Ao considerarmos o caso da Cambridge Analytica influenciando as eleições estadunidenses a favor de Donald Trump e na Inglaterra a favor do Brexit, não é tão difícil perceber a dicotomia simplista propagada pela mídia entre bem x mal. E no Brasil não foi diferente, com as fake news também decidindo os resultados da votação para presidente, em 2018. Como o próprio filme coloca, “na melhor das hipóteses as informações são imprecisas”. E o custo disso é alto.
Essa é a história de uma mulher memorável, que escolhe lealdade ao país ao invés de ao governo, marido e ela mesma; o que diz muito sobre ela e sobre do que se trata o filme. Afinal, cultura também é política e, não por acaso o governo brasileiro vem lutando tão arduamente para acabar com a nossa. É com a cultura, não com armas, que as guerras são de fato travadas. Ou os filmes de James Bond escolhiam os perfis dos inimigos em um sorteio?
O longa é, portanto, uma aula de direito, cidadania e cultura; uma espécie de chamado para cada um pensar no seu papel enquanto sociedade e como uma pessoa só pode sim fazer a diferença. Principalmente em um país como o Brasil em que a mentalidade é de “se ninguém faz nada, por que eu?”, o questionamento levantado é outro “se eu não fizer, quem vai?”.
A escolha da atriz, por fim, não poderia ser melhor. Para quem lembra de Keira Knightley em O Jogo da Imitação, é impossível não traçar o paralelo entre Joan Clarke e Gun; uma utilizando a inteligência para encurtar a guerra e a outra para evitá-la. Esse filme relembra, a todos que se graduaram em cinema, o porquê ter escolhido a área e amá-la tanto. É um questionamento de uma guerra que, somente em seus primeiros anos, matou de 151 mil a um milhão de iraquianos, incluindo civis, crianças, mulheres e idosos. Isso sem contar os feridos e soldados americanos e britânicos.
Título Original: Official Secrets
Direção: Gavin Hood
Duração: 112 minutos
Elenco: Keira Knightley, Matt Smith, Adam Bakri, Matthew Goode, Ralph Fiennes, Rhys Ifans, Indira Varma e Myanna Buring.
Sinopse: Depois de passar anos trabalhando como tradutora de mandarim para inglês, Katharine Gun (Keira Knightley) tornou-se mundialmente famosa ao expôr segredos extremamente confidenciais da Agência de Segurança Nacional. Depois de obter acesso a memorandos secretos, ela foi capaz de provar que ocorreu uma grande pressão a seis países para que eles votassem a favor da invasão ao Iraque em 2003.