Crítica: I am Mother (2019, de Grant Sputore)

Sabe aquela sensação de quando você assiste aquele filme sobre crimes do fim dos anos 1990 ou começo dos anos 2000, sobre um detetive gênio com problemas de relacionamento que conseguem ser enganados por um assassino específico? Então, daqui 15 ou 20 anos, quando alguém for olhar os filmes padrão de baixa qualidade dos anos 2010 certamente se deparará com distopias pós-apocalípticas como I Am Mother

Claro que não é do nosso tempo que temos obras cinematográficas que abordam o tema, temos o famoso Metrópolis que é de 1927 e é considerado o maior ícone do gênero, e em várias outras décadas seguintes temos obras que abordam o tema com muito primor. Mas antes, mesmo entre acertos e erros, o custo dos filmes “futuristas” impediam que saísse um a cada semana, praticamente. E é fácil afirmar, que a maioria destas obras, tem uma qualidade muito aquém do esperado, mas mesmo assim as plataformas continuam lançando, e nós, fãs do tema, continuamos consumindo. 





Uma breve procura sobre o tema no Netflix e já notamos quantos filmes e séries sobre o assunto temos lançados recentemente.

Mas a questão aqui é a seguinte: I Am Mother, é só mais uma dessas obras esquecíveis que retratam esse período de filmes medíocres sobre o tema?

Minha resposta é sim. E nas linhas que seguem vou analisar o porquê. 



A premissa do filme é simples: A humanidade foi extinta, e um androide conhecido como Mãe, é responsável por dar o pontapé inicial numa nova fase da humanidade. Então, dentro de um bunker construído especificamente para essa nova proliferação de humanos, Mãe gere uma primeira criança para dar início ao plano. 



Seus aspectos técnicos estão todos corretos, o design da Mãe agrada bastante, a atuação da “Filha” protagonista também não decepciona e a coadjuvante Hilary Swank está muito bem num papel estilo Sarah Connor. O filme como roteiro peca em abrir muito a história pra cenas de ação desnecessárias quando ganharia muito trabalhando melhor num viés mais voltado a 2001 – Uma Odisseia no Espaço, há inúmeras cenas que, após o final da história, dá para revisitar e pensar: “O filme inteiro poderia ser desenrolado aqui”.     


E logo na sequência de início, a gente começa a pensar sobre o porquê daquela criança ter alguns maneirismos tão humanos, sendo que foi criada por uma androide, sem nenhuma outra mulher ou um homem para se espelhar. 


É mostrado, no decorrer do filme que a “Filha” consome um famoso programa de entrevista dos Estados Unidos, mas isso não é usado na maneira que ela age, que ela enxerga os mesmos de sua espécie.  A criança não aprendeu nada com o apresentador nem com seus entrevistados, nenhum trejeito é utilizado no dia-a-dia que performa aquela tipo específico de cenário que foi tão recorrente em sua criação.


Também não é justificado muitos comportamentos que a menina adquire magicamente, por exemplo, os adesivos colados na Mãe, que é algo divulgado tanto no pôster como no trailer, surge de onde? Qual é o construto por trás do ato de colar adesivos? Onde a menina aprendeu a gostar de adesivos? E, ainda, por que tem adesivos naquele bunker? 



E esses são só exemplos desse “humanismo” evidenciado na garota que foi criada por um ser artificial, pois vários outros aparecem durante a obra, mas as dúvidas são sempre as mesmas. Parece que o filme admite, sem admitir, um certo ideal humano, inerente a todos de como se comportar e agir mesmo sem ter espelhamentos em um semelhante. Pois, se ela só assiste um programa de entrevista e não absorve nada daquilo num sentido comportamental, é de se pressupôr que um humano saiba, por ideação, como se comportar para ser uma criança, quando criança. 


Há uma ideia trabalhada tanto na Filosofia com Jean Paul Sartre ou na Psicologia com Jacques Lacan, que trata a minha comparação com o(s) outro(s) a minha volta pra que “Eu” tenha uma ideia da minha psique, se o outro pra essa menina vem basicamente de um androide (e que tem todos os maneirismos de androide), como posso “Eu” me tornar uma criança como todas as outras e, mais pra frente, uma adolescente curiosa com o mundo fora do ambiente em que sempre vivi? Se há uma possibilidade, seja filosófica, psicológica ou científica disso acontecer, o filme não nos mostra  como. 

E antes que possa ser dito que estou procurando demais num filme que não se propõe a isso, é muito triste afirmar que algo sobre uma distopia pós-apocalíptica possa fugir de questionamentos desse tipo. É afirmar a mediocridade como o parâmetro a ser buscado pra assistir um bom filme. Nós como espectadores do filme, não temos que defendê-lo apesar de seus erros, devemos exigir sempre mais dos artistas que têm a chance de criar obras pra serem divulgados ao redor do globo. Assim como Metrópolis, usa a ficção científica para escancarar problemas de classe, mais de noventa anos depois, os filmes do gênero têm como obrigação suscitar essa e outras dúvidas a quem assiste, e aqui em I Am Mother é muito difícil até de “pescar” essa primeira camada óbvia que virou inerente às obras do gênero.  





Título Original: I Am Mother

Direção: Grant Sputore

Duração: 113 minutos

Elenco: Clara Rugaard, Hilary Swank, Rose Byrne e Luke Hawker(todos esses itens sem negrito)



Sinopse: Após a extinção da humanidade, uma robô chamada “Mãe” é desenvolvida para repopular a Terra. A primeira de uma nova geração de humanos é uma jovem garota (Clara Rugaard) que logo desenvolve um laço emocional com a inteligência artificial. Mas as coisas tomam rumos inesperados quando uma mulher (Hilary Swank) aparece, questionando tudo sobre o que foi dito sobre o mundo exterior.





Trailer:



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