Crítica: Star Wars – A Ascensão Skywalker (2019, de J.J. Abrams)

      

  

Star Wars: A Ascensão Skywalker chega aos cinemas com a promessa de encerrar a saga Star Wars, de por um ponto final em uma história que está sendo contada há 42 anos, a maior franquia da história do cinema, amarrando todos os 9 filmes em uma conclusão de certa maneira definitiva, se não contarmos os constantes spin-offs. Tudo isso na mesma medida em que traria algumas respostas envolvendo os personagens principais da nova trilogia, tão desejadas pelos fãs dos filmes. Contudo o resultado não poderia ser mais decepcionante. Em sua incansável tentativa de agradar e respeitar as expectativas dos fãs, o filme sublinha o caráter absolutamente contraditório da nova trilogia, que os diretores criativos da Disney não sabiam, nem tinha a pretensão de ter, seu real objetivo e discurso. Cada filme tem uma voz própria, mas elas gritam uma com a outra.




Antes do lançamento de Os Últimos Jedi, o excelente filme iconoclasta de Rian Johnson, o estúdio estava orgulhoso, até presenteando o cineasta com uma nova trilogia para fazer o que quisesse. Entretanto, após as recepções absolutamente polarizadas, e ressentidas com os elementos do discurso, o posicionamento da companhia mudou, agora tenta-se incansavelmente apagar os acontecimentos do filme anterior. Essa tentativa resume toda a primeira metade do 9° filme da franquia: personagens como Rey, Kylo Ren e Poe são levados a caminhos que os contradizem, revelações são feitas, arcos são anulados com a mera pronúncia de uma fala e com uma imagem. Tudo isso é apenas agravado pelo roteiro apressado e sem tato de J.J. Abrams e Chris Terrio, que apenas salta de planeta em planeta, sem momento para respiro, que tenta desesperadamente causar alguma emoção no espectador através de elementos e informações importantes que simplesmente são jogados como em uma novela mexicana. Os personagens, inclusive o interessantíssimo vilão Kylo Ren, são desperdiçados em jornadas repetidas, que batem nas mesmas teclas de antes, e perdem sua dimensão e características definitivas.

Portanto, o filme possui problemas gravíssimos de ritmo na medida em que acontecimentos importantes se desenrolam em uma rapidez nauseante, que tira o peso de todos os grandes acontecimentos do filme, que a propósito são muitos. Há uma enorme relutância em fazer com que os personagens principais percam coisas por muito tempo: quando há um fato ou uma perda marcante ela logo é anulada nos minutos seguintes. Na tentativa de agradar e dar aos fãs o que eles queriam o filme de Abrams se perde, fica confuso, e deixa diversos pontos sem nó. O ressurgimento da figura do Imperador, antes uma espécie de Dr. Mabuse de George Lucas, sintetiza o acovardamento do estúdio frente ao ressentimento de parte da comunidade, e o máximo que é dito a respeito de seu papel é feito através de poucas falas: “ele sempre esteve lá”. É como se J.J. Abrams e a Disney entrassem no próprio filme implorando pela atenção de seus estimados clientes, ao trazer de volta os símbolos clássicos de Star Wars por um suposto respeito ao legado da franquia, dando aos fãs em teoria o que eles queriam. E é exatamente na discussão sobre legado que as contradições no discurso da nova trilogia vem à tona. Recentemente, por exemplo, J.J. Abrams que acredita que o 8° filme fosse “muito meta”. Entretanto, a abordagem de seu primeiro Star Wars, de 2015, seria considerada da mesma forma.

Em O Despertar da Força há um saudosismo escancarado, uma veneração aos clássicos dos anos 70 e 80, em uma tentativa, triunfante ao menos, de recuperar certa sacralidade no mito de Star Wars. Traduzido em seu arco dramático: Luke Skywalker e os jedi são uma lenda perdida que os heróis buscam encontrar, e devem fazer isso antes que os novos vilões recuperem suas próprias lendas do passado, em uma estrutura narrativa quase idêntica ao filme original de 1977, na qual as imagens também constantemente lembram dos filmes clássicos. Os Últimos Jedi mostra uma desilusão frente a esses mitos, tanto os heróis e os vilões conhecem o outro lado de suas lendas, os grandes símbolos caem por terra na medida em que Luke Skywalker luta justamente contra a transformação de seu legado em lenda. Ambos os lados são aproximados para separarem-se de novo, e os heróis percebem que devem, sobretudo, aprender com as falhas de seus antecessores, e que seus fracassos fazem parte de seu legado. Entretanto, A Ascensão Skywalker abandona esse discurso, mas também não retorna para a reverência de O Despertar da Força. Nem tão saudoso, nem subversivo, há diversas referências ao passado, mas não há mais aquele misticismo sagrado sobre a força, pois os jedi agora são praticamente super-heróis. O último filme da saga Skywalker não sabe para onde ir, uma vez que não só apenas quer encerrar o drama, mas ao mesmo tempo quer fazer de tudo para agradar a todos, mesmo que isso signifique escolher o caminho óbvio e piegas.




Apesar de alguns momentos inspirados, o 9°, e teoricamente o último filme da saga, infelizmente é inerte. Não vai para frente, não vai para trás, apenas permanece. Constantemente busca arrancar a emoção do espectador, mas ela raramente vem, e quando vem dificilmente é merecida. Fosse antes um filme que efetivamente irritasse e indignasse, a frustração não surge por conta de um sentimento de raiva por uma má qualidade do filme. Na verdade, ela surge por conta de um estado de indiferença, uma sensação de que falta algo, de que o filme não cumpriu sua função, mas também não desagradou de todo. Infelizmente é notável a falta de clareza com que a franquia foi ressuscitada, a falta de propósito, objetivo e vontade clara do estúdio. Para uma trilogia em que a principal temática é o legado, o próprio será um gosto amargo na boca, com a sensação de que poderia ter sido melhor. É difícil dizer isso, mas A Ascensão Skywalker curva-se tanto que bate a cara no chão. Filmes finais tem um papel definidor na maneira em que encaramos os que vieram antes, e infelizmente a da nova trilogia de Star Wars é um extremamente contraditório. 









Título Original: Star Wars: Rise of Skywalker


Direção: J.J. Abrams


Duração: 142 minutos



Elenco: Daisy Ridley, Adam Driver, Oscar Isaac, John Boyega, Ian Mcdiarmid, Mark Hammil, Carrie Fisher, Billy Dee Williams



Sinopse: A Resistência sobrevivente enfrenta a Primeira Ordem mais uma vez, enquanto a jornada de Rey, Finn e Poe Dameron continua. Com o poder e o conhecimento de gerações por trás deles, a batalha final começa.





Trailer:


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