Crítica: O Pai (2020, de Tiago Abubakir)

 

Lançado em 2020 em alguns festivais de cinema, o curta-metragem O Pai possui produção do diretor Tiago Abubakir e do roteirista Luiz Humberto Campos, baianos que dão continuidade ao legado da região por se engajar na arte e cultura, dentre elas o cinema. A dupla assina essa produção interessante, que apesar de parecer baseada em um evento real, na verdade é uma ficção.

Mas tal ficção vem com certa base realista, seja nas caraterísticas históricas, seja nas críticas sociais e políticas que aqui se observam. Não há uma concentração em algo específico, mas o bom roteiro consegue contextualizar tanto a época em que a obra se passa, como também leva por linhas de pensamentos, onde torna-se possível trazer críticas relevantes ao nosso cotidiano hoje. 

Na relevante trama, após um terremoto em Lisboa em 1755, o guardião do Reino adoece, deixando em aberto assim o futuro do reinado e do povo, povo este já preparado para se revolucionar contra um governante autoritário. Falar mais da obra seria estragar a experiência, mas diante tal cenário é possível abordar diferentes vertentes sociais e políticas, como crise diante uma nova situação, abuso de autoridade e ameaça aos direitos do menor (o povo), algo que por exemplo nosso país vive. Não, segundo os próprios criadores da obra, cujo tive privilégio de falar à distância, O Pai não se baseia em algo real literalmente, mas é feito de tal forma que permite essas identificações. 

Tomando como base a imagem do “pai”, usa-se desde preceitos de iluminismo, como também psicologia para assim tecer metáforas sobre a imagem que espelhamos em líderes e autoridades, algo sobre nossa necessidade de termos uma figura dominante forte, um pai, e o mesmo muitas vezes apresentando-se ausente, deixando um lugar vago, e daí nossa necessidade de preencher esse lugar. 

Tendo neste chamado “pai” uma figura opressora ou não, a obra mostra o estopim da revolução fictícia, que faz uma alusão à francesa, e por fim declara um grito de guerra do oprimido contra o opressor. As atuações no geral são boas, salvo algumas exceções que não chegam a estragar a experiência, já que a curta duração nunca é monótona e ajuda a contornar. A edição e montagem auxiliam no ritmo, embora alguns cortes pudessem ser mais naturais. Porém, é importante elogiar que o baixo orçamento também é contornado com uma obra linda visualmente, nunca exagerada, mas coerente na fotografia, figurino e nos cenários utilizados. 

Simples, coeso e belíssimo, O Pai se destaca pela eficiência na direção e no roteiro, que sabe muito bem a mensagem que quer passar, embora aberto à discussões. Nosso Brasil ainda tem muito a oferecer e jovens cineastas como estes são a prova de que devemos lutar pela nossa arte e cultura, nem que seja necessária levantar uma revolução. 

Título Original: O Pai

Direção: Tiago Abubakir

Duração: 7 minutos

Elenco:  Ivone Biscaia, Ana Catarina Lima, Eduardo Pereira, Luiz Humberto Campos, Humberto Campos, Mauricio Abubakir, Enzo Carrozzo

Sinopse:  Lisboa pós-terremoto, 1755. Quando o guardião do reino adoece, um governante forte e destemido deve subordinar o povo, faminto e miserável, aos seus juízos. 

Trailer:

https://vimeo.com/408689279


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