Crítica: A Tabacaria (2019, Nikolaus Leytner)


“O sonho é a satisfação de que o desejo se realize”
Sigmund Freud

As imagens do cinema estão estreitamente relacionadas às imagens dos sonhos. Portanto, as interpretações das duas áreas são tão incertas quanto subjetivas. Deste modo, se descobre que há, em todas as pessoas que vão ao cinema, um inconsciente distinto que aprecia um filme.



Sem os estudos do psiquiatra criador da psicanálise, Sigmund Freud, a interpretação dos sonhos teria um papel diferente na nossa sociedade. Até os filmes, muito provavelmente, não existiriam da mesma forma.



A obra A Tabacaria, filme mais recente do austríaco Nikolaus Leytner narra a história de Franz, um jovem de 17 anos, interpretado por Simon Morzé. O ator parece controlar bem o personagem, chegado do interior na capital austríaca para trabalhar em uma tabacaria, a pedido da mãe. Em Viena, Franz passa a conhecer os personagens, incluindo Freud, trabalhados em individualidades específicas que os fazem procurar sabores distintos no estabelecimento de seu patrão, um veterano de guerra desabilitado. Seu bem mais valioso? Um pacote de charutos cubanos, cuidadosamente zelados.

No pequeno cenário para ambientação externa, é possível compreender o conflito central da trama: a tabacaria, situada ao lado de um açougue, reforça a distância do pensamento e das ações entre as pessoas em tempos de crescimento de um regime político totalitário. Entre os pequenos comerciantes, os muros ocupam papéis e folhetos de propaganda política que se tornam mais chamativos no decorrer do filme.

Os personagens, em pouco tempo de tela e em um cenário reduzido, norteiam o espectador sobre a ascensão do nazismo na Áustria e sua implicação na vida comum de seus habitantes. Nos deparamos, então, com clientes simpatizantes ao comunismo, ao fascismo alemão e, também, ao silêncio do cidadão comum.





Entre seus fiéis clientes, o filme destaca a presença de Freud (interpretado pelo veterano Bruno Ganz, falecido em fevereiro deste ano), que se aproxima de Franz para dar conselhos amorosos para a conquista do amor junto da dançarina Anezka, seu interesse afetivo na trama. A tensão política austríaca transforma as ações dos personagens, que se distinguem na reação ao momento. Os sonhos de Franz, após o célebre conselho do psicanalista que o pede para anotar tudo o que pudesse lembrar ao acordar apresentam visões metafóricas sobre sua solidão, sua libido e a política destrutiva que ganhava poder.

As aparições e falas de Freud, no entanto, poderiam ter sido elaboradas de modo a fazer mais jus ao médico, que teve sua potência de pensamento e análise pouco explorada no longa-metragem. Ainda assim, o argumento bem estruturado confia à A Tabacaria a força do cinema em contar sobre a reação da vida cotidiana em tempos de conflito.



Título Original: Der Trafikant

Direção: Nikolaus Leytner


Duração: 114 min.


Elenco: Simon Morzé, Bruno Ganz, Johannes Krisch, Karoline Eichhorn e Rainer Woss


Sinopse: Um jovem de 17 anos chamado Franz (Simon Morzé) começa a trabalhar como aprendiz em uma tabacaria onde Sigmund Freud (Bruno Ganz) é um cliente frequente. Após um tempo, os dois estabelecem uma forte relação de amizade. Certa vez, o jovem se apaixona por uma moça, Anezka (Emma Drogunova), e começa a pedir conselhos amorosos para Freud que, embora seja um renomado psicanalista, confirma que, até mesmo para ele, os mistérios femininos têm uma grande potência. Em meio a uma grave tensão política na Áustria e a ascensão do nazismo, os três personagens se vêem no dilema entre sair do país ou permanecer nele.

Trailer:

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