A Tradicional Família do Crime de Ozark (3° Temporada, 2020, de Bill Dubuque e Mark Williams)


Confira nossa crítica da 1° temporada aqui!


Ozark é uma série que vem crescendo aos poucos nos últimos anos. Sem o mesmo alcance de público que fenômenos da Netflix, como Stranger Things por exemplo, Ozark vem gradualmente ganhando seu público e respeito com a crítica, em uma construção narrativa que parece sempre evoluir de algo latente para acontecimentos mais pungentes. Mesmo que as comparações com a épica Breaking Bad sejam válidas – e isso é um enorme elogio – Ozark trilha seu próprio caminho de sucesso, com características e ritmo particulares.


Neste terceiro ciclo, continuamos a nos aventurar nas criminosas enroladas dessa família que lava dinheiro para cartéis, abre cassinos, dentre outras atitudes inescrupulosas. Porém, com duas primeiras temporadas que parecem ter preparado o terreno, por vezes de forma meio lenta, esta terceira parte entrega todo o potencial da trama até então. Com os personagens originais já pré-estabelecidos anteriormente, a trama aprofunda de vez da psique corrompida deles, retorcendo seus objetivos, personalidades e por vezes, atitudes. 




O time de roteiristas engenhosamente criticam política e socialmente várias facetas da típica família tradicional americana, que “só quer” (ênfase nas aspas) proteger os seus, criar os filhos, ganhar dinheiro e se envolver em projetos sociais. Obviamente não querem apenas isso. Eles anseiam por mais, a cobiça e a sede pelo poder os corrompe, mas isso vai ocorrendo aos poucos, às vezes de formas sutis, em uma trama muito bem escrita. Até as referências políticas e debates polêmicos típicos dos Estados Unidos (e Brasil também, ok?) ocorrem de forma menos expositiva, com uma escrita natural nos diálogos e atitudes das personagens. Nesses aspectos, a trama também lembra a inigualável The Sopranos.





Falando nos Sopranos, outra similaridade é o uso da terapeuta como mecanismo de debates do que é moralmente aceito ou não, recurso tremendamente utilizado na consagrada série da família mafiosa de Tony Soprano, mas que aqui nessa, tal recurso é usado de forma mais simples e como um meio para que marido e mulher batam de frente. Ora, mesmo eles fazendo terapia de casal, fica nítido como cada um tem sua própria ideia de como levar os “negócios” adiante. Com objetivos diferentes no mundo do crime, nós somos como a terapeuta, ficando pasmos ao assistir como funciona a mente dessas figuras. 


Dentre os diretores da trama, se encontra o próprio Jason Bateman, e todos episódios são muito bem conduzidos, por vezes com excelentes e improváveis ângulos de câmera – belos na estética cênica e fortes na construção narrativa. Vale ressaltar que este é o grande trabalho da vida de Bateman (comumente ligado à comédias), onde além de se revelar um diretor eficaz, tem uma atuação excelente, fria, contida, metódica. Ainda mais poderosa em cena, Laura Linney entrega o oposto de Bateman, explosiva e controladora, quando ela está em cena, o show é dela. 


A pouco lembrada Julia Garner é uma coadjuvante incrível, cheia de camadas, atriz e personagem brilham em cena. Junto de Laura Linney, Garner prova que o show é das mulheres, mesmo sendo inicialmente encabeçado por homens, elas e outras brilhantes e fortes personagens vão movendo peças e tomando o controle das situações e do mundo do crime. O novo personagem de Tom Pelphrey é uma potente adição à trama, trazendo um dos arcos mais emocionantes da série, lidando com saúde mental e decisões difíceis dentro de uma família problemática. Lembrado como um dos vilões da insossa Punhos de Ferro, aqui Tom Pelphrey entrega um ótimo desempenho ao lado de Julia Garner.


Com 10 episódios que ficam entre os 60 e 85 minutos cada, trama coesa e progressiva, um clima constantemente pesado e atmosférico, com trilha sonora tensa, fotografia azulada e fria, e uma condução de suspense e clímax muito bem elaborados, Ozark é uma pérola do catálogo do streaming da Netflix. Muito provavelmente é uma das grandes séries dramáticas da atualidade, que deve ser mais reconhecida e que caminha para um grande final. Modesta na popularidade, mas gigante na qualidade e nas críticas a que se propõe. Poucas coisas são tão aterradoras e complexas quanto as tradicionais famílias, cheias de segredos, crimes, preconceitos e atitudes egoístas. 


Direção: Alik Sakharov, Amanda Marsalis, Benjamin Semanoff, Cherien Dabis, Jason Bateman.

Episódios: 10

Duração: 60 minutos

Elenco: Jason Bateman, Laura Linney, Sofia Hublitz, Skylar Gaertner, Julia Garner, Jordana Spiro, Jason Butler Harner, Esai Morales, Peter Mullan, Lisa Emeryh, Tom Pelphrey.

Sinopse: Seis meses depois, o cassino já está em funcionamento, mas Marty e Wendy ainda lutam pelo controle do destino da família. Enquanto Marty tenta manter o status quo, Wendy planeja expandir os negócios. Mas a chegada do irmão dela na cidade acaba gerando um verdadeiro caos.

Trailer:

E você, já assistiu a Ozark? Que achou dessa nova temporada?

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