Especial: Legalmente Loira (1 e 2): Uma análise feminista e reflexão sobre os direitos dos animais

Os filmes podem ser vistos e analisados de diferentes perspectivas e com certeza é possível extrair mensagens bastante valiosas que estão por trás dos esteriótipos que carregam e que, muitas vezes, erroneamente, acabam os direcionando a um grupo seleto de pessoas ou gênero, fazendo com que se tenham um público alvo. E, por causa disso, eu sempre fui uma pessoa destinada a enaltecer esses tipos de filmes e provar que, por mais que não pareçam, podem, sim, serem vistos por qualquer pessoa, pois o seu conteúdo vai para além de quaisquer classificações existentes.

No entanto, existem alguns filmes tão injustamente julgados que cabe a mim defendê-los, e digo isso, pois vejo muito por aí pessoas não sabendo extrair a mensagem dessa duologia ou, pior, julgando-a sem antes mesmo assisti-la, apenas porque se vê pela capa uma mulher loira coberta de rosa pink segurando um pinscher, e isso, preconceituosamente, é atrelado às patricinhas, logo, à futilidade.

O primeiro filme, por si só, traz consigo esse esteriótipo preconceituoso, mas só faz isso para, posteriormente, desconstruí-lo; e faz maravilhosamente bem! É claro que no universo das patricinhas rola uma super vaidade que quem está por fora desse mundo e/ou simplesmente pertence a outras tribos não entenderá e as taxará como superficiais, fúteis, entre outros sinônimos. Mas o que as pessoas precisam entender é: cada um sabe o que lhe faz bem e tudo bem você ser exatamente quem você é, desde que você não diminua, ofenda e prejudique os demais, e é isso que Elle prega, sem perceber, em todas as suas atitudes à medida em que vai se empoderando e amadurecendo ao longo dos anos no curso de Direito, na faculdade de Harvard.


O mundo está cheio de preceitos em relação às mulheres e, um deles, é o preconceito de que se uma mulher for bonita, provavelmente é burra, e se for feia, deve ser muito inteligente; quase que descartando a possibilidade de um oposto à essa regra e, ainda pior, sustentando um padrão de beleza que não existe. O que é ser bonita(o)? Existem várias respostas para essa pergunta e todas estão corretas.


Legalmente Loira é um filme que traz uma personagem principal patricinha, bastante caricata, que aprendeu e amadureceu muito com os acontecimentos da vida. Provou que mulheres que seguem seu mesmo estilo de vida podem, sim, serem alguém na vida e fazerem coisas importantes; podem se preocupar com algo que não sejam suas unhas e seus cabelos, porém, sem deixar de se preocupar com suas unhas e seus cabelos, e essa é a grande sacada do filme. Uma mulher “bonita”, ou melhor, uma mulher com a vaidade mais aflorada que outras, ou, melhor ainda, uma patricinha, não precisa deixar de ser vaidosa só para provar que pode estudar algo que a sociedade a julga incapaz. Se pegar qualquer personalidade feminina do filme que é inteligente, mas que é julgada como “feia ou brega”, e torná-la “bonita” e toda emperiquitada, bom, ela não ficará burra num estalar de dedos… Mais vaidade e menos vaidade não definem absolutamente nada no intelecto de uma pessoa.

Elle Woods é uma super patricinha, rainha de uma fraternidade, que leva um fora do namorado, Warner, após ele romper o relacionamento com a justificativa que após se formar na faculdade de Direito e se tornar um Senador, precisará de uma mulher séria ao seu lado. A garota fica arrasada e sem pensar que fora completamente ofendida, em parte por ela mesma não acreditar em si própria, coloca na cabeça que precisa entrar no curso de Direito de Harvard para provar que é, sim, uma mulher séria, independente do seu estilo e recuperar seu amado novamente. Porém, para entrar nessa faculdade, Elle vai precisar estudar muito, pois são exigidas várias qualificações, além de uma prova onde é necessário acertar uma pontuação mínima.

Depois de uma maratona intensa de estudos consegue ser aprovada em Harvard e logo no primeiro dia já esbarra com Warner no corredor, que fica confuso e não entende o que a ex está fazendo ali. Ao descobrir, então, que ela irá começar o curso de Direito, logo se nota que ele se sentira um pouco idiota ao tê-la julgado por sua aparência, e pior, por ter achado que garotas como ela só serviam para que os homens pudessem se divertir, mas nunca ter algo sério. No entanto, embora tenhamos visto resquícios de um possível e breve arrependimento, é possível observar um demasiado machismo em seu comportamento ao longo do filme, que não mede as palavras ao dizer que Elle nunca será boa ou séria o bastante para aquela carreira. Já ela, por sua vez, usa todas essas ofensas para se fortificar cada vez mais e provar que é muito mais do que os outros pensam a seu respeito. E quanto mais essas ofensas saem da boca do ex-namorado, mais Elle vai mudando sua visão sobre ele e percebendo que está continuando na faculdade apenas por ela mesma, não mais por ele, e que seu diploma vai servir para tudo, menos para tê-lo de volta. E não faltaram oportunidades para tê-lo de volta… 

Com o seu jeito diferente e determinado, Elle conquista todos ao seu redor, incluindo seus professores mais severos. Uma parte bastante triste e incômoda, é quando um professor assedia Elle, e isso a faz duvidar de seu mérito, acreditando que só estava conquistando espaço e visibilidade com aquele professor porque este estava com segundas intenções desde o princípio. Por conta disso e contra a sua vontade, resolve desistir de Harvard e, com isso, inúmeras inseguranças do passado voltam à tona. Ela volta a pensar que realmente não é uma mulher séria, que não sabia onde estava com a cabeça ao pensar que serviria para aquele tipo de lugar, etc. Felizmente uma de suas professoras mais severas ouviu sua conversa com uma amiga no salão de beleza (e aqui, ao ver uma das melhores professoras de Harvard no salão de beleza, é mais um adendo de que mulheres inteligentes podem, SIM, cuidar da aparência) e se deu a liberdade de se intrometer à conversa, dizendo à Elle: “Se você desistir, é porque realmente não é a mulher que eu achava que você fosse.” A descoberta de Elle ao saber que uma professora como aquela lhe admirava secretamente, imediatamente foi o empurrão necessário para que a garota se desse conta da burrada que estava prestes a cometer, independente de ter passado por aquela situação bastante horrível e constrangedora com um de seus professores. 

De volta à faculdade, e agora com mais garra do que nunca, ela enfrenta os anos do curso que faltam de forma magistral. Com toda a sua dedicação e empenho, Elle vai conquistando o coração de pessoas incríveis e também o coração de pessoas que, no início, lhe julgavam pelo mesmo motivo que o ex namorado lhe julgava. Elle não é ingênua e sempre soube que ao decidir entrar naquela faculdade estaria pisando num território que não seria fácil de ser habitado, mas a cada conquista que fazia dentro daquele ambiente, tanto acadêmica, quanto pessoal, era motivo para um sorriso no rosto e para acreditar que, num passo de cada vez, ela se adequaria ao lugar, carreira e pessoas, sem que precisasse deixar de ser quem ela era, muito pelo contrário: sendo exatamente quem ela era!

O segundo filme da duo é considerado por muitos inferior ao primeiro e, novamente, terei que discordar e defender minha opinião, ou melhor, defender o que o filme está dizendo. Há quem diga que o excesso de irrealidade e exageros minaram o filme, além de ter perdido toda a essência vista no primeiro e trazido à tona toda a ”futilidade” novamente. Bom, se você é uma pessoa que gosta apenas de filmes céticos e super sérios, e se você também acredita que lutar pela causa animal é uma futilidade, eu até entendo o motivo da sua opinião, embora não concorde com a segunda parte. Mas, para àqueles que se perdem e se encantam com o cinema em suas mais diversas formas de passar uma mensagem, e para quem olha para os animais como seres e não como objetos, posso dizer que Elle Woods lhes representa!


No início do segundo filme já vimos Elle ser demitida do seu primeiro emprego, mas por um motivo muito nobre: ela permaneceu lutando pelo que acreditava e não abriu mão de seus valores morais apenas para ficar bem na fita na sua carreira. Porque o que era ”bem na fita” pra uns, para ela era o oposto de tudo que acreditava e, principalmente, ia contra todos os princípios que sua profissão tão prestigiada carregava. Elle parecia interpretar e compreender a justiça mais que quaisquer outros operadores do Direito, e acreditava fielmente que uma voz verdadeira sempre iria se sobressair a uma multidão cega ou opressora.

Em Legalmente Loira 2 nós temos mais ainda daquela Elle Woods que vimos no primeiro filme, temos ela enfrentando com toda a sua simpatia e carinho a todos que lhe julgam por sua aparência, e temos, ainda, ela lutando pelo que acredita, só que aqui a sua luta passa a ser muito mais nobre, pois esta lutando para aqueles não tem voz: os animais. Ela quer tornar ilegal os testes em animais. Com isso, a interpretação do filme vai muito além de mostrar que uma mulher bonita pode ser inteligente e fazer coisas extraordinárias, mostra, também, que testes em animais é algo completamente cruel e desumano; acaba fazendo com que se reflita que o mundo não é dos humanos e que nós não somos donos do mundo; ser superior às outras espécies, como acreditamos que somos, não nos dá o direito de tratá-las ou usá-las para nosso benefício, e sim, usar da nossa capacidade para zelar por eles.


Acreditando nesse pensamento, ela segue firme na luta com ajuda de seu noivo, suas amigas e com as demais pessoas que vai conquistando dentro da Casa Branca com seu jeito único de ser. É uma luta difícil e Elle sabe muito bem disso. Estar em um ambiente conservador predominado por pessoas que não conseguem pensar fora da caixa ou além de si mesmas, e fazer com que elas se importem, pode ser muito agonizante para uma alma empática e bondosa, mas como nada em sua vida fora fácil, ela lida com a situação como mais um desafio que precisa ser cumprido e tenta se manter de pé após tropeçar nos inúmeros obstáculos, ou melhor, armadilhas, que aparecem em seu caminho. 

Quando Elle está apresentando seu projeto de lei para todos os membros da Casa Branca e tem sua causa completamente ridicularizada pelos engravatados, é possível entender que aquela cena, que aquelas pessoas representam parte das pessoas da nossa sociedade; dessas que olham para os animais como se fossem meros objetos, menos, claro, seus pets de raça. É nítido perceber que o filme está chamando de hipócrita todos aqueles que amam seus pets mas fecham os olhos para as indústrias que os exploram, seja alimentícia, de testes e até mesmo daquelas que seguem explorando a sexualidade animal só para comprar o seu animal de raça. 


Legalmente Loira (1 e 2) consegue divertir enquanto conscientiza. Quem o assiste com o coração aberto e liberto de preconceitos consegue absorver nitidamente todas as mensagens que os filmes entregam e, quando isso acontece, é possível enxergar as pessoas para além de seus trejeitos e demais características físicas. Quando você se deparar com alguém que seja diferente de você e que luta por causas diferentes das suas, não os julgue, não os diminua, porque você também não gostaria de ser menosprezado e de ouvir que suas lutas não valem a pena. 
INFORMAÇÃO BOMBÁSTICA:

A MGM (Metro-Goldwyn-Mayer Inc.), produtora que detém os direitos dos dois primeiros filmes, fechou contrato para um terceiro filme acontecer (sim!, após 15 anos do último filme!!!) com data prevista para o Valentine’s Day de 2020. A própria Reese Witherspoon confirmou a notícia em seu Instagram, ao postar um vídeo toda patricinha na piscina com a legenda “É verdade… #Legalmente Loira 3”. 


Títulos Originais: Legally Blonde / Legally Blonde 2: Red, White & Blonde

Direções: Robert Luketic; CHarles Herman-Wurmf

Elencos: Reese Witherspoon, Luke Wilson, Selma Blair, Matthew David, Jennifer Coolidge, Ali Larter, Alanna Ubach, Victor Garber, Jessica Cauffiel, Holland Taylor, Linda Cardellini, Bruce Thomas, Oz Perkins, Raquel Welch, Meredith Scott Lynn, Tané McClure, James Read, Greg Serano, Kimberly McCullough, Allyce Beasley, Sally Field, Regina King, Bob Newhart, Bruce McGill, Dana Ivey, Mary Lynn Rajskub, Jack McGee e mais.

Sinopses: Primeiro filme: Elle Woods é uma patricinha, rainha da fraternidade onde estuda, e se vê completamente desolada após ter levado um fora do seu namorado, que deu como justificativa para o término o estilo de vida da garota, rotulando que mulheres como ela só serviam como diversão e não para manter sérios relacionamentos. Logo, para provar para si mesma e para o ex que ele está completamente equivocado, ela se esforça para conseguir entrar no curso de Direito de Harvard. Só que lá ela acaba descobrindo que sua jornada será muito mais do que apenas provar algo para um rapaz idiota que sempre esteve errado a seu respeito. 

Segundo filme: Após ser demitida do primeiro emprego por não abrir mão de seus valores morais, Elle Woods finalmente descobre pela causa que quer lutar: a causa animal. E com a ajuda de seu noivo, amigas e pessoas que vai conquistando ao longo da sua jornada na Casa Branca, ela trabalha arduamente para que seu projeto de lei, que torna ilegal os testes animais, seja aprovado. Não vai ser fácil para essa patricinha conseguir ser ouvida pelos conversadores de terno, mas quanto mais difícil a luta, mais importante é a causa e Elle não está disposta a abrir mão de fazer o bem! 

Trailers:
1.

2.


Quem aí gostou da matéria e, assim como eu, ficou super animada(o) com a notícia do terceiro filme e está super ansiosa(o) para saber o que Elle andou fazendo nesses últimos 15 anos, me deixe um comentário!!! 

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