Crítica: En Las Estrellas (2018, de Zoe Berriatúa)

Na obra En Las Estrellas,
o diretor Zoe Berriatúa mescla um drama social com elementos fantásticos, traços de comédia e uma linda homenagem à sétima arte.


A trama acompanha Victor, um ex-diretor de efeitos
especiais que, ao tentar realizar seus próprios longa-metragens, pena para conseguir tirá-los do papel. Após o
suicídio de sua esposa, Victor passou a carregar uma tristeza e culpa consigo; não por
acaso, o personagem alcoólatra bebe para fugir de si e de sua dura realidade.
Juntamente com seu filho, Ingmar, Victor planeja e tenta gravar seu próximo
filme, encontrando vários empecilhos pelo caminho. 

Victor sobrevive no presente, mas sua mente fica presa no
passado. Ele
 nega a si mesmo durante quase o filme inteiro. E
da mesma forma, as metáforas servem também para a realidade social em que vivem
Victor e Ingmar. A situação para ambos é árdua: as dificuldades financeiras, a falta de recursos e suporte e, com isso, Victor ainda tem que entrar em um acordo com a assistência social, que é chamada para resguardar pelas condições de vida de Ingmar. Para todas essas questões, o olhar fantástico e o
cinema atuam como um escape.

Muitas referências cinematográficas clássicas estão inseridas no filme. O nome do filho de Victor, por exemplo, faz alusão ao grande diretor sueco Ingmar Bergman. A estética dos momentos lúdicos da história remete a uma obra de Georges Méliès. Rolos e mais rolos de película aparecem em algumas cenas como uma nostalgia de um velho tempo; tal qual Victor, que prende a si mesmo nessas antigas memórias.
Quando Victor finalmente resolve se abrir com seu filho, Ingmar chega a indagar ao pai se seu
último filme feito havia sido mudo pelo fato de ele não ter consigo um sonoplasta,
dando a entender que, talvez, as escolhas artísticas do pai tenham se dado por
necessidade, não por opção. I
sso abre ao espectador uma grande discussão. Na situação
social em que Victor se encontra, não há grandes oportunidades para que ele
pudesse realizar ou fazer o que realmente gostaria  – para que ele pudesse genuinamente dar asas à sua imaginação. Novamente, a fuga da realidade se dá
por meio dos contos e do imaginário de pai e filho, que, através da ficção, ficam mais próximos.



Na relação entre os dois, há algo de Dom Quixote. Enquanto Victor vive bebendo para esquecer de seus problemas e divaga em suas ideias, Ingmar chama a atenção do pai para que ele “caia na realidade” e procure um emprego. Entretanto, ainda assim, de uma forma ou de outra, ambos se entusiasmam com a ficção.


Na cena final, o espectador se depara com o choque do
fantástico com o real. 
Enquanto Ingmar observa um antigo cenário
cinematográfico, – que está todo abandonado e tem diversos elementos em ruínas – ele imagina aquele cenário tomando vida. Em pouco tempo, toda a
magia se desfaz. Novamente, semelhante ao que aparece em Dom Quixote, eles são obrigados a voltar a enfrentar a realidade. 



O filme mostra como é duro enfrentar uma situação de vida tão custosa como a de Victor e Ingmar. Simultaneamente, mostra também as dificuldades de se fazer um filme fantástico e/ou uma ficção científica, assim como promove uma homenagem aos que mantém seus sonhos vivos apesar do mundo desolador.


Título Original: En Las Estrellas


Direção:
Zoe
Berriatúa


Duração: 85 min

Elenco:
Luis
Callejo, Jorge Andreu, Macarena Gómez e outros

Sinopse: Para enfrentar a dura realidade que o cerca, um cineasta se utiliza de histórias lúdicas para manter viva a esperança do filho e estreitar o laço entre os dois.

Trailer:


Já assistiu ao filme? Conte para a gente o que achou! 🙂 

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