Crítica: Judy – Muito Além do Arco-Íris (2019, de Rupert Goold)

Nascida na década de 1920, Frances Ethel Gumm foi uma das principais estrelas da Era de Ouro de Hollywood. Filha de atores frustrados, Judy – como ficou conhecida – começou a se apresentar no teatro muito nova, aos dois anos e meio de idade, naquela época junto com suas duas irmãs mais velhas. Mas aos dezesseis anos ela conseguiu o papel que mudaria a sua vida para sempre.

Por sua atuação em O Mágico de Oz (1939), adaptação do livro homônimo de L. Frank Baum, Judy Garland começou a chamar muita atenção da mídia, principalmente por sua voz, que marcou para sempre a canção Over The Rainbow. Entre flashbacks que mostram a infância da atriz, em Judy: Muito Além do Arco-Íris nós acompanhamos sua última turnê antes de ela morrer aos 47 anos, em 1969, devido a uma overdose acidental por medicamentos.

Falida e sem ter como sustentar seus dois filhos mais novos, Judy se vê obrigada a fazer uma série de shows em Londres para tentar, talvez, recuperar a guarda das crianças, que ficaram com o pai delas nos Estados Unidos. Mesmo contrariada, ela decide aceitar a proposta, mas nem tudo é um mar de rosas, já que, quando chega lá, se mostra uma pessoa extremamente difícil de se trabalhar.
Durante sua infância, Judy foi submetida ao abuso de drogas tanto para se manter acordada nas intensas gravações de O Mágico de Oz quanto para dormir no horário “certo”. Além disso, ela também tomava comprimidos para não sentir fome e não podia comer quase nada. Ela não teve uma infância e  uma adolescência nem perto do normal, e teve seu psicológico muito abalado pelas pessoas com quem trabalhou de diversas maneiras possíveis. Todos esses exageros foram refletidos ao longo da vida da atriz.

Num geral, o filme peca muito em focar os flashbacks apenas no que dizia respeito a O Mágico de Oz, porque os que desconhecem a história de Judy Garland podem achar que ela foi apenas isso, e não um ícone da época. Apesar desse foco, Rupert Goold também não fez muita questão de deixar claro os abusos sexuais sofridos pela atriz mirim no set de filmagens, notícia que veio à tona em 2017, com a publicação da biografia Judy and I: My Life with Judy Garland (Judy e Eu: Minha Vida com Judy Garland, em tradução livre), escrita por Sid Luft, seu terceiro marido. Sendo assim, as pessoas que não têm pelo menos parte desse histórico da atriz em mente podem estranhar o filme, achar que certas cenas não fazem sentido por não saberem de quem se trata ou até mesmo não entender.

O destaque da obra é, com certeza, a atuação de Renée Zellweger, que está incrível como Judy. Sua maquiagem é impressionante, mas o que mais chama a atenção é a forma como ela entrou na personagem, desde as expressões faciais  e sua postura até o modo de falar e seu canto. Ela rouba a cena e, mesmo parecendo irritante uma hora ou outra, é quem carrega o filme. Por esse papel, Renée já recebeu diversos prêmios, dentre eles o SAG Award, o Critics Choice Award e o BIFA, e está cada vez mais próxima do Oscar.

A respeito das demais personagens, acompanhamos principalmente Rosalyn Wilder, assistente de Judy durante a turnê, e Mickey Deans, o último marido da cantora. Interpretada por Jessie Buckley (Chernobyl), Rosalyn segura as pontas nos momentos mais difíceis e tenta fazer com que tudo dê certo enquanto Judy está em Londres. A relação delas é bastante conturbada, isso porque Judy nunca segue as ordens de Rosalyn e esta precisa correr de um lado para o outro a fim de cumprir o seu trabalho. Finn Wittrock (American Horror Story) faz um ótimo papel de Mickey, conquistador e aproveitador, que só está com Judy por causa de seu sucesso, mas que no fundo não se importa.

A fotografia e o figurino são impecáveis, e se tornam ainda mais marcantes nas apresentações de Judy em Londres, com cores mais escuras e luzes mais concentradas, e nos flashbacks que remontam O Mágico de Oz, com cores mais vivas, que contrastam com o passado sombrio da garota. A montagem, embora bem-feita, não mostrou nada particularmente novo ou excepcional que faça com que ela chame atenção, é apenas um intercalar de informações para mostrar por que Judy tinha os problemas que ela tinha.

Judy: Muito Além do Arco-Íris pode ser visto como um filme feito especialmente para os fãs de Judy Garland. Por não fazer questão de se aprofundar muito no passado da atriz, ele pode se tornar confuso para os mais desavisados, e, portanto, pouco chamativo. Já para os que conhecem o seu trabalho e pelo menos um pouco de sua vida pessoal, o longa pode ser interessante e, no final, até mesmo emocionante.

A história de Judy é sobre uma mulher cuja vida foi destruída pela fama, e essa narrativa não é de hoje. Depressão, vício em drogas e tabloides fizeram parte da vida de muitas pessoas, e o final é sempre o mesmo. As mesmas pessoas que te colocam no topo são as que te destroem. A história de Judy é sobre uma mulher cuja vida foi destruída pelos homens que a molestaram, pela mãe que viu tudo e não se importou, pelos caras com quem ela casou e pelas drogas que ela usou – e também é, acima de tudo, sobre uma mulher com um talento incrível que encantou diversas gerações. 1h58 de filme não foram suficientes para compilar metade da grandeza que era Judy Garland, e nem um terço do que ela passou. Dessa forma, Judy se mostra um filme bom, principalmente para a carreira de Zellweger, mas, ao contrário do que diz o título em português, ele não foi tão além do arco-íris assim.

Título Original: Judy

Direção: Rupert Goold

Duração: 118 minutos

Elenco: Renée Zellweger, Darci Shaw, Jessie Buckley, Finn Wittrock, Rufus Sewell, Michael Gambon, Bella Ramsey, Royce Pierreson, John Dagleish, Gemma-Leah Devereux, Lewin Lloyd, Andy Nyman, Daniel Cerqueira, entre outros.

Sinopse: Inverno de 1968. Com a carreira em baixa, Judy Garland (Renée Zellweger) aceita estrelar uma turnê em Londres, por mais que tal trabalho a mantenha afastada dos filhos menores. Ao chegar ela enfrenta a solidão e os conhecidos problemas com álcool e remédios, compensando o que deu errado em sua vida pessoal com a dedicação no palco.

Trailer:
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