. E quanto ao segundo confronto entre os heróis numa bonita Tokio recheada de luzes neon, temos aqui uma das melhores cenas de ação dos últimos dois anos, no mínimo. Brutal, tensa e lindamente dirigida, é aqui que o filme cumpre o que promete. Depois temos uma terceira batalha final envolvendo uma terceira criatura, também boa, mas aquém da anterior.

Godzilla vs. Kong entrega um filme imperfeito, com um roteiro fraco que perde tempo com humanos enquanto queremos é ver os monstrões. Mas a espera é compensada com uma direção firme de Adam Wingard na ação e pancadaria, referências clássicas aos filmes antigos e os mais perfeitos efeitos visuais dos últimos anos. É uma obra que não tem medo de abraçar o impossível, a fantasia classe B e elementos de sci-fi clássicos. É quase brega, mas não é por que é feito com estilo. A obra arremata os filmes anteriores das franquias, abraça o estilo de super-heróis da Marvel e DC, adiciona Viagem ao Centro da Terra, faz referência à ação brucutu dos anos 80 tipo Rambo e Duro de Matar, tem um senso de aventura à la Indiana Jones e até uns elementos que lembra Círculo de Fogo (já pensou um crossover?). Bate tudo isso no liquidificador e temos um filme que acaba antes da hora e deixa um gostinho de quero mais.

Godzilla vs. Kong é uma ode e um retrato dos blockbusters de Hollywood, no conceito e na execução. Com menos de duas horas, a obra poderia ter mais meia hora tranquilamente. Com o sucesso deste, um próximo deverá ser confirmado. Que os roteiristas aprendam com os erros e foquem mais nas criaturas, elas são o brilho e o motivo de existência dessa franquia. Que venha mais deste Monsterverse. Vida longa ao Rei. Qual deles? Assista. Mas para mim sempre torci pelos dois …



Título Original: Godzilla vs. Kong


Direção:
Adam Wingard

Duração: 114 minutos

Elenco: Alexander Skarsgård, Millie Bobby Brown, Rebecca Hall, Brian Tyree Henry, Shun Oguri, Eiza González, Jessica Henwick, Julian Dennison, Kyle Chandler e Demián Bichir, Kaylee Hottle.

Sinopse: Numa era onde monstros caminham pela Terra, a luta da humanidade por sua sobrevivência põe Godzilla e Kong em uma colisão colossal que trará duas das mais poderosas forças da natureza, batalhando uma contra outra. Enquanto a Monarch embarca numa periculosa missão em território inexplorado para desvendar as origens dos Titãs, uma conspiração humana ameaça extinguir todas as criaturas, boas ou ruins, da face do planeta para sempre.

Trailer:

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3 thoughts on “Godzilla vs. Kong – Ode aos exageros hollywoodianos (2021, de Adam Wingard)”

  1. Mais uma coisa…
    o correto é Língua de sinais,não linguagem de sinais nem é Libras. Ela fala ASL (American sign language ) ou seja Língua de sinais americana.

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