Crítica: O Método Kominsky – 1ª Temporada (2018, de Chuck Lorre)

Envelhecer não é uma tarefa fácil. A idade traz consigo as delícias de ser alguém mais sábio, respeitado e com uma bagagem de conquistas a serem compartilhadas. Acontece que essa é a visão romântica. A idade traz também suas dores: doenças, limitações, solidão, frustrações, decisões erradas que reverberam no seu presente, entre tantas outras coisas.

Se envelhecer não é fácil, retratar esse momento da vida é ainda mais delicado. Filmes como RED: Aposentados e Perigosos, que contam a vida de ex-espiões afastados, são uma deliciosa homenagem de como todos nós podemos nos adaptar à idade. Já Amour, por outro lado, é o tipo de filme que vem para te contar a realidade.

E onde entra O Método Kominsky nisso tudo? Exatamente como uma mescla de ambas as abordagens narrativas. A série conta a história de Sandy Kominsky (vivido pelo brilhante Michael Douglas), que é um professor de teatro respeitado, e seu amigo recém viúvo, Norman Newlander (Alan Arkin dá a vida a esse interessantíssimo personagem), retratando o dia a dia de descobertas dos problemas da idade, solidão, carreira e afins.

A série foi idealizada por Chuck Lorre, que nos presenteou com famosos sitcoms, como: The Big Bang Theory e Two and Half Man. Num primeiro momento, o nome dele até assusta para esse tipo de trabalho, mas, o resultado final não poderia ter sido mais entusiasmante. O Método Kominsky trata das questões do dia a dia com uma naturalidade que talvez poucos idealizadores conseguiriam alcançar, e isso, talvez, só seja possível pela personalidade dos seus personagens.


Sandy é aquele cara que não foi um bom pai e tampouco marido, colecionando alguns divórcios, mas teve o auge da sua carreira na vida adulta. Tem uma filha que se preocupa e de uma certa forma ajuda a cuidar dele (Mindy, vivida por Sarah Baker), e tem uma escola de teatro onde seus alunos admiram qualquer coisa que ele se proponha a fazer. Como nem tudo é perfeito, ele não é chamado sequer para um comercial de TV, sua vida amorosa não deslancha, ainda que tenha bons encontros, e sua vida financeira é um desastre.

No contra ponto de Sandy, temos Norman, que é aquele homem que ficou casado por mais de 40 anos com a mesma mulher, teve uma carreira de sucesso e ainda ostenta uma posição de destaque e respeito (e é curiosa a decisão de nos mostrar o que ele faz somente nos últimos episódios), é controlado financeiramente e gosta da sua rotina. Como suas tragédias pessoais, tem uma filha viciada, Phoebe, vivida pela belíssima Lisa Edelstein, tem pouca paciência e parece ser alguém até esquecido, sendo socialmente carregado até então pela esposa, e agora, pelo seu amigo Sandy.


Essas características não ficam claras apenas pelo roteiro ágil e a atuação fora de série de ambos, mas também pelo belíssimo trabalho de figurino e design de produção, que conseguem com mérito de sobra contrapor ambos, mas sem que nunca pareçam estranhos demais para serem melhores amigos.

A série nos deixa vários recados sobre o processo de envelhecer. Um dos mais importantes, talvez seja que a mente precisa ser constantemente desafiada, e se for com algo que nos dê prazer e em contato com pessoas que estão iniciando suas carreiras ou precisam, de alguma forma, contar com sua expertise, melhor ainda. Não é à toa que Sandy dirige uma escola de teatro para novos atores. É a forma de se manter na ativa e com seu ego devidamente alimentado.

O recado mais lindo, no entanto, fica por conta da certeza que a série nos passa de que não existe certo e errado. Um homem teve um casamento fiel e duradouro, com uma carreira de sucesso, e hoje se vê viúvo e com uma filha dependente química, por outro lado, temos aquele que não conseguiu parar em um casamento e tampouco construir um patrimônio, mas, que foi agraciado pela vida com uma filha que o ama e com uma carreira que o faz sentir prazer.

Dificilmente após termos contato com esse precioso material original da Netflix, permaneceremos os mesmos, e as premiações inclusive fazem coro à qualidade da série: venceu o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia (Michael Douglas) e Melhor Série de Comédia e ainda teve Alan Arkin indicado como Ator Coadjuvante. Concorreu ainda as mesmas categorias no Critics Choice Awards e no SAG concorreu como Melhor Elenco em Série de Comédia e Alan Arkin e Michael Douglas indicados como Melhores Atores. 


A lição que fica disso tudo é fazer o melhor das nossas vidas, mas, nunca negligenciando nossos desejos e vontades, para que não nos deparemos com arrependimento ao encararmos a tão famigerada melhor idade.


Título Original: The Kominsky Method
Direção: Chuck Lorre, Andy Tennant, Donald Petrie e Beth McCarthy-Miller.
Episódios: 8
Duração: 25 minutos por episódio
Elenco: Michael Douglas, Alan Arkin, Nancy Travis, Sarah Baker, 
Sinopse: O professor de teatro Sandy Kominsky e seu melhor amigo Norman Newlander enfrentam as alegrias e tristezas da velhice com muito bom humor.

Trailer:

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