Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre encerra a trilogia de Lara Jean deixando um quentinho no coração

E assim a história de Lara Jean se encerra. Por uma última vez, acompanhamos uma das comédias românticas adolescentes mais queridinhas da Netflix. Baseada nos livros de Jenny Han, a trilogia Para Todos os Garotos que Já Amei segue Lara Jean, uma garota apaixonada por romances, mas que tem medo deles na vida real. Tudo muda, todavia, quando suas cartas platônicas para os garotos que já amou de fato chegam até as mãos deles, e, para se livrar da bagunça, finge namorar Peter Kavinsky, um dos caras mais populares de seu colégio.


A história que começou a ser contada no cinema pelas mãos de Susan Johnson (O Mundo de Carrie Pilby) teve suas continuações dirigidas por Michael Fimognari. Enquanto Johnson conquistou o público e reviveu as comédias românticas dos anos 1980 e 1990, Filmognari fez questão de, com a estreia de P.S. Ainda Amo Você, enterrar tudo isso tamanha a decepção do público com o filme. Como os dois últimos volumes da trilogia foram filmados ao mesmo tempo, minhas expectativas para a conclusão estavam baixas, mas, por ser fã dos livros, ainda estava animada e ansiosa para assistir. Vi que, durante a pandemia, algumas cenas foram regravadas, e embora eu não faça ideia de quais, só posso estar grata por elas. Ao contrário de seu antecessor, Agora e Para Sempre traz de volta alguns dos aspectos implantados por Susan Johnson e consegue a posição de segundo melhor filme da franquia.

Após todas as idas e vindas de Lara Jean e Peter Kavinsky, eles estão certos do que querem para o futuro: entrar na Universidade de Stanford, na Califórnia — Costa Oeste dos Estados Unidos —, morar junto, andar de bicicleta pelo campus e viver felizes para sempre. Mas nem tudo são flores e, em uma viagem escolar para Nova York, Lara Jean se encanta pela cidade e começa a flertar com a possibilidade de estudar lá. O único problema é que a Universidade de Nova York fica do outro lado do país, a cinco mil quilômetros de distância de Peter.

Ao desenrolar da trama, também assistimos ao desenvolvimento das personagens secundárias. O pai de Lara Jean pede Trina em casamento e as irmãs Covey, principalmente LJ e Margot, são obrigadas a lidar com mudanças dentro de casa. Em uma viagem para a Coréia do Sul, Kitty conhece um garoto por quem se apaixona e começa um relacionamento à distância. Peter, por sua vez, se incomoda com o interesse repentino de seu pai em sua vida, já que ele abandonou a família quando Peter era mais novo, e entra em conflito com seus próprios sentimentos por causa disso. A relação das personagens com Lara Jean também sofre mudanças, uma dinâmica interessante de se observar principalmente em relação a seus familiares e às suas amizades.

A construção das personagens nesse filme, aliás, foi um ponto que se destacou. Apesar de terem muitos buracos — principalmente em relação a Josh, o ex namorado de Margot, John Ambrose McClaren e toda a história do asilo —, vemos os desencadeamentos da amizade de Lara Jean e Genevieve, e do romance de Chris e Trevor, acontecimentos que tiveram início no filme anterior. Dessa forma, as adaptações de Filmognari, como todas as coisas, não são dignas apenas de críticas negativas.

Outras características positivas do longa são os cenários, a trilha sonora e as referências, pontos ressaltados também em Para Todos os Garotos que Já Amei. Sobre o cenário, o diferencial desse filme é que temos eventos grandes, então tudo parece ter um luxo a mais. Além dos espaços que já conhecemos — a casa de Lara Jean, o café, a escola —, temos cenas que se passam em Seul e em Nova York, e se não fosse o suficiente, o casamento de Dan e Trina é encantador. Os cenários realmente saltam aos olhos, e a paleta de cores escolhida se encaixa bem com os mesmos. Em relação à trilha sonora, temos mais uma vez a presença de músicas da Ashe, que fez sucesso com Moral of the Story no segundo filme, a versão de Sandflower da icônica Wannabe e outras canções alternativas; todavia, a que mais chama atenção é Beginning Middle End, de Leah Nobel, na versão da banda indie rock The Greeting Committee. Por fim, as referências continuam: Digam o que Quiserem, O Grande Lebowski, Clube da Luta… Uma lista sem fim. Aliás, é adorável a forma como LJ e Peter têm gostos diferentes e estão sempre apresentando seus filmes favoritos um para o outro; afinal, foi a partir de detalhes como esses que o amor deles surgiu.

Acredito que um dos maiores pontos negativos da adaptação foi a caracterização, especificamente, de Lara Jean. Enquanto nos filmes anteriores, principalmente no primeiro, os looks da protagonista chamavam a atenção, não só por serem bonitos mas também por serem intrínsecos à personagem, neste último suas roupas parecem muitas vezes não se encaixar em quem ela é. A questão é que Lara Jean tem 17 anos, e Lana Condor tinha cerca de 21 na época das filmagens. Dessa maneira, dependendo de sua caracterização, ela fica com uma aparência mais velha ou mais nova, e o fato de usar diversos decotes em Agora e Para Sempre faz com que ela não pareça sequer a Lara Jean, quem dirá ter 17 anos. Além disso, ao passo em que na direção de Johnson a personagem parecia estar sem ou com pouca maquiagem na maior parte do filme, nessa de Filmognari ela usa uma maquiagem visível o tempo todo, causando um estranhamento. Infelizmente, essa não é uma questão de evolução da personagem, porque é quase como se ela parasse de ser uma pessoa para ser outra completamente diferente sem qualquer explicação. Nada na trama justifica escolhas desse tipo, e daí vem o incômodo.

Ademais, há um excesso aparente ao longo da narrativa: o tropeço de Lara Jean, a dancinha de Kavinsky e a dramatização de problemas simples. Parece que o diretor tentou trazer mais elementos que contribuíram para que o primeiro filme fosse um sucesso, mas ele não soube conduzir tão bem. No que diz respeito à montagem, apesar de seguir o estilo de divisão de cenas previamente usados por Johnson, por vezes elas parecem desconexas e alguns cortes são abruptos demais, isso sem contar a estranheza presente em alguns posicionamentos de câmera.

Os atores principais em algumas cenas parecem mais eles mesmos do que as personagens, o que no caso de Noah Centineo é comum, mas em se tratando de Lana Condor é uma surpresa, não das mais agradáveis. Apesar disso, eles continuam com uma química boa, e a fofura, chave da comédia romântica, faz valer a pena. Todavia, os atores que roubam a cena são, de longe, Madeleine Arthur (Chris), Emilija Baranac (Gen), Trezzo Mahoro (Lucas), John Corbett (Dan), Sarayu Rao (Trina) e, acima de todos, Anna Cathcart (Kitty). Kitty ser nomeada a melhor personagem e Anna Cathcart a melhor atriz surpreende um total de zero pessoas, uma vez que a personagem combina muito com ela e, ao longo dos três filmes, ela é a que mais evolui e continua sendo ela mesma de todas as formas possíveis. Aliás, um aplauso para seu figurino no casamento, de longe o melhor do filme.

Algo que continuou nos três filmes foi a direção de fotografia — apesar de ela ter mudado, por incrível que pareça, todas foram responsabilidade de Michael Filmognari. Em minha crítica de Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você, elogio o trabalho com a fotografia azulada, mas ressalto que ela em combinação com a paleta de três cores escolhida para o filme fez tudo ficar perfeito demais e, portanto, irritante. Aqui, já não temos mais esse problema; não tentaram fazer o filme em três cores, a fotografia não foi tão puxada para o azul e o longa se torna, diferente o anterior, agradável à vista. Mas a pergunta ainda fica: como a mesma pessoa pode ter feito todas as fotografias e a primeira ter sido melhor do que as demais? Não faço ideia. Mentira, faço sim: direção.

Sendo assim, pode parecer que esta crítica é (1) uma comparação da direção de Susan Johnson com a de Michael Filmognari, (2) um ataque pessoal aos primeiros trabalhos de diretor do Filmognari ou (3) um grito choroso por Johnson não ter assumido todos os filmes da franquia — o que ela não fez por conflito de calendário —, entretanto não é nada disso. Por ser uma fã assídua dos livros de Jenny Han, reparo em cada detalhe, porque a adaptação de Para Todos os Garotos que Já Amei foi uma das melhores que já vi na vida, e o mesmo não aconteceu com as seguintes; para mim, uma tremenda decepção. E mesmo quem nunca leu os livros ou não sabe os detalhes técnicos das adaptações pode perceber, ao ver os filmes, que todo o clima da história mudou. Dessa forma, é imprescindível comentar os deslizes cometidos nas direções de Filmognari, não como uma acusação, mas como um apontamento. Acredito que Susan Johnson tinha um tato mais preciso para comédias românticas adolescentes, mas também vejo que do segundo para o terceiro filme, Filmognari evoluiu bastante em suas escolhas. O roteiro foi mais cheio, mais interessante, e o desenvolvimento das relações das personagens prova isso muito bem. Não acho que a adaptação tenha sido tão boa — a conclusão de várias personagens importantes no livro simplesmente ficou em aberto —, porém foi, definitivamente, melhor que a de P.S. Ainda Amo Você, o que para mim é uma pequena vitória.

Em suma, Para Todos os Garotos: Agora e Para Sempre encerra a trilogia de Lara Jean de uma forma imperfeita, mas que supera as expectativas e deixa um quentinho no coração. Esse é o tipo de filme para assistir e reassistir em dias de chuva, comendo pipoca ou tomando chocolate quente, só para sorrir com o final. Como diretor, a evolução de Filmognari é clara, e com um pouco mais de observação, experiência e atenção às críticas construtivas, ele fará trabalhos cada vez melhores. Com toda a certeza, a ansiedade para o lançamento de novos filmes com essas personagens vai fazer falta, mas pelo menos outras obras de Jenny Han serão adaptadas para a TV. Apesar de esse ser um adeus para as irmãs Covey, é um olá para novas personagens, novos casais e muito amor. A Trilogia Verão, da mesma autora, composta pelos livros O Verão Que Mudou Minha Vida, Sem Você Não É Verão e Sempre Teremos o Verão, será adaptada em formato de série pela Amazon Prime Video. A produtora encomendou oito episódios, mas ainda não há data de estreia ou elenco definido.

Título Original: To All The Boys: Always and Forever

Direção: Michael Fimognari

Duração: 115 minutos

Elenco: Lana Condor, Noah Centineo, Anna Cathcart, Janel Parrish, Emilija Baranac, Madeleine Arthur, Ross Butler, John Corbett, Sarayu Rao, Trezzo Mahoro, Sofia Black-D’Elia, June B. Wilde, entre outros.

Sinopse: Lara Jean Covey está prestes a se formar e iniciar uma nova fase de sua vida. Durante duas viagens marcantes, ela começa a avaliar como ficará sua relação com a família, os amigos e o namorado após a formatura.

Trailer:

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