Crítica: Espírito de Família (2020, de Éric Besnard)



De modo raro e quase sempre certeiro, distribuidoras audiovisuais driblam o número de pôsteres tradicionalmente estado-unidenses que ocupam as salas de cinema. De certo que é preciso, também, desmistificar a experiência em ver um filme de língua não inglesa. 


Sobretudo o cinema francês, berço da montagem de Truffaut e de Godard, realiza anualmente um leque de filmes que variam em gênero e estilo. No Brasil, a experiência do cinema francês acontece por meio de distribuidoras como a A2 Filmes e pelo Festival Varilux, tradicional festival de cinema francófono que proporcionou, em sua recente programação online, o melhor do drama e, também, do pastiche.


O longa-metragem Espírito de Famíliadirigido pelo versátil Éric Besnard, oscila comédia e drama em uma narrativa familiar, afetiva e modesta. Na trama, o escritor Alexandre (Guillaume de Tonquédec) vive um grande sucesso profissional, obtido a partir de uma vida que lhe custou a distância entre seu pai e seu filho. 



Após uma morte repentina, o fantasma de seu pai, um renomado fotógrafo que também justificava trabalho e ausência, aparece para Alexandre. No cenário bucólico e em um grande casarão no campo, a complicada, cômica e inusitada companhia do pai o faz mediar o sentimento de perda, que paira sobre toda a família. 


Como em uma boa crônica familiar, o espectador se vê amparado no elo familiar que faz jus ao nome do filme, em um processo onde luto e aprendizado são apresentados de diversas formas: na manifestação da raiva, na terapia e na busca pela reconstrução do elo familiar. 



De modo geral, o filme funciona com planos internos, executados no casarão que experimenta, também, o luto. O modo como a casa é percebida pela família conduz a estratégia da dor: a matriarca da família, interpretada pela veterana Josiane Balasko, pretende vender os móveis e os filhos, que compõem lados opostos de vida, se unem para impedir que a memória se perca. 

A premissa é bem executada mas, esteticamente, apela para o pieguismo. O diretor e roteirista Éric Besnard realiza uma obra leve que, o entanto, incomoda pelo excesso. O sentimento exposto na mise-en-scène desenha uma narrativa excessivamente sensível, que abre poucas brechas para o desassossego do espectador.  

Por fim, parece haver pouco cuidado no hibridismo entre o drama e a comédia, de modo que a condução do filme distancia a experiência do espectador da gargalhada e da lágrima. De todo modo, a leveza e a mensagem sobre a ressignificação do elo amoroso faz com que Espírito de Família proponha uma experiência agradável para a família: um convite para assistir em um domingo, desses de sofá cheio.



Título Original: Esprit de Famille

Direção: Éric Besnard


Duração: 98 min. 

Elenco: Guillaume de Tonquédec, François Berléand, Josiane Balasko, Isabelle Carré, Jérémy Lopez, Marie-Julie Baup

Sinopse: Um escritor deve enfrentar a morte repentina de seu pai, mas, após o enterro, o espírito do falecido aparece para o filho. Agora, o rapaz terá que aprender a conviver com essa inusitada e complicada companhia e será difícil explicar a situação para sua família, já que ele é o único que pode vê-lo. Essa presença perturbadora criará um terremoto na família.

Trailer:





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