Crítica: Queen & Slim (2019, Melina Matsoukas)

A história americana é permeada pela brutalidade policial, tendo como prova disso centenas de casos em que a polícia estadunidense simplesmente mata indivíduos negros sem pensar duas vezes, demonstrando o reflexo claro do racismo sistemático que configura a vida dos afro-americanos. Assim como o Brasil, a construção social americana ainda é definida majoritariamente por raça, então a pigmentação da pele ainda é um fator relevante no dia a dia dos negros estadunidenses, estando sempre em alerta sobre seu próprio comportamento para evitar ser vítima de algum agente da lei racista.


É a partir deste contexto de violência que a diretora Melina Matsoukas, mais conhecida pelos seus trabalhos em videoclipes como o aclamado Formation de Beyoncé, e a roteirista Lena Waithe, ganhadora do emmy por Master of None, demonstram sua habilidade narrativa ao conduzir uma história brutal e inquietante sobre racismo. Mas ao mesmo tempo em que contextualiza esse panorama racial com maestria, o filme de Matsoukas acaba sendo em sua essência uma celebração do amor negro, exaltando o sentimento que seus protagonistas desenvolvem um pelo outro em meio a uma situação tão dolorosa.




Queen & Slim narra a trajetória de dois jovens negros que tem suas vidas interrompidas após um encontro desastroso com um policial racista que põe suas vidas em perigo. Depois de um confronto violento, Slim acaba atirando e matando o policial em legítima defesa, e os dois não veem outra saída além de fugir. O longa leva o telespectador numa jornada ao estilo de Thelma e Louise, torcendo para que nossos protagonistas consigam escapar de um destino árduo. A direção de Matsoukas capta perfeitamente o sentimento dramático do filme e o estado emocional de seus personagens principais, que são impossibilitados de parar e precisam estar em alerta o tempo inteiro. Além de uma construção narrativa instigante, as escolhas estéticas também auxiliam a conduzir a atmosfera do filme. Com uma fotografia escura e acinzentada que quase lembra uma polaroide, o filme passa um sentimento retro e nostálgico.


O roteiro de Waithe, embora falho em certos momentos com alguns diálogos mecânicos e afetados, constrói uma história de amor envolvente que se apoia quase que em uma narrativa fantástica. O enredo exige um certo nível de suspensão de descrença pela velocidade em que a conexão emocional dos protagonistas é dada, mas as atuações poderosas e competentes de Jodi Turner-Smith e Daniel Kaluuya compensam impondo veracidade a relação dos dois. A intenção de Waithe e Matsoukas é clara: enaltecer relacionamentos afrocentrados e apresentar ao público uma relação amorosa emocionalmente sincera entre duas pessoas negras. E as duas entregam o que prometem.


Queen & Slim é um retrato assustador do EUA de Donald Trump, cheia de tensão racial e racismo velado. O filme é inteligente ao usar esse contexto para narrar uma história de amor tão emocionante e envolvente. Um filme extremamente relevante para as discussões sobre raça contemporâneas.




Título Original:  Queen & Slim

Direção: Melina Matsoukas

Duração: 132 minutos

Elenco: Jodi Turner-Smith, Daniel Kaluuya, Bokeem Woodbine, Flea e Chloe Sevigny

Sinopse: Dois jovens são interceptados por um policial que os aborda de maneira racista. Para se defender de uma ataque, um deles acaba matando o policial e a partir daí os dois precisam fugir para evitar a prisão.

Trailer:


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