Crítica: Watchmen – Primeira Temporada (2019, de Damon Lindelof)

Tic toc, tic toc, tic toc… 






O relógio tocou, nos enviando uma mensagem: já era hora de adaptar Watchmen novamente, num novo contexto, reciclando conceitos e misturando-os a outros e, assim, criar uma história inédita desse fascinante universo. Com isso em mente, a HBO contratou Damon Lindelof para ser a mente criativa desse ousado projeto e trouxe também para a empreitada Dave Gibbons, um dos criadores da HQ original. 






A trama inicia-se sob o ponto de vista de Angela Abar (Regina King, em magnífica interpretação), uma policial mascarada que atua em Tulsa e a qual acaba vendo-se presa numa grande teia de mentiras, revelações e diferentes ações que cobrem o passado, presente e futuro dessa cidade. Com clima racial intenso e fortes atuações, a série aos poucos nos apresenta outros personagens que, é válido ressaltar, têm seu momento de brilhar; a primeira aparição de cada um deles já é o suficiente para nos fascinar, sendo sempre em grande escala e revelando que cada um deles é a personificação de uma caricatura diferente. Digo sem medo: a construção de personagens aqui é tão presente e importante que julgo ser a melhor que vi nesse ano, dentro de uma série de TV. 



E, no fim das contas, são tantos… Ozymandias, Cal, Laurie, Angela, Looking Glass, Trieu… com tal tratamento intocável de desenvolvimento, cabe ao roteiro levar esses personagens ao lugar que lhes é devido, sendo que cada um deles deve servir a trama do início que se apresentam até o derradeiro final. E talvez aí resida um leve derrapada da série: as suas resoluções. 
De início, temos uma trama complexa e emaranhada que, até o sexto episódio, nos mantém teorizando loucamente sobre o que nos aguarda para o futuro. No entanto, em doses homeopáticas, as resoluções acabam ficando cada vez mais expositivas e, em alguns casos, um tanto caricatas demais. Até certo ponto, não prejudicou minha experiência com a narrativa, mas confesso que em alguns momentos, revirei os olhos, principalmente em alguns pontuais diálogos do último episódio. 
Em contrapartida, deixando de lado tais maneirismos expositivos, temos também o arco de cada personagem. O da protagonista, Angela Abar, tem um tratamento invejável – seu arco é marcante do início ao fim, bem como o de seu marido Cal e, primordialmente, o de Will, intrigante no piloto e emocionante na finale. Já Adrian, por exemplo, tem um arco bom, mas que derrapa em seu desenvolvimento: ficamos sete episódios sem entender absolutamente nada do que acontecia em seu mundo, presos em uma trama redundante. Felizmente, seu encerramento é satisfatório, bem como de Looking Glass e Laurie (Jean Smart, você é perfeita!). Alguns outros, como Trieu e Senador Keene, tem algumas soluções forçadas e difíceis de engolir. 
Entrando nos méritos técnicos, tem-se um espetáculo visual, nada abaixo do que as superproduções da HBO costumam oferecer. O design de produção dá vida a cada uma das ambientações e, não obstante, recria o clima intenso e único das HQ’s de Alan Moore. Há ressalvas, no entanto, no que diz respeito ao uso da trilha sonora na season finale: a música instrumental aqui é um tanto manipulativa demais, acertando poucas vezes um tom mais orgânico, que se distancia das escolhas musicais não originais, sempre com um significado narrativo e um quê de cinismo. Cinismo esse que permeia toda a narrativa e que gera diálogos hilários com Laurie Blake.
Não há certeza quanto ao futuro de Watchmen. Uma segunda temporada seria mais que bem-vinda após esse satisfatório primeiro ano. Entendo, porém, que é um universo difícil de adaptar e que talvez seja melhor revisitá-lo de tempos em tempos. Mas seja nas HQ’s, com Doomsday Clock, ou na TV, com a HBO, a criação de Moore e Gibbons está em boas mãos e espero de todo o coração, que continue assim. E que venha mais! Afinal, o relógio não pode parar de tocar, pois nada nunca realmente acaba. E nem acabará. 
Estão ouvindo? 

Tic toc, tic toc, tic toc…


Direção: Nicole Kassell, David Semel, Stephen Williams, Steph Green, Andrij Parekh
Episódios: 9

Duração: 50 min

Elenco: Regina King, Jean Smart, Tim Blake Nelson, Hong Chau, Yahya Abdul-Mateen II, Andrew Howard, Tom Mison, Sara Vickers, Dylan Schombing, Louis Gossett Jr., Jeremy Irons, James Wolk, Lily Rose Smith, Adelynn Spoon

Sinopse: Watchmen toma lugar em uma realidade alternativa, 34 anos após os eventos da série de quadrinhos. Vigilantes, uma vez vistos como heróis, têm sido proibidos devido aos seus métodos violentos.

Trailer:

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2 thoughts on “Crítica: Watchmen – Primeira Temporada (2019, de Damon Lindelof)”

  1. A série realmente prende. Para quem conhece as HQ's originais, ressoa como uma continuidade atemporal, ao mesmo tempo prevendo um futuro pós história original, e criando um novo contexto, em que se desdobra a crítica social aos mascarados e envolve racismo e preconceito de maneira geral. Brilhante crítica! Deu vontade de ver novamente. Tic toc, toc toc…

    1. Nem me fale! Achei esse novo contexto sensacional, realmente um dos grandes acertos da série. Vamos torcer pra que tenha um segundo ano.
      Abraço!!

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