Crítica: A Cor que Caiu do Espaço (2019, de Richard Stanley)


Baseado no conto de H.P. Lovecraft, A Cor que Caiu do Espaço vem para reviver e revitalizar a obra de uns dos autores mais referenciados quando o assunto é terror. Na trama, uma família que vive isolada em uma fazenda na floresta passa a testemunhar estranhos e perigosos acontecimentos depois que um meteorito cai na propriedade.

Apesar de misturar inúmeros gêneros, como ficção científica e mistério, inclusive flertando às vezes com uma ironia bem saliente, A Cor que Caiu do Espaço se atém ao gênero do terror,  construindo uma atmosfera de dúvida e insanidade que tenta capturar, justamente, a famosa vibe do escritor estadunidense. Claro que é um feito admirável, como também complicado, pois além de exigir um talento razoável de quem assim quer transpassar os sentimentos de loucura e medo da literatura para o cinema, também há a gigantesca problemática de suprimir o racismo, machismo e xenofobia  presentes nas obras de Lovecraft (elementos gritantes, diga-se de passagem).


Dentro dessas evidentes dificuldades de adaptar a narrativa de um dos autores mais badalados do Século XX para a linguagem cinematográfica, o longa consegue fazer isso com certo sucesso, jogando a narrativa mais para a perspectiva da família do que para os relatos de Ward (Elliot Knight); deixando o protagonismo visual para o que cada membro da família passa e, consequentemente, isolando-os dentro do universo da fazenda. Isso ajuda, e muito, na sensação de claustrofobia em um lugar aberto (contradição proposital),  juntamente com a ideia de que faz o filme rodar: a loucura.

Pouco a pouco, percebemos que os personagens vão se transformando em coisas diferentes do que inicialmente conhecemos, corrompendo-se através da insanidade silenciosa de que algo viera com o o meteorito e mexeu com todo o ecossistema. É maravilhoso perceber que, aqui, conseguimos pegar a tal vibe , e a mesma sensação de mistério e elementos não explicados consegue ser equilibrada no ponto necessário, pois não há grandes revelações, apenas o fato de que estão cedendo à insanidade. E claro, a cor roxa/rosa, ridiculamente saturada, auxilia nessa questão, levando até quem assiste a questionar suas plenas faculdades mentais.

Porém, o fraco do filme está justamente no ponto em que mais é “fácil de bater”. O elenco que a primeiro momento parece escalado a dedo, tendo como referência atores que já trabalharam em projetos dos gêneros terror/suspense/crime anteriormente, funciona como um todo. Há um equilíbrio, mas nada saliente, na forma como o elenco trabalha e interage no universo fictício. O problema aqui é que todos tentam entregar, gradualmente, essa tão evocada loucura, com exceção de quem? Sim, estou falando no Nicolas Cage.

Pois é. Tenho a impressão que o sucesso de Mandy fez a produção de A Cor que Caiu do Espaço pensar que seria uma boa ideia deixar Cage solto para atuar como um personagem insano (o padrão do ator, diga-se de passagem). Porém, como parece óbvio, não funciona, dando tons de alívio cômico e um exagero de cena que, muitas vezes, não combina com toda a proposta.

A Cor que Caiu do Espaço é um filme interessante, com execuções que o colocam acima da média, chegando perto de alcançar a tão almejada sensação de terror e insanidade da obra original. O que peca é a tentativa frustrada de chamar um nome famoso e marcado pelo exagero para cobrir um papel que deveria ser irônico, não cômico. Ainda sim, razoável.




Título Original: Color Out of Space

Direção: Richard Stanley

Duração: 111 minutos

Elenco: Elliot Knight; Madeleine Arthur; Nicolas Cage; Julian Hilliard; Joely Richardson e Brandon Meyer

Sinopse: Os Gardners são uma família que se muda para uma fazenda remota na zona rural da Nova Inglaterra para escapar da agitação do século XXI. Eles estão ocupados se adaptando à sua nova vida quando um meteorito cai em seu terreno. O misterioso aerólito parece fundir-se com a terra, infectando tanto a natureza quanto as propriedades do espaço-tempo com uma estranha cor sobrenatural.

Trailer:
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