Crítica: Pinóquio (2021, de Matteo Garrone)

A história de Pinóquio sintetiza a aventura maior da paternidade: educar. A saga do indisciplinado menino de madeira esculpido pelo solitário Geppetto chegou aos cinemas do mundo em 1940 pelos estúdios Disney. Desde então, quase não há quem não conheça a fábula italiana.  

O filme de Matteo Garrone se distancia de qualquer adaptação dos contos clássicos realizados pela industria cinematográfica contemporânea. Em termos de técnica e de construção narrativa, não é um filme “dos nossos tempos”. Tal premissa, no entanto, não é negativa. 

 

Diante da abundância de remakes com roteiro supérfluo, exagero no CGI e efeitos especiais dispensáveis, Pinóquio (2021) toma a contramão. É um filme de escolhas simples, mas bem executadas. O cenário, de modo geral, valoriza a paisagem italiana. As escolhas das cores frias e monótonas para o vilarejo e as cenas de interior contrastam com os personagens, que possuem existência literalmente fabulosa. 



A fábula, por conceito, caracteriza o conto no qual os personagens são animais humanizados. Na escrita fabulosa, o objetivo é transmitir uma lição de moral. Garrone nada de braçada no gênero – o diretor também assina O Conto dos Contos (2015), baseado na obra de Pentamerão


Na narrativa, Pinóquio (Federico Ielapi) demonstra ingenuidade e bom coração, virtudes ofuscadas pelo seu anseio de conhecer o mundo. É assim que ele deixa Geppetto (Roberto Benigni) e parte para aventuras em um quase road movie. O personagem é ajudado e prejudicado pelos seres que encontra em seu percurso.


Assim como no realismo mágico, a existência dos personagens animalescos nunca é questionada. O espectador deve fazer um pacto de fantasia com o filme. A transformação dos atores nos seres fantásticos é deslumbrante. Em muito, maquiagem e figurino remetem ao teatro de rua tipicamente italiano e também ao cinema antigo. 

 


O filme, que acerta esteticamente, em dado momento se arrasta. A cômica interpretação de Geppetto, vivido pelo vencedor do Oscar Roberto Benigni, é um ponto alto da trama. O ator já interpretou Pinóquio em um filme de 2002 e, aqui, esbanja naturalidade, embora tenha pouco tempo de cena. 

 

Se pela técnica o filme se faz nostálgico, a narrativa é construída de modo mais lento e sombrio: Pinóquio é enforcado, queimado e afogado. A Itália de Garrone também parece sofrer com a pobreza e injustiça.  

 

Em suma, Pinóquio retoma a história atemporal sem necessariamente adaptá-la para o mundo contemporâneo. Certamente, a obra tem seu diferencial e se sobressai no hall das inúmeras releituras dos filmes clássicos.



Título Original: Pinocchio

Direção: Matteo Garrone

Duração: 125 minutos

Elenco: Roberto BenigniFederico IelapiRocco Papaleo


Sinopse: No live-action de Pinóquio, somos apresentados à verdade sombria por trás de um clássico que marcou gerações. O solitário marceneiro Gepeto (Roberto Benigni) tem o grande desejo de ser pai, e deseja que Pinóquio (Federico Ielapi), o boneco de madeira que acabou de construir, ganhe vida. Seu pedido é atendido, mas a desobediência do jovem brinquedo faz com que ele se perca de casa e embarque em uma jornada repleta de mistérios e seres mágicos, que o levará a conhecer de fato os perigos do mundo.

Trailer:

Diz pra gente se gostou de Pinóquio! Não vale mentir! 👃

6 thoughts on “Crítica: Pinóquio (2021, de Matteo Garrone)”

  1. Gostei, destaque para atuação dos atores de Pinóquio e gepetto, o figurino é bem produzido, só achei que a classificação deveria ser mais alta, pois em alguns momentos tem cenas fortes para crianças de 10 anos.

  2. Estava super a fim de ver: Pinocchio.
    O trailer era muito promissor, algo que inclusive vem acontecendo com muitos filmes, mas infelizmente, esse não fugiu a regra.
    A proposta era de um filme mais carregado, um drama, denso no estilo "Labirinto do Fauno", mas o que vi foi um apressar da história, atuações bem ruins, com um ator fantástico (Roberto Benigni – A vida é bela), make-up maravilhosa, porém, no meu ponto de vista, muito mal aproveitado.
    Outro ponto negativo é que o filme é em italiano (original do conto) e a CLARO NOW só dá as possibilidades de dublagem em inglês e português. Mas não pára por ai: os dubladores falam inglês com sotaque italiano, ou seja, a experiência é como se eu estivesse vendo um filme de gângster – Os Bons Companheiros – com um menino narigudo e mentiroso.
    Acredito que faltou direção e roteiro, pois eles tinham um ótimo material em mãos. Se houvesse sido dirigido pelo Guillermo del Toro viraria clássico possivelmente.
    Tirem suas conclusões. Eu, infelizmente, me decepcionei.

    1. O filme é italiano mais foi gravado em inglês para participar dos festivais. O inglês não é dublagem e sim o áudio original.

  3. Adorei o filme, simples e inocente, um filme certamente para a família e com grandes lições e ensinamentos para as crianças.

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