Três Verões – O novo filme de Sandra Kogut retrata o “Jeitinho Brasileiro”



Filme estreia no Telecine Play dia 16 de Setembro!


Confira nossa entrevista na coletiva de imprensa!

Três Verões é o novo longa-metragem de Sandra Kogut, a renomada cineasta brasileira da qual temos que nos orgulhar! O filme foi para diversos festivais de cinema, inclusive festivais internacionais como o famoso TIFF, que acontece em Toronto.

No filme, Regina Casé interpreta a caseira Madá, que toma conta de uma mansão de veraneio para seus patrões, que só aparecem entre o Natal e o Ano-Novo, quando dão festas homéricas. 

Madá, apelido para Madalena, se encontra entre dois mundos. Ela está acima dos demais empregados e funcionários, aos quais dá ordens e comandos. Mas ainda assim está abaixo de seus patrões. 

Durante o filme todo há uma questão em grande evidência: o dinheiro. As pessoas sempre estão falando nele. Há o desespero para consegui-lo, ou a ganância, quando a pessoa já o possui, mas não se sacia, quer sempre mais. Sandra Kogut tece todo um discurso anti-neoliberal e faz sua crítica. 

Entre pontos negativos que considerei do filme, estão: os planos são predominantemente fechados, pelo menos no início do filme, e isto muitas vezes confere o problema de não entendermos o que está acontecendo ou onde está se passando a ação. Por exemplo, certa vez alguém aponta para algum objeto, ou oferece alguma coisa, mas esta coisa não é mostrada. A edição não se utiliza de planos e contra-planos, e isso dificulta o entendimento de certas ações muitas vezes. Anna Muylaerte, outra renomada diretora, do aclamado Que Horas Ela Volta, também não usa planos e contraplanos, mas sua decupagem é composta por planos abertos e estáveis, que deixam toda a ação clara. 

Eu particularmente achei o início muito escrachado. A sequência inicial do filme é marcada por uma grande comemoração de fim de ano, mas a figuração não me convenceu muito. Achei exagerada. 


O início que poderia servir para aprofundarmos em personagens que depois não mais irão aparecer, acabou se tornando uma coisa arrastada e redundante de Edgar, o patrão, recebendo várias ligações sem fim, de seus comparsas de crime. Fica cansativo e manjado. Já entendemos o que está acontecendo. Todo o tempo perdido nessa redundância seria melhor aproveitado se utilizado para aprofundar nessas personagens ricas, ao invés de simplesmente apresentar seu modo de vida. 
O filme se divide entre planos de transição arrastados e estáticos, e um enredo que se apoia 90% nas piadinhas que Madá solta ao longo do filme todo. Não me entenda mal, você vai rir bastante e ainda assim entender a crítica que o filme propõe, que é de fato muito boa; e apesar das piadas serem ótimas, o filme não contém um enredo de coisas novas. Apesar de ter só cerca de uma hora e meia, para mim chegou um momento em que simplesmente ficou arrastado. Não tínhamos dados novos, acontecimentos diferentes. 

Quem conhece o trabalho de Sandra Kogut, sabe de seu fraco pelo estilo documental, então o filme tem muito desses aspectos como, por exemplo, câmera na mão. 70% do filme eu diria que é câmera na mão e planos geralmente fechados. Quando ela se arrisca com planos estáticos, ou seja, feitos em tripé, grande parte fica bonita, mas honestamente, não achei que foi um filme extremamente estético. Acho que ele não conquistou o público pelas escolhas de decupagem, que não são um destaque visual em nada, mas sim pelo conteúdo e pela crítica do filme, que faz ser um longa bem atual, principalmente para os brasileiros. 

Se você, assim como eu, esperava um filme com bastante “movimento”, deixe de lado essa expectativa. O trailer enganou muito. Não é a primeira vez que assisto um longa que não tem o mesmo ritmo prometido no trailer. Nele temos a promessa de um enredo divertido, polêmico, crítico, e que fica um pouquinho mais para o lado “pop” do que “cult”. Na verdade a história é bem mais lenta do que como é vendida no trailer, mas, de fato, não é um filme nem cult e nem “pop”, o que é bom, porque no Brasil dificilmente temos filmes com este equilíbrio. Nem os curta-metragens têm esse equilíbrio. 



Particularmente é o plano que mais gosto do filme.

Enquanto Sandra e os atores disseram em entrevistas que pretendiam dar profundidade aos personagens para que o filme não se tornasse uma ficção maniqueísta, eu discordo, pois poucos personagens foram, de fato, profundos (ou aprofundados). Com certeza Madá foi uma dessas mais aprofundadas, bem como o senhor idoso, interpretado por Rogério Fróes. 


Os demais não, na minha opinião. Até porque, apesar do início do filme se arrastar sobre um evento familiar dos ricos donos da casa beira-mar, não temos tantos detalhes sobre suas vidas. Acabamos conhecendo-os superficialmente, e eu pelo menos não tive simpatia e nem empatia por nenhum deles até porque não dão motivos para tal, principalmente a patroa, Dona Marta, que ganha apenas um centímetro de profundidade quando se emociona ao pensar que seu filho de 20 anos vai sair de casa/morar fora. Mas a família magnata logo some do filme. E aí realmente não tem mais como ter qualquer contato que mudasse esta interpretação sobre a sua falta de personalidade/profundidade. 


E além do mais, no final do filme, não é explicado o que houve com a patroa Mart e seu filho Luca. É mostrada uma foto deles nos Estados Unidos, mas eles simplesmente fugiram do país e largaram o pai preso? E mais: largaram o avô na casa de praia? Desculpe, mas ficou muito jogado esse enredo. Sem sentido, até. 




O ponto mais arrastado e desnecessário é quando uma equipe de filmagem aluga a casa para gravar um comercial. A cena poderia ser reduzida em mais de 15 minutos, com certeza. É uma sequência cansativa que realmente só ganha grande importância com o monólogo de Regina Casé. Antes disso, porém, não sei porque Sandra nos obriga a ver como funciona um set de filme publicitário. Não que eu não goste, mas qual é a relevância disso para a história? É mero capricho da diretora de querer criar mais uma camada documental e, aliás, metalinguística. Não sei, me parece que ela quis acrescentar tanta coisa na tentativa de inovar, mas virou uma salada mista, lenta, cansativa e isso não acrescentou em nada no enredo. 
O fato de depois Madá começar a comercializar as coisas da casa, nos faz ficar surpresos com ela e esta atitude. É compreensível que ela precise de uma renda, já que os patrões não pagaram ela e nem a ninguém da casa e simplesmente sumiram do mapa. O pai da família, Edgar, preso; e mãe e filho desapareceram. Além do mais, todas as obras que tinham dinheiro do patrão envolvido, foram embargadas. Dentre elas estava o quiosque de Madá, que era seu sonho, e que ela conseguiu pedindo um adiantamento para o patrão. Infelizmente ela sofreu as consequências e teve seu quiosque embargado também. 


Portanto é compreensível que ela precise de uma renda de algum lugar e ache justo vender as coisas dos patrões que não lhe foram nada gentis, mas como no momento em que nos é mostrado isso não há trilha sonora, eu particularmente senti um baque. Para mim foi uma surpresa ela tomar essa atitude. Se houvesse uma trilha animada, que tem muitas vezes no filme, acho que teríamos mais empatia e simpatia por esta atitude. De qualquer forma, o filme trata do “jeitinho brasileiro”, e de fato isso foi retratado por parte dos patrões e dos empregados. 

Dos pontos altos que o filme tem, ele não mostra necessariamente o Brasil ensolarado, geralmente retratado nas produções nacionais (pelo menos os que não se passam na grande São Paulo). Sandra Kogut disse que tiveram muitas chuvas durante as gravações, mas ao meu ver elas caíram como uma luva. A equipe soube usar muito bem isso no filme porque, ao meu ver, a chuva faz total parte do conceito, que me parece ser o de um momento sombrio no Brasil. Um país que sofre com um dilúvio de corrupção e uma enxurrada de coisas antes varridas para debaixo do tapete. 


A atuação, claro, é algo que precisamos ressaltar, pois de fato é impecável. Regina Casé atingiu seu auge com esse filme, com certeza! Há certa cena em que ela se abre e conta sobre seu passado. E ela, que já era o personagem mais profundo e bem desenvolvido da história, ganha ainda mais dimensão. Com certeza essa foi a cena que lhe conferiu destaque e prêmios em festivais de cinema. Imperdível e emocionante!







Título Original: Três Verões

Direção: Sandra Kogut

Duração: 94 minutos

Elenco: Regina Casé, Jéssica Ellen, Daniel Rangel, Rogério Fróes, Gisele Fróes, Otávio Muller (…) 

Sinopse: Madá é a caseira de uma mansão à beira-mar. Seus patrões só vão para lá entre Natal e Ano Novo, quando dão festas homéricas. No entanto, ao longo de três anos essa realidade muda. Edgar, o patrão, é preso, e isso faz a vida de todos virar de ponta cabeça. Agora Madá terá que usar seu “jeitinho brasileiro” para sobreviver. 

Trailer:




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