Crítica: I Am Not Okay With This (2020, Jonathan Entwistle e Christy Hall)


     Sydney Novak é a nossa personagem nesta nova série original da Netflix. Para aqueles que já viram o trailer, não é difícil notar que a série foi criada a partir de outras que são puro sucesso, portanto claramente se trata de uma tentativa de ser a próxima série bombástica da plataforma Netflix. E embora o investimento em roteiro e estética tenha se assemelhado a outras histórias, senti que na hora de investimento não foi tão profundo assim. A estética e os efeitos são todos impecáveis. As atuações, a fotografia, a arte, tudo é insanamemte bom. Mas sabe quando você sente que foi uma aposta calculada? Me dá a impressão de que foi investido para que visualmente a série se parecesse com demais sucessos, mas a história no geral na verdade é simples. Enredo simples. E tem poucos personagens. Os episódios duram 20 minutos cada. Eu maratonei numa tarde. Vale muito a pena, é verdade, mas acho que, se essa aposta der certo, como acho que vai dar, provável que haverá uma próxima temporada na qual será investido em mais personagens, em mais profundidade na história toda em si. 
     A personagem protagonista foi muito bem construída, já os demais se tornam um pouco rasos se comparados a ela. Não é só nessa série que vejo a Netflix querendo apostar de maneira receosa. Mas pelo menos os efeitos saíram bem feitos, e o roteiro não tem tantos furos como The Witcher tem. Acho que quando a plataforma se propõe a fazer uma série de fantasia, com pessoas que tenham poderes, deve fazer tudo com propriedade e qualidade. 











      A série claramente faz a clássica metáfora sobre a puberdade. Sydney é uma jovem de 17 anos que não se sente tão bem com sua aparência física e praticamente não se sente confortável com ninguém, nem consigo mesma. Isso é algo extremamente comum, principalmente na adolescência. São conflitos que todos sentem em menor ou maior grau. Esta não é a primeira série a tratar disso, mas acho que fizeram isso de maneira original. A série possui toda uma identidade visual única, apesar das claras referências que foram: Stranger Things, It, Sex Education, The End of the Fucking World, ET, Carrie – A Estranha, O Clube dos Cincodentre outros. Ao meu ver a série mais se assemelhou a IT, a nova versão. Principalmente IT parte 1 (que é a única parte boa). 


      Mas, apesar disso, I Am Not Okay With This tem uma correção de cor terrosa. Seria um sépia, mas mais puxado pro avermelhado mesmo. E se querem saber a minha opinião, aqui vai um spoiler, então cuidado! Acredito que esse visual terroso que a série tem, vem de um conceito de fotografia criado a partir da explosão daquela bomba de guerra, que é mostrada mais para o fim da série e que tem a ver com a trajetória do pai de Syd. Se é que aquela bomba tem algo a ver com a origem dos poderes de pai e filha. 


      A cor da bomba é amarelada/terrosa, e acho que se assemelha muito com todos os frames da série. Faria sentido já que a bomba que teria, talvez, originado tudo isso; todas as questões e poderes que permeiam a história. Se foi isso, o conceito de fotografia foi genial! Sutil, mas poderoso. Embora, na minha opinião, essa cor cansa um pouco. Pois a arte do filme não inova. Cenário e figurino são predominantemente tons quentes, terrosos, ou pelo menos rosados… Poucas vezes a arte contrasta com a fotografia, o que poderia ter trazido maior equilíbrio para o visual da série e, ainda assim, não faria perder o conceito da bomba. Por vezes as cenas ficam monocromáticas, e isso é cansativo, irritante. 




     A edição é divertida, e lembra Sex Education, bem como questões sexuais, claro. Por vezes a edição é tensa. E aí já vira Stranger Things IT. O que é legal também. 


     Sobre o roteiro, eu sinto muito como se fosse basicamente uma história pregressa. É como se essa primeira temporada não fosse a série em si ainda. E sim uma espécie de biografia da protagonista para então, na segunda temporada, começar de vez a história. Acho que a Netflix quis jogar a isca. Investiram pesado na protagonista (e de fato foi uma boa construção) para ver se o público se interessaria por toda a história a seguir. Então é provável que vão aprofundar nos outros personagens nas proximas temporadas. Essa série tem cara de hit, acho que vai dar certo e ainda vai ter várias temporadas. Essa é apenas a ponta do iceberg. Então quem espera obter muitas respostas já nesses 7 episódios, já adianto que vai demorar bastante para sabermos de tudo na íntegra. Não será na primeira temporada. 


      Por fim, a crítica mais pesada que faço, e que, de fato, achei inadimissível  ter isso na série, é que, numa série que claramente se subentende ser feminista, e que levanta, além de tudo, bandeiras lgbtq+ (principalmente para gays e bissexuais), como é possível que em determinado episódio a protagonista elabore um plano e solte a seguinte frase: “Precisamos de alguém com seios”. Sim, alguém com seios para isso mesmo que você está pensando, leitxr. É mais uma daquelas cenas em que a mulher precisa objetificar seu corpo para distrair um cara, para que o plano funcione. Nossa, me poupe! Em pleno 2020 e rola uma cena dessas, Netflix? Os roteiristas não conseguiram pensar em nada – absolutamente NADA – melhor que isso? E, portanto, para uma série que eu daria nota 8,5 e talvez até 9, vai ficar com 7,5. (Mas achei bem legal a protagonista ser lésbica. E acho que a crush dela, a Dina, pode ser que seja bissexual. O shipp está vivo. Mas não que seja necessário cada um se rotular). 




Título Original: I Am Not Okay With This

Direção: Jonathan Entwistle e Christy Hall. 

Duração: 20 minutos por episódio

Elenco: Sophia Lillis, Sofia Bryant, Wyatt Oleff (…)

Sinopse: Sydney Novak lida com a morte de seu pai, bem como a fase da puberdade, mas isso não é nada perto dos poderes de telecinese que ela acaba de descobrir que tem. 


Trailer:



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