Crítica: Entre Nós (2013, de Paulo Morelli e mais)

Entre Nós é um grande exemplo de como existem excelentes filmes nacionais que são desconhecidos pela maior parte do público, uma pena, pois esta obra tem muito a dizer sobre amizade, família, amor, inveja, egoísmo e depressão, tudo de forma fluída e orgânica.

Na trama conhecemos sete amigos, que vão passar um final de semana em uma chácara na Serra da Mantiqueira, todos com aquele entusiasmo da juventude, com sonhos e esperanças de que irão conseguir tudo aquilo que desejam em suas vidas, são escritores em busca de ascensão e sucesso. 

Em meio a diversão e bebedeira, eles decidem escrever bilhetes e enterrá-los para serem abertos apenas dez anos depois. Quando acabam as bebidas, Felipe e Rafa saem para buscar mais e é nesse momento que um trágico acidente acontece e muda a vida de um deles para sempre.

Dez anos se passam e os amigos voltam para a mesma chácara para passarem outro final de semana, não temos quaisquer menções ao que aconteceu ao longo desses anos, vamos descobrindo aos poucos pelas relações e diálogos entre os personagens.

Uma sensação de urgência é crescente quando um possível segredo é apresentado, todos eles mudaram com o tempo, alguns conseguiram sucesso em suas carreiras, outros nem tantoLucia que era namorada de Gus agora é casada com Felipe, Cazé se tornou crítico ao invés de escritor e é casado com Drica, que sonha em ser mãe mas não parece ter certeza se o seu parceiro também quer. São problemas de fácil identificação com quem assiste, todo mundo tem ou já teve dificuldades no relacionamento, também já gostaram de alguém que não sentia o mesmo, até mesmo a inveja em algum momento é normal sentir, não existe vergonha em admitir isso.

E todas essas questões são apresentadas de forma delicada, pura e bonita, inclusive a depressão que é um assunto mais sério é tratado com uma veracidade que não romantiza a doença em momento algum. Existe uma cena por exemplo que é simples, porém, contém um significado tão profundo que a torna linda, Gus e Drica estão conversando e descendo um dos morros da linda Serra, eles estão falando sobre os momentos difíceis que estão passando, desabafam sobre seus problemas, eles parecem estar pesados e cansados fazendo aquela caminhada na descida que deveria ser fácil, um se apoiando no outro até chegar lá embaixo, na hora de voltar já estão mais leves, pois colocaram para fora tudo que estava entalado, com isso eles podem voltar correndo, mostrando como é bom se abrir com pessoas em quem confia e o quanto isso pode trazer algum tipo de paz interior.

Outra sacada inteligente do roteiro é mostrar com um besouro como o Felipe é um personagem egoísta, ao não desvirar o coitado do inseto todas as vezes que tem essa oportunidade, em contraponto a ele, Gus desvira o besouro demonstrando como o personagem tem um bom coração.
O elenco é muito bom, Paulo Vilhena (Gus) está super à vontade e convence como uma pessoa boa que nunca conseguiu atingir seus objetivos na vida. Júlio Andrade (Cazé) e Martha Nowill (Drica) convencem como casal e ambos estão muito bem em cena. Maria Ribeiro (Silvana) carrega uma grande carga dramática em seu personagem e consegue se destacar. Carolina Dieckmann (Lucia) é a única que destoa um pouco do restante, ela tem um papel importante na trama mas não convence, com certeza é o elo mais fraco do elenco. Lee Taylor (Rafa) tem pouco de tempo de tela, porém é o suficiente para demonstrar que o ator tem muito carisma. O show entretanto fica por conta de Caio Blat (Felipe), ele tem o maior arco emocional do filme e esbanja talento, seu personagem é orgulhoso e egoísta, o ator conseguiu transmitir todas as suas emoções e sentimentos de forma magnífica.

A direção é certeira em focar nos aspectos humanos e nas relações de seus personagens, o roteiro até conta com um segredo que pode vir a ser revelado em seu final, mas esse não é o principal foco da trama, isso é somente pano de fundo para um grande estudo de personagem, um estudo sobre as pessoas e seus problemas.

A fotografia de Gustavo Hadba é estupenda, se aproveita bastante das belíssimas paisagens da Serra da Mantiqueira e enaltece a grandiosidade do local.

A trilha sonora original composta por Beto Villares é linda e marcante, se encaixa perfeitamente com o tom do filme, transmite angústia e medo na medida certa.
Entre Nós tem tudo que uma película precisa ter para ser chamada de filmaço, um excelente roteiro, uma direção que faz de tudo para entregar as melhores tomadas para aproveitar o ambiente, atuações inspiradíssimas com destaques para Maria Ribeiro e Caio Blat e uma trilha original marcante. Com certeza um dos melhores produtos nacionais dos últimos anos.

Título Original: Entre Nós

Direção: Paulo Morelli e Pedro Morelli

Duração: 100 minutos

Elenco: Caio Blat, Carolina Dieckmann, Martha Nowill, Maria Ribeiro, Júlio Andrade, Paulo Vilhena, Lee Taylor

Sinopse: Sete jovens viajam para uma casa de campo e decidem escrever cartas para serem abertas dez anos depois. A viagem acaba em tragédia, com a morte de um dos amigos. Após uma década, o grupo volta a se reunir e revive emoções de um passado mal resolvido.

Trailer:

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