Crítica: Wasp Network (2020, de Olivier Assayas)


Wasp Network chega ao Brasil, país do escritor Fernando Morais, o responsável por escrever o livro que deu origem a obra (Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de 2011) que conta a história de três dos cinco espiões infiltrados nos Estados Unidos para impedirem o enfraquecimento e, por conseguinte, o fim do regime comunista cubano. Os intérpretes destes espiões são Edgar Ramirez (A Garota no TremBright American Crime Story), Wagner Moura e Gael Garcia Bernal. De maneira muito confusa o roteiro e a montagem os inserem nesta Miami onde cubanos chegam todos os dias para tentar fugir de seu país em crise, após grave embargo estadunidense no início dos anos 1990, que impedia qualquer cidadão do país de negociar com o governo cubano. 

O que se destaca, e de forma negativa, são os cortes do filme, que estão todos tronchos e perdidos, parecendo num primeiro momento, que não havia material o suficiente filmado para que a história se desenvolvesse, fazendo assim com que o editor e o diretor tivessem que se descabelar na ilha de edição para conseguirem entregar um filme minimamente inteligível. Porém, com o desenrolar do filme, percebemos que grande parte desta edição é escolhida por estética, agravando os problemas. 


O longa já estava problemático enquanto espectador eu imaginava que seus problemas era por falta de material, imagina só sabendo que é uma opção estética, tentando deixar o filme mais estiloso do que precisava. Além disso em um momento do filme aparece um voice over no melhor estilo Adam McKay (A Grande Aposta Vice) tentando explicar algo que já estava muito bem explicado, conseguindo a proeza de tornar Wasp Network confuso e redundante ao mesmo tempo. 


O roteiro do filme é fraco por si só e parece uma trama B dos anos 90 onde as mulheres são usadas apenas como gags para trabalhar as nuances dos personagens masculinos. Para ser justo, Olivier, conhecido por ser um diretor “ótimo em dirigir mulheres” (sic.), até tenta vez ou outra encaixar alguma nuance diferente nas duas coadjuvantes do filme, Olga Salanueva (interpretada por Penélope Cruz) e Ana (Ana de Armas), mostrando que elas não são ingênuas e que são pessoas fortes. Mas nada disso se aplica no filme, sendo que a primeira é relegada a dona-de-casa que sofre pelo marido e a outra é literalmente esquecida pelo filme, freando seu desenvolvimento e não encerrando a história da personagem. 



Todas as atuações no geral são boas, mas é em Penélope que o filme se encontra e as únicas duas boas sequências do filme é a atriz que comanda a cena, conseguindo trazer alguma coerência a esse amontoado de cenas jogadas.



Olivier Assayas (Personal Shopper), tenta trazer um senso de imparcialidade a essa história, que nitidamente foi um dos maiores absurdos dos Estados Unidos em relação a Cuba, colocando os dois lados como vilões e culpando a política externa dos dois países. Mas o que ele não nota, é que ao trazer esse olhar tão imparcial de um cidadão francês que muito pouco ou nada tem a ver com essa relação de opressão entre o governo estadunidense em relação à América Latina como um todo, ele faz a defesa de um país que não precisa ser defendido. Um país que tem seus próprios diretores patriotas para fazer propaganda da nação e dar mais voz do que precisa pra versão estadunidense dos fatos.


No fim, ele coloca uma ótima fala de Fidel Castro – que é a parte que interessa assistir do filme, passem até a 1:53:40 de filme e assistam até 1:55:01



Porém, esta fala da manira como está no filme, serve apenas para reafirmar a imagem do político orgulhoso que usa cidadãos para fazerem seus serviços mais sujos. Mostrando a força destrutiva da narrativa incutida nesta obra. 

O cineasta insiste, em sua obra, em tirar a força de vontade desses agentes e os colocam como meros piões de seus governos. Como se fosse impossível, sem uma lavagem cerebral, alguém defender o regime cubano a qualquer custo.


No fim das contas, discutir o assunto que este filme trata, já é dar a ele uma visão melhor do que ele merece, pois em nenhum momento ele consegue realmente dizer do que se trata. E todas as discussões aqui são suscitadas ou por conhecimento prévio de quem os escreve ou proveniente da coletiva do filme, onde o diretor tentou justificar algumas de suas escolhas. O filme por si só não diz nada com coisa alguma. 





Rodrigo Teixeira (grande produtor brasileiro), errou ao escolher alguém tão alheio a este conflito para adaptar o livro tão minucioso de Fernando Morais. Melhor que ver este filme, é ler a obra original, ou ao menos assistir a entrevistas do próprio autor do livro que deu origem a trama, que conta inclusive que Gabriel García Márquez (Prêmio Nobel de literatura) era usado como pombo de recados entre Bill Clinton e Fidel Castro.




Entrevista de Fernando Morais Sobre seu Livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria

Entrevista de Fernando Morais no programa do Jô




*O filme que estreou na Netflix pode ter uma montagem diferente do visto no cinema, pois ainda estava passando pelo processo de montagem. Podendo melhorar um pouco a forma que é contada a história. Mas me diz aí, já assistiu? Gostou do filme?

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