Crítica: Kaguya-sama: Love is War (2019, de Mamoru Hatakeyama)

Kaguya-sama: Love is War chegou até mim como um “Death Note do amor”, isso porque o anime consiste em uma guerra amorosa através de jogos psicológicos – mas as semelhanças entre os animes param por aí. Ao contrário de Death Note, que tem um tom mais sério e imersivo, Kaguya-sama é leve e descontraído, com altos tons de bizarrice, mas nada espetacular que te faça pensar que esse é o anime do século.
Baseado na série de mangás Kaguya-sama wa Kokurasetai: Tensai-tachi no Renai Zunousen, de Aka Akasaka, o anime foi produzido pelo A-1 Pictures e dirigido por Mamoru Hatakeyama. No Crunchyroll Anime Awards 2020, levou os prêmios de Melhor Casal, Melhor Comédia e Melhor Encerramento, e seu sucesso não para por aí. Desde que foi lançado, em janeiro de 2019, a série tem conquistado cada vez mais fãs. Geralmente, os animes que fazem sucesso são aqueles com lutas, guerras, aventuras e pessoas com poderes extraordinários, e não há nada disso em Kaguya-sama. Qual seria, então, o segredo de seu triunfo? Ou estariam todos fascinados demais por algo que não é tudo isso?
Logo na abertura, vemos as personagens principais se armando para o que estão prestes a enfrentar, mas todas as armas funcionam como uma metáfora, já que não há uma guerra literal, somente psicológica. A música, Love Dramatic, de Masayuki Suzuki, não me pegou de primeira, porém comecei a gostar dela com o passar dos episódios. Não é o tipo de canção que faz você se apaixonar por ela e colocar no repeat, mas também não é chata; está na medida certa e combina muito com o tom do anime.

Em Kaguya-sama: Love is War, acompanhamos o dia a dia do Conselho Estudantil da Academia Shuchi’in – cujos conselheiros parecem fazer tudo, menos estudar ou aconselhar os estudantes em assuntos relacionados à escola. Liderado por Miyuki Shirogane, o Conselho também conta com a vice-presidente Kaguya Shinomiya, que dá nome à história, Chika Fujiwara, presente na maioria das cenas, e Yū Ishigami, que aparece de vez em quando só para renovar o medo que tem de Kaguya. E, no meio disso, Kaguya e Shirogane se apaixonam, só há um problema: eles não querem se declarar.
Na visão do par romântico, no jogo do amor sempre há o dominador e quem é dominado, e nenhum dos dois quer ficar na segunda posição, portanto o objetivo deles é fazer um se declarar para o outro. Contudo, mesmo sabendo de seus próprios sentimentos, eles não têm completa certeza de que o outro está realmente apaixonado, o que torna ainda mais difícil fazer algum deles se declarar, por mais que suas estratégias sejam muito bem arquitetadas.
Algo bem interessante em Kaguya-sama é que, ao mesmo tempo em que ele funciona como uma sátira às comédias românticas tradicionais, ele também traz certa realidade a respeito do amor na adolescência: a dúvida, a oscilação de sentimentos, o achar que em um momento a pessoa está apaixonada por você e, no outro, não… E a parte divertida, às vezes um pouco bizarra demais, é a forma como esses adolescentes ricos lidam com isso.

“Mas então romance é a única coisa que move a história?”, você me pergunta. E a resposta é: sim! Nada mais acontece. O foco da narrativa é o romance, a amizade e o romance outra vez, mas ao mesmo tempo não tem romance algum acontecendo na prática, já que eles não estão juntos. Em cada episódio, somos apresentados a três “batalhas” diferentes, e em cada uma delas há um vencedor, mas eles não ganham coisa alguma com isso. É um ponto negativo? De forma alguma; aliás, tudo isso tornou, para mim, o anime mais fácil de assistir. Embora “nada” aconteça e alguns episódios pareçam ter o mesmo enredo com soluções diferentes, é muito rápido de assistir e a história não se arrasta. O ápice da primeira temporada se dá por volta de sua metade e, a partir daí, se você não gostou, já abandonou, e se você achou legalzinho, vai usá-lo como alívio naqueles dias em que está sem paciência para nada.
Além das personagens principais, que se enrolam o tempo todo em suas ideias mirabolantes, uma personagem de destaque é Fujiwara. Por mais que seja secundária, ela é muito engraçada, espontânea e amável, diferente de Kaguya. Sem a sua presença, o anime não seria a mesma coisa, até porque muitas vezes ela intervém nas guerras silenciosas de Kaguya e Shirogane, seja para ajudar, atrapalhar ou fazê-los pararem de brigar.
Um diferencial que eu estranhei bastante nos primeiros episódios foi a presença de um narrador-onisciente que faz tudo parecer um jogo mesmo. Ele conta partes da história, narra as estratégias e dá o resultado final de cada partida. Provavelmente, ele é o responsável por parte da singularidade da trama, mas para alguns pode ser um pouco difícil de acostumar.

Talvez, o motivo pelo qual eu não fiquei tão imersa em Kaguya-sama logo de cara foi o fato de eu tê-lo levado muito a sério quando, na verdade, ele não é assim. Toda essa história de guerra psicológica e comparação com Death Note faz parecer que Kaguya-sama é sério, quando na verdade não se passa de uma boa comédia romântica sem pé nem cabeça que parece até tirar sarro de si mesma – e, consequentemente, de todas as comédias românticas que enrolam, enrolam e enrolam até os protagonistas ficarem juntos no final. E o final da primeira temporada é bem interessante, deixando a tiração de sarro de lado para se tornar um pouco mais fofinho.
O lado negativo que achei nesse anime foi bem pontual, e apesar de eu poder deixar de lado e concluir a crítica, acho importante expor. Não é um problema Kaguya-sama ser um tanto quanto doentio ao mostrar o amor como um jogo, mas a forma como ele se utiliza desses artifícios em algumas cenas pode ser bem problemático. Em uma sequência de episódios, Kaguya pega uma gripe e Shirogane decide visitá-la. Nesse dia, a garota havia tomado um remédio e estava um tanto quanto grogue, e a empregada de Kaguya, Hayasaka, ao invés de fazer literalmente qualquer outra coisa, diz com todas as palavras que permitira que Shirogane ficasse sozinho no quarto com Kaguya, e que ele não deveria abusar demais e nem fazer nada de absurdo com ela, mas que, se o fizesse, ninguém saberia. Eles teriam três horas.

Como se isso não fosse absurdo o suficiente, na hora em que ele entra no quarto, Kaguya o chama para se deitar com ela, e eles acabam adormecendo. Quando ela acorda, já normal, não sabe o que houve para o garoto estar ali e o manda embora aos gritos. Assim que ele vai, ela e Hayasaka analisam o lençol para ver se ele não fez nada com ela, e tudo isso é levado em um tom de humor. Ou seja, eles usam estupro como alívio cômico. Para mim, isso não é nada além de podre, e olhando pela internet, me pergunto se o problema sou eu, uma vez que todos parecem ter achado divertido e até mesmo romântico.
E não para por aí. No episódio seguinte, a história de eles terem dormido juntos se prolonga: Kaguya simplesmente romantiza o que aconteceu e também o que não aconteceu. Ao mesmo tempo em que ela diz que ele não deveria ter feito nada com ela, diz que queria que ele tivesse feito algo. Ela basicamente falou, “queria que ele tivesse abusado de mim sexualmente enquanto eu estava dormindo, afinal, eu gosto dele, é claro que eu quero que ele me toque”. Mas isso não faz o menor sentido! Ninguém quer ser abusado sexualmente, e a normalização desse tipo de pensamento é doentia. Ninguém quer ser estuprado, não importa o quanto você goste da pessoa – e se você gosta, e se você quer, isso não é estupro, mas você precisa dar o consentimento de alguma forma, e ali não havia consentimento algum. Ninguém deseja ter seu corpo violado, tocado sem permissão, porque as pessoas que já o tiveram sabem qual é a sensação, e é horrível. Shirogane fez o mínimo, que era não abusar de Kaguya, para ela me vir com um “queria que ele tivesse feito algo” só para provar um ponto?! Isso é o cúmulo do absurdo, e aí fica claro que quem escreveu isso não foi uma mulher.

Depois desses episódios, que se passam pouco após a metade da temporada, admito que fiquei tão chocada que, por um momento, perdi interesse nos episódios seguintes. É como em Gatinhas e Gatões, que as pessoas passam pano como se fosse um filme bom e não tivesse uma insinuação de estupro óbvia, isso para dizer o mínimo. E antes que qualquer um diga, não estou fazendo uma pregação feminista do politicamente correto, estou colocando a mão na consciência para pensar que, por mais que duas pessoas estejam atraídas uma pela outra, ninguém deseja ter seu corpo tocado sem a sua permissão. E, sobretudo, estou incentivando a olharmos para filmes e animes como esses e, por mais que nós tenhamos gostado, entendermos o que há de errado neles, porque querendo ou não, a arte é tanto um retrato da realidade quanto um incentivo ao que ela pode ser, e nós precisamos ser conscientes. O nome disso é caráter.
Sendo assim, por mais que eu tenha adorado Kaguya-sama: Love is War, vejo que ele também tem seus problemas. O aparente fascínio pela trama me parece um pouco exagerado, contudo é bom o bastante para seu sucesso ser justificado pelos amantes de romance água com açúcar como eu. Longe de ser perfeito, pode ser uma escolha divertida para quem procura uma comédia romântica bizarra e fácil de assistir, com estratégias loucas que amedrontariam até mesmo o mais experiente no jogo do amor. Afinal, quantas loucuras o amor pode te levar a fazer? Aceitar esse desafio é o primeiro passo para descobrir.
Título Original: Kaguya-sama wa Kokurasetai – Tensai-tachi no Renai Zunōsen
Direção: Mamoru Hatakeyama
Episódios: 12
Duração: 23 minutos
Elenco: Aoi Koga, Makoto Furukawa, Konomi Kohara, Ryōta Suzuki, Yumiri Hanamori, entre outros.
Sinopse: Shinomiya Kaguya e Miyuki Shirogane são membros do Concelho Estudantil da Academia Shuchi’in. Os dois sendo gênios entre os gênios. O tempo que eles passam juntos acabou fazendo com que se apaixonassem, mas o orgulho deles não vai permitir eles se confessem e se tornem submissos no relacionamento. Amor é guerra e a batalha deles para fazer o outro se confessar começa agora!
Trailer:
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2 thoughts on “Crítica: Kaguya-sama: Love is War (2019, de Mamoru Hatakeyama)”

  1. Meu Deus cancelem esse anime, está normalizando o estrupo no mundo, o que vai ter de Otaku brasileiro estuprador no Brasil não vai ser brincadeira, imagina esses mlks que já escutam Funk depois de assistir Kaguya Sama ninguém vai segurar a onda de crimes que essa fusão vai gerar.

  2. concordo,mt gente dizendo tipo "ah isso é só um anime",tipo,eu acho kaguya-sama diverto,engraçadinho e talz,mas essa parte me incomodou mt,n achei certo,nesse episódo em meio aos pensamentos do Miyuki,estavam querendo dizer que um homem não consegue se controlar,ou que é quase impossivel um homem se controlar,mas esse tipo de coisa n tem nd haver,afinal o homem é um animal racional prr,como que ele não pode se controlar?!ele poderia até ter ficado excitado,considerando que a menina que ele gostava estava o "convidando" para se deitar com ele,mas mesmo assim,o fato dele ter se deitado ao lado dela e tocado os labios dela é ridicúlo,pode até ser considerado assédio!,e fato da kaguya ter ficado tipo "queria q ele tivesse me tocado mais",é tão escroto quanto,pois então estaria tipo aqueles henta de estupro q é tipo,o cara chega na mina e estupra ela,e no começo ela reage normalmente sabe?fica desesperada e rejeita isso,mas n dps n da nem dois minutos,e começa a "amar" isso tlgd?no hentai a gente até releva,pq é um hentai mas po,kaguya-sama n tem nd haver com isso,e ai eles mandam essa,estão basicamente definindo as mulheres como safadas que não pensam,ngm,ABSOLUTAMENTE NGM SE SENTIRIA DESSE MODO,ngm quer ser assediado ou estuprado,nem msm por quem gosta,isso é ridiculo,desrrespeito total as mulheres,vitimas de estupro e até aos homens,que são comparados como criaturas que n pensam sendo tds assim possiveis assediadores e estupradores,mesmo que realmente muitos,talvez até a maioria sejam assim,um bando de safados,n é bom generalizar,pq apesar disso,por mais raro q seja,ainda existem homens respeitosos,enfim,resumindo,esse ep conseguiu estragar todo o anime
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