Crítica: Yes, God, Yes (2020, de Karen Maine)


Trabalhando na esquemática retórica de “perversidade” versus religião, Yes, God, Yes é o primeiro longa da diretora e roteirista Karen Maine, a qual já devemos ficar de olho nos próximos trabalhos. Isso porque a cineasta consegue com maestria trazer para o debate dogmas e crenças que até hoje são polêmicos, dogmas esses que devem sim ser questionados vide o seu preconceito enraizado. Pararelo a sua temática, a outra camada do roteiro de Maine foca no desenvolvimento de um singelo Coming of Age, algo que por si só já está mais que desgastado em Hollywood, porém que funciona perfeitamente aqui. Unido à direção delicada e o cuidado estético, Yes, God, Yes se revela como uma das estreias mais interessantes do escasso 2020. 


Alice (Natalia Dyer) é uma jovem que estuda em um colégio cristão. Infelizmente, ela vive coagida pela culpa católica e, constantemente, duvida de sua própria moral pelas coisas que faz, sente e deseja, em relação a sua sexualidade e seu jeito de ser. Um dia, no entanto, a adolescente decide entrar num chat online a fim de explorar mais do território sexual e, a partir de então, sua busca pelo autoconhecimento começa. Agora, Alice terá que conviver com as mudanças em seu corpo e sua relação com o catolicismo, conservadorismo e com o julgamento do colegial. 


Em todas as questões que apresenta, a fita dialoga bem com os conflitos da geração millennial, o que torna para nós, que crescemos no século XXI, um laço quase que imediato com a protagonista. Mas, para além disso, é preciso ressaltar que mesmo tratando de problemas pertinentes à época, Alice é uma personagem tímida, e que quase nunca fala, o que em tese a tornaria difícil de decifrar. Porém, é graças à brilhante atuação de Natalia Dyer, a Nancy de Stranger Things, que conseguimos monossilabicamente entender cada gesto, pensamento e indagações que surgem em sua cabeça. Parece que, ao contrário do que acontece na série da Netflix, a atriz pôde criar aqui uma personagem mais palpável, honesta, e, ainda que única, tão relacionável à sua audiência. 

Em contrapartida, nenhum outro ator tem seu momento de brilhar. Mas isso é plenamente justificável, pois Alice é interessante o suficiente para sustentar a curta duração do filme sozinha. E aliada à grande protagonista, há a decupagem cuidadosa da direção de Maine, contando com uma cinematografia minuciosa que nunca se deixa abalar pelo baixo orçamento e faz o possível com o que tem. Além disso, a ambientação focada no início dos anos 2000 também confere um ponto extra, uma vez que seu charme reside nos seus pequenos detalhes, como os computadores antigos, vestimentas da época e celulares de flip, sempre dispersos de maneira sutil e agradável entre os cenários. O elo mais fraco reside no final da fita, o qual, apesar de ter um bom encerramento, apela para algumas soluções um tanto expositivas. Mas nada que atropele a experiência com a obra, capaz de manter a sua força até o rolar dos créditos. 
Sendo um projeto pessoal e sincero de Maine, Yes, God, Yes é mais uma excelente incursão do cinema independente em 2020, que já conta com nomes como Palm Springs, Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre, O Poço e A Vastidão da Noite. Enquanto os cinemas fecham e os grandes blockbusters penam para conseguir uma estreia, é justo que o grande público descubra pérolas como esta, na qual a diretora, que desenvolveu o curta de mesmo nome em 2017, pontua suas opiniões e vivências próprias com muita dedicação para com a obra. Com script afiado e uma grande atuação, não seria nada ousado dizer que o ano pertence ao cinema underground. 

Direção: Karen Maine

Duração: 78 minutos

Elenco: Natalia Dyer, Alisha Boe, Francesca Reale, Timothy Simons, Donna Lynne Champlin, Wolfgang Novogratz

SinopseAlice (Natalia Dyer) é uma jovem que estuda em um colégio cristão. Infelizmente, ela vive coagida pela culpa católica e, constantemente, duvida de sua própria moral pelas coisas que faz, sente e deseja, em relação a sua sexualidade e seu jeito de ser. Um dia, no entanto, a adolescente decide entrar num chat online a fim de explorar mais do território sexual e, a partir de então, sua busca pelo autoconhecimento começa. Agora, Alice terá que conviver com as mudanças em seu corpo e sua relação com o catolicismo, conservadorismo e com o julgamento do colegial. 
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