Crítica: Euphoria – F*ck Anyone Who’s Not A Sea Blob (2021, de Sam Levinson)


Após o primeiro ano de Euphoria, é cada vez mais evidente que o brilhantismo da série reside na maneira como trata seus dramas e dilemas sem nenhum tipo de romantização ou banalização dos temas que se propõe a trabalhar. É a partir da profundidade e complexidade de cada personagem – em sua maioria adolescentes – que debates acerca de vícios, preconceito, sexualidade, questões de gênero, repressão, relacionamentos familiares e românticos, luto e lugar no mundo tomam forma. Dito isso, é válido ressaltar que, apesar da maturidade e da relevância temática, Euphoria não é livre de repetições, tramas circulares e, de vez em quando, excesso melodramático, em que a falta de sobriedade narrativa acaba pesando.

Nesse episódio especial, o foco é em Jules (Hunter Schafer). Com o distanciamento social proporcionado pelo COVID-19, as gravações foram realizadas com poucos atores, em grande parte distantes uns dos outros, mas o roteiro, de maneira louvável, consegue trazer justificativas plausíveis para contornar a situação. Nesse sentido, o que vemos principalmente é Jules em sua primeira sessão de terapia, na qual desabafa acerca do seu papel no mundo, que se entrelaça com Rue (Zendaya), seus pais e o fato de ser uma mulher trans.


Com assuntos pesados e complexos vindo à tona, a atuação de Hunter Schafer é digna de nota. A atriz transita muito bem entre pensamentos lúdicos ainda juvenis e imaturos, ao passo que também extrai os sentimentos e dúvidas proporcionados pelo início da vida adulta. Com roteiro também assinado por ela ao lado de Sam Levinson, o roteiro consegue trazer tudo que foi abordado na primeira temporada e explorar mais afundo diversos conceitos, colocando novos acontecimentos aqui e ali. Ainda assim, a repetição de informações do primeiro ano já muito mastigadas continua existindo, mas de maneira mais suave que no episódio anterior, focado em Rue. A adição de complexidade à Jules, no entanto, justifica a existência desse extra, ao passo que seu final prepara o terreno para o segundo ano.

Nesse estudo de personagem que se propõe a fazer, a fotografia de Marcell Rév serve muito bem à narrativa, com tomadas lindíssimas na praia. Outro destaque é a incrível edição, que transcreve a maneira caótica com a qual os pensamentos de Jules transitam de um lugar para o outro numa lógica de edição muito bem orquestrada. A trilha sonora, no entanto, conta com ótimas composições, mas peca no excesso de teatralidade; em certos momentos, a música parecia exprimir mais drama que a própria história. E a direção de Sam Levinson, por fim, segue uma linha estética autoral, colorida e cinzenta ao mesmo tempo, que nos transporta a um mundo que só Euphoria tem o poder de conceder. Além disso, na direção de sua protagonista, o acerto é maior ainda, fazendo de Schafer a força motriz desse episódio.


Euphoria; F*ck Anyone Who’s Not A Sea Blob
é mais um ótimo capítulo de uma das mais relevantes sagas adolescentes da atualidade. Como de praxe na série, cai no melodrama, mas consegue equilibrar seus dilemas com louvor, além de, claro, apresentar um trabalho técnico de primeira, com atenção aos detalhes e constante preocupação visual, exprimindo de maneira crível o que é a adolescência. E fica a lição de que a jornada para a vida adulta, de fato, não é fácil; é dura, caótica, confusa. E inevitável.

Direção: Sam Levinson

Duração: 49 minutos

Elenco: Hunter Schafer, Zendaya, Lauren Weedman, John Ales, Pell James
Sinopse: Em sua primeira sessão de terapia, Jules reflete sua vida, os eventos do ano passado, seu relacionamento com Rue e o que o futuro lhe reserva.
Trailer: 


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