Análise de O Sexto Sentido (1999, de M. Night Shyamalan)


Em uma crítica anterior, mencionei que de tempos em tempos revejo filmes dos quais gosto e não gosto, e O Sexto Sentido tem sido uma paixão, por assim dizer, desde meus 10 anos de idade. Um filme que acrescenta ao telespectador uma viagem em tela, onde os mínimos detalhes fazem toda a diferença. Sinto um leve arrepio quando falo sobre, já que, por muitos, o filme é considerado um terror, mas para os mais observadores, diria que o filme é de uma sensibilidade absurda, e é isso em que devemos nos apegar ao assisti-lo. Vem comigo nessa análise que vai te fazer ver o filme com outros olhos.

Hoje em dia, sempre que vejo um filme dirigido por M. Night Shyamalan, já espero uma grande surpresa, mas no começo da minha vida cinéfila, nem de longe eu saberia o que me esperava nesse filme. Você pode não ligar o nome à pessoa, mas com certeza conhece seus filmes, como Corpo Fechado, Fragmentado e Vidro. Claro que nem todos os filmes fizeram tanto sucesso com o público, mas, mesmo podendo parecer redundante, O Sexto Sentido é meu preferido de longe.

 

 
O roteiro, que também é assinado por M. Night, nos faz ficar íntimos dos personagens de Bruce Willis e Haley Joel Osment. A química entre os dois é algo que notamos nos primeiros minutos de cena, assim como o amor do Dr. Malcolm Crowe por sua esposa e seu orgulho pela sua profissão, psicólogo infantil.

O filme é uma bela teia de aranha, montada para pegar o telespectador e nos fazer ficar intrigados e curiosos sobre o desenrolar da história. Como eu disse em um primeiro momento, tudo no filme nos remete a outros fatos que, posteriormente, nos faz entender e ligar os pontos dessa grande teia que o Sr. M. Night Shyamalan nos envolve.


Como é uma análise, não posso fugir de spoilers. Caso você queira ver o filme sem minha interferência na narrativa, pare de ler por aqui!

Eu começaria dizendo que somos tão manipulados pela narrativa do filme que deixamos muitas coisas passarem a olhos nus, estavam ali o tempo todo, e simplesmente não somos capazes de notar. Vincent Grey (Donnie Wahlberg) é a primeira peça desse quebra-cabeça, e diria que, graças a ele, Cole (Haley Joel Osment) recebe a atenção necessária do Dr. Crowe, afinal, nada é coincidência.

Crowe (Bruce Willis) quer se redimir por, ao seu ver, não ter sido um bom médico com Vincent, então ele vai atrás de um substituto e encontra Cole, um garoto meigo que sofre em silêncio e aparentemente tem muito mais a lidar do que qualquer outra criança de 9 anos. 

 


De fato, o filme me faz lembrar de Ilha do Medo, onde tudo está nas entrelinhas – se ao menos pudéssemos observar com mais atenção. Sim, Dr. Crowe está morto e acredito que foi o maior plot twist da minha época, mas se notarmos, sempre que alguém vai conversar com Cole e essa pessoa está viva, nunca há cores discrepantes no cenário. A fotografia do filme é mórbida e fria, dando uma sensação de estranheza e mal estar, como se algo sempre fosse aparecer por trás da porta ou quando a câmera muda de direção, porém, quando reparamos que ele foi confrontado por um espírito, sempre há algo em vermelho em cena, sempre!

Claro que agora sabemos que ele estava falando com mortos, mas a primeira cena de Willis é seguindo Cole até uma igreja onde a porta é vermelha. Podemos notar também que sempre que eles estão juntos conversando, nunca tem ninguém perto, ou, se tiver, não dão atenção ao adulto, somente à criança, outro sinal de que ele não estava realmente ali.

 


Mesmo quando ele está sentado em frente à mãe de Cole, Lynn (Toni Collette), em nenhum momento ela dirige o olhar ou conversa com ele, somente com o filho. Quando Crowe vai à sua casa e tenta trabalhar no caso, há sempre um distanciamento com sua esposa, e se notarmos mais a fundo, ela sempre está sozinha na mesa de jantar do restaurante, de sua casa e do serviço, nunca menciona o marido e vive assistindo à filmagem do casamento, o que não é normal para alguém que ama o marido como apresentado no começo do filme; mesmo após o atentado, ela jamais o largaria.

Agora que esclarecemos alguns pontos, vamos ao filme em si.

Sempre temos medo do que não conhecemos, é o que nos mantém vivos. Mas isso vai muito além para Cole, que vive sendo perturbado por criaturas que já morreram – podemos chamá-las de fantasmas, apesar de eu particularmente não gostar dessa expressão, mas é como a maioria conhece. 

 


Em diversas religiões, a vida após a morte é uma certeza clara de que a vida continua. No filme, temos uma breve visão do que seria o “outro lado”; no caso, tais espíritos voltam para resolver algo ou terminar alguma coisa que deixaram inacabadas antes de morrer. Assim como Crowe, que se sentia culpado por Vincent, muitos outros seres vinham até Cole, mas seu medo era muito maior do que a vontade de se comunicar, afinal, o desconhecido é algo que assusta, ainda mais quando se tem 9 anos de idade.

Graças ao tratamento, Cole foi capaz de superar seus medos e ajudar enfim essas almas que o cercavam e, ao mesmo tempo, percebemos que ele e Vincent passaram pelas mesmas coisas, logo, ser escolhido para o tratamento não foi em vão. Talvez o inconsciente do Dr. Crowe soubesse desde o princípio ou a sua morte foi necessária para fazer com que ele acreditasse de fato no seu antigo paciente.

“Eles não sabem que estão mortos, só veem o que querem enxergar.”

 
A conversa de Cole com Crowe no hospital era a cartada final para a ficha cair. Afinal, ele disse tudo o que Crowe era e não era capaz de ver, assim como nós. Não estamos falando de um filme de terror, estamos trabalhando um suspense muito bem produzido, onde somos imersos na profundidade das relações dos personagens, dos medos que nos movem e como somos capazes de lidar com o fim, se é que ele realmente existe. A trilha sonora é muito bem ponderada nesse intuito de nos fazer sentir o que os personagens estão pensando no momento, seja medo, incerteza ou alívio. 
 
Acredito que, depois de aceitar seu dom, Cole percebe que quem o ajudou era também um fantasma, já que em sua última cena juntos, ele se despede de Crowe sabendo que não o veria mais.

Por fim, eu diria que o filme é uma viagem perceptiva. Somos carregados de sensações a todo momento, seja visual, auditiva e, por que não, emotiva. Acrescento ainda que são poucas as falas para um filme de quase 2 horas, o que me faz ter mais convicção do que estou dizendo quando digo que esse é um dos melhores filmes que eu já tive o prazer de assistir.

Título Original: The Sixth Sense

Direção: M. Night Shyamalan

Duração: 107 minutos

Elenco: Bruce Willis, Haley Joel Osment, Toni Collette, Olivia Williams, Trevor
Morgan, Donnie Wahlberg, Peter Anthony Tambakis, Jeffrey Zubernis, Bruce
Norris
 
Sinopse: Um garoto vê o espírito de pessoas mortas à sua volta. Um dia, ele
conta o segredo ao psicólogo Malcolm Crowe, que tenta ajudá-lo a
descobrir o que está por trás dos distúrbios. A pesquisa de Crowe sobre
os poderes do garoto causa consequências inesperadas a ambos.
 
TRAILER:   

 Espero que vocês tenham gostado!

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