Análise (com spoilers): Coringa (de Todd Philips, 2019) – Parte 1

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Foi lançado nas últimas
semanas o último filme de quadrinhos do ano, Coringa, produção da Warner
Bros. com o comando na direção de Todd Phillips, e desde sua estreia/premiação
no Festival de Veneza, esse filme tem gerado inúmeros debates entre admiradores
sobre o cinema ou de quadrinhos. Enquanto alguns aclamam a coragem e o
brilhantismo da cinematografia do filme do Todd Phillips, alguns criticam, ou até mesmo repudiam, a proposta e a mensagem transmitida pelo personagem interpretado
por Joaquim Pheonix.


Seja qual for sua expectativa para com o filme, seja algum caso de violência como alguns esperam,
ou a consagração máxima em premiações como muito apontam,
Coringa se estabeleceu até o momento como um filme de
quadrinhos muito fora da curva dos que se espera do gênero nos últimos anos,
onde ao invés de grandes cenas de lutas entrelaçadas com um humor
leve com efeitos especiais, esta produção conta com um drama psicológico
muito centrado num estudo de
personalidade que demonstra a decida de um homem deslocado na sociedade à loucura.


Os
elogios relacionados a essa obra se devem  à direção, fotografia, direção de
arte, trilha sonora e atuação, tudo orquestrado por Todd Phillips, cineasta
veterano na comédia adulta com o seu filme mais conhecida até então
Se Beber Não Case!, demonstra construir com o seu filme uma visão
muito realista do que se espera do personagem Coringa retratado nos quadrinhos
ou nos filmes.


É
importante ressaltar que tanto os quadrinhos  quanto o cinema, o personagem já obteve
inúmeras representações diferentes no seu material fonte. Na criação do vilão
em 1940 pelos roteiristas e desenhista Bob Kane, criador do Batman, e Bill
Finger, o personagem nasceu como uma representação de um palhaço sorridente e
anarquista que funcionasse como a contra parte da figura sisuda e séria
defensora da justiça que era representada pelo vigilante de Gotham.


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Primeira aparição do personagem nos Quadrinhos

Desde representações mais infantis e humorísticas, como a de César Romero na série
clássica do Homem-Morcego estrelada por Adam West, a versão sombria e gótica
promovida por Tim Burton com Jack Nicholson, ou até mesmo a representação
sombria e realista proposta por Christopher Nolan interpretado por Heath
Ledger, o Coringa se molda conforme a identidade que cada autor busca
desenvolver em seu filme.


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Versões mais famosas do Coringa

Quando
Todd Philips se propôs a criar um filme inteiramente dedicado na construção do
vilão, ele se viu diante uma gama de inspirações diferentes seja quais elas pudessem
engrandecer a proposta ideal para a sua obra, muitos caminhariam no caminho
mais óbvio que seria seguir o material-fonte que seria a história em quadrinhos,
em especial na tida como muitos a origem definitiva do Coringa,
A Piada Mortal de Alan Moore e Brian Bolland. Phillips deixou
claro que os quadrinhos não eram o caminho a ser seguido, apesar de se notar
influências marcantes ao longo do filme, mas não da obra de Moore, mas de outros
autores influentes em questão, no qual iremos abordar mais à frente.


Voltando
as influências de Phillips ao filme, percebe-se o mais evidente que
Coringa deseja demonstrar na narrativa é o movimento de um
período muito importante na história do cinema que foi conhecido como Nova
Hollywood. Ao mesmo tempo que Phillips busca homenagear esse período que foi
de extrema importância na reconstrução na identidade do cinema americano, ele
se preocupa em alinhar essa identidade que esse movimento construiu para narrar a
sua história, para entender esse raciocínio é necessário ter um conhecimento
básico sobre esse período.


Basicamente,
a Nova Hollywood foi a ruptura do glamour belo e tradicional da Hollywood
clássica para se preocupar em retratar a transformação decrescente social
promovida por conflitos políticos controversos na época, levantando um espírito
de negatividade e dúvida na vida americana que o cinema buscou expressar na
maneira mais real e crua possível. Claro que foi polêmico na época, mas foi
crucial para fazer a indústria e o cinema a serem mais ousados, o que sedimen
tou
uma nova geração de cineastas que lideraram esse movimento.


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Sem Destino (1969) e Bonnie & Clyde (1967): filmes precursores da Nova Hollywood

Entre
eles estava Martin Scorsese, possivelmente o cineasta que pavimentou essa
mentalidade da Nova Hollywood, seus filmes foram marcantes por retratar essa
realidade americana, em especial temos
Taxi
Driver
, obra clássica no cinema que
retratou o sentimento de dúvida e disparidade social representado na figura do
personagem de Robert De Niro, como um veterano do Vietnã que se vê perdido numa
sensação de confusão e conflito psicológicos na tentativa de se enquadrar numa
Nova Iorque poluída, seja de lixo ou de pessoas cruéis.

Todd
Phillips encarou essa visão de Scorsese em sua obra mais marcante e deve ter percebido
que uma cidade tóxica era o ambiente ideal para construir a atmosfera que
levaria o personagem de Phoenix a loucura. Por isso, a cidade do filme,
conhecida pelo fãs de quadrinhos de Gotham City, é retratada como uma visão
realista e imunda, de vários aspectos, então é evidente
o uso de saco de
lixos abandonados em toda a cidade no filme inteiro, até nos detalhes pelo design de arte ao evidenciar sempre a figura das pichações em todos os cantos
da cidade.


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Comparação: Nova York de Taxi Driver/ Gotham City de Coringa

Mais
que evidenciar os detalhes visuais de
Taxi
Driver
, o diretor se volta para
proposta que Scorsese demonstrou numa construção do protagonista em um
psicopata, só que diferente do personagem do De Niro, que era tido como um
homem “comum” mesmo com traços anormais de comportamento, em que por exemplo levar
a sua namorada ao cinema pornô como um encontro romântico, o personagem de
Joaquim Phoenix, que tem o nome de Arthur Fleck, possui uma doença mental
evidente e real que faz ele rir sem controle nos momentos de inseguranças e
ansiedade.


Esse
detalhe já carimba a proposta de Todd Phillips de criar uma versão realista do
vilão, pois nos quadrinhos, a risada do Coringa sempre foi o signo sonoro que
descrevia a loucura do personagem, mas ao inserir como uma doença mental na
história do filme, estabelece não só uma representação realista de uma risada
descontrolada, mas evidencia uma figura importante na personalidade trágica de
Arthur 



Ele ao possuir essa risada, tendo a atuação do Phoenix que demonstra com clareza
a dor de emitir um riso dese
nfreado logo nas primeiras cenas do filme, ao
consultar uma psicóloga de assistência social, define ao espectador que a
risada, que geralmente é posto como uma expressão clara de momentos felizes
para maioria das pessoas, para o Arthur é momento de dor e sofrimento, mesmo
assim ele deseja se adequar a sociedade no quesito empatia social, por isso ele
emite risadas forçadas em momentos inadequados, isso fica bem evidente nas
cenas do stan-up onde Arthur estuda o show do comediante e ri sempre
fora de hora, onde demonstra que o personagem não denota uma noção clara do que é apropriado ou não em seu comportamento.
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A
personalidade de Arthur Fleck é sem dúvida o mais complexo a ser debatido,
sendo uma pessoa que possui uma doença mental que o faz rir, ele deve ser
encarado como alguém que não tem uma sensação de não saber o que é felicidade,
ou até mesmo se sentir feliz.



Nota-se na primeira cena do filme,  em que Arthur
está se maquiando de palhaço, ele tenta enxergar uma fagulha
de felicidade
dentro de si, desde emitir um pequeno sorriso, até mesmo forçando um sorriso
com as mãos, mas não consegue sentir nada, definindo uma sensação clara no
personagem de depressão, e até mesmo, ao longo do filme, um desejo de se matar,
expressado na citação do seu diário:


“ESPERO QUE A MINHA MORTE FAÇA MAIS CENTAVOS QUE A
MINHA VIDA”
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(Continua…)
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Aqui encerramos a primeira parte desse especial analisando o filme de quadrinhos mais comentado do ano, e iremos dar procedimento ao longo das próximas semana, onde detalharemos mais da jornada sombria de Arthur Fleck para se tornar no Palhaço do Crime. Fiquem de olho para mais sobre esse conteúdo especial no nosso site!

O que achou da nossa análise? O que você achou de Coringa?
Escreva um comentário!!!

2 thoughts on “Análise (com spoilers): Coringa (de Todd Philips, 2019) – Parte 1”

    1. Olá muito obrigado pelo elogios a nossa matéria!

      Sim realmente é um filme muito marcante e de muito impacto, por isso consideramos aprofundar nossa visão sobre este grande filme. Continue de olho na nossa página, pois existe muito mais conteúdo sobre Coringa.

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