Crítica: Rua Cloverfield, 10 (2016, de Dan Trachtenberg)

Contém spoilers!

Depois da surpresa que foi o primeiro Cloverfield e de todos aqueles mistérios em volta, fãs pediam uma continuação. Oito anos se passaram e o produtor J.J. Abrams juntamente com a equipe da Paramount prepararam a continuação, novamente em segredo. O trailer, que saiu no início de 2016, pegou muitos de surpresa, tanto por retomar a franquia como por ter um conceito diferente. Assim, esta desejada continuação se tornou ao  mesmo tempo inesperada. Mas afinal, o filme é bom? Intitulado Rua Cloverfield, 10, o thriller foi uma das grandes surpresas de 2016.

O longa começa com a personagem da atriz Mary Elizabeth Winstead fugindo de casa (e de seu relacionamento), e sofrendo um acidente. Após acordar, ela se vê acorrentada em um abrigo nuclear, onde um homem paranoico, o veterano John Goodman, a mantém juntamente com um outro homem (John Gallagher Jr.), presos. A partir daí, o roteiro brilhantemente explora as características dos três únicos personagens, mantidos neste lugar apertado e sob circunstâncias estranhas. O que será que ocorreu lá fora para aquele homem mantê-los ali? Guerra nuclear? Terrorismo? Ataque biológico? Possibilidade de contatos alienígenas? Tudo paranoia? 


Dos três, John Goodman ganha um aprofundamento psicológico incrível, trazendo sua melhor performance em muito tempo. Sua desconfiança e paranoia ganham bases emocionais inesperadas e às vezes assustadoras. Já Mary Elizabeth Winstead traz uma protagonista diferenciada deste tipo de filme. Ela está sempre na defensiva, é rápida e engenhosa. Não perde tempo como a maioria das “mocinhas” dos filmes, mas age direto. Ao mesmo tempo em que é falha, tem o defeito de fugir das situações e sua pressa de sair diante tudo aquilo não deixa de expô-la ao perigo.


Se o roteiro brinca em fugir do primeiro filme e ser bastante diferente, construindo lentamente a tensão e claustrofobia dentro daquele ambiente, no terceiro ato temos uma série de reviravoltas explícitas. De um lado temos o confronto que resolve os mistérios dos três que estão confinados. E logo após temos as revelações e correrias que ligam pontos deste filme com o primeiro. Muitos reclamaram das cenas explícitas serem jogadas tão de repente em nossa cara. Mas, afinal, estamos falando da “continuação” (na verdade paralela) de Cloverfield e tais elementos fantásticos seriam inevitáveis no final. Estes elementos lançam ainda mais discussões sobre as teorias malucas envolvendo os filmes, além de supostamente explicar algumas coisas.

O mais plausível seria encarar como uma invasão alienígena, embora ainda não tenhamos certeza absoluta. Porém há questões em aberto que devem ser melhor exploradas em futuras sequências. Um fator interessante é o destas criaturas sempre lembrarem insetos. No primeiro parecem gafanhotos e louva-deus. Neste, lembram vermes. Mas qual relação com a bebida slusho? O site aponta para um domínio em língua japonesa (http://www.slusho.jp/). Seriam referências aos kaijus, monstros gigantes da cultura japonesa, estilo Godzilla e as criaturas do filme Círculo de Fogo? Enfim, há muita teoria da conspiração, brilhantemente criada pela equipe de produção e marketing dos filmes.


Rua Cloverfield, 10 surpreende em trazer um suspense crescente e maduro, lentamente construído. O final eletrizante faz ligações com o primeiro, lança possíveis respostas, mas deixa questões maiores. O que estará por vir? Teremos um terceiro capítulo grandioso mostrando a batalha contra as criaturas? É um filme original, que positivamente se diferencia do primeiro (que já era original e bom) sem fugir da proposta e do mesmo universo. Traz uma protagonista feminina forte, efeitos especiais muito bons e usados de maneira contida e elegante. Os 20 minutos finais são de tirar o fôlego, e a direção do novato Dan Trachtenberg é dinâmica e firme. Alguns ângulos de câmera são bem inspirados, fiquemos de olho neste diretor. Se o primeiro trazia uma câmera trêmula do found footage, este aqui aposta numa câmera lenta e limpa. A fotografia dos arredores da fazenda é ótima e a utilização dos feixes de luz contra a câmera enchem os olhos. Mais uma vez somos pegos de surpresa por uma ótima produção, levemente superior ao original. E já aguardamos ansiosos por mais uma ousada sequência deste universo. Monstros se manifestam de diferentes formas, sejam eles humanos ou não.

Curiosidade: Bradley Cooper (de Se Beber Não Case!) faz uma participação como a voz no recado do noivo da protagonista, deixada na caixa de entrada.

Título Original:  Cloverfield Lane

Direção: Dan Trachtenberg


Duração: 103 minutos

Elenco: John Goodman, Mary Elizabeth Winstead e John Gallagher Jr., Bradley Cooper.

Sinopse: Uma jovem (Mary Elizabeth Winstead), após um grave acidente de carro, acorda no porão de um desconhecido (John Goodman). O homem diz ter salvado sua vida de um ataque químico que deixou o mundo inabitável, e, por isso, a manterá presa no local. Sem saber se pode confiar na história, ela tenta descobrir como se libertar.

Trailer:


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