Crítica: Colette (2018, de Wash Westmoreland)

Sempre tive um carinho especial por filmes biográficos, ainda mais os que contam a história de vida de grandes mulheres e Sidonie Gabrielle Colette é, sem sombra de dúvidas, uma existência que merece ser lembrada por muitas e muitas gerações.

Colette era uma jovem francesa cheia de anseios que se casou com Willy, um homem conquistador que ganha a vida publicando livros de escritores fantasmas. Logo no início dessa relação, Colette já teve a oportunidade de descobrir o quão trapaceiro era seu marido, mas, ainda assim, aceitou se submeter a esse homem e zelou o quanto pôde por esse casamento. Não demorou muito tempo para Willy pressioná-la a se tornar mais um de seus escritores contando histórias sobre sua vida. De maneira fluida, rapidamente ela já mostrou seus talentos para a escrita e seu marido se apossou de sua obra conquistando uma fama que chegou num piscar de olhos. Obra após obra Willy foi ganhando espaço, fazendo de sua esposa uma personagem, uma marca e ídola das mulheres que almejavam conquistar a liberdade em suas vidas e paradoxalmente calando sua voz enquanto a castrava, se apropriando de seus talentos. 


Num determinado momento, Colette chegou ao seu limite e buscou outros caminhos nos quais pudesse expressar tudo o que vivia, pensava e sentia sem que fosse manipulada ou tivesse sua criatividade sugada por tamanho oportunismo.

Esta, definitivamente, não era uma mulher comum; ela tinha uma visão e ambições que estavam muito à frente do seu tempo. Era uma mulher que buscava, visceralmente, por igualdade sem nunca se pronunciar sobre isso. Sua vida já era, por si só, um ato político. Em pleno século XIX, ela não só tinha tendências homossexuais, como as vivia de forma corajosa e autêntica. Foi buscar o que a completava e fazia seu coração vibrar; e encontrou no teatro a forma de começar a caminhar com as próprias pernas.

Colette foi uma mulher que não se conformava em viver menos do que merecia, que escolheu viver só o que a fizesse vibrar, que era guiada pela paixão, que não aceitou o cabresto de um homem, que quis ter em si sua única dona. Foi escritora, atriz, mulher, foi forte, corajosa, criativa, inteligente, foi sensível, frágil, foi poderosa, foi bissexual numa época onde a sociedade era inquisidora… ela provou para si mesma e para o mundo que rótulos eram pequenos demais para descrever sua grandeza.

Pois bem, deixando um pouco de lado a incrível vida dessa mulher, temos uma adaptação americana de uma personagem francesa feita da forma mais americana possível, e o resultado é uma produção enfraquecida e descaracterizada. Temos um “bonjour” dito aqui e acolá em cumprimentos aleatórios e mais nada que faça referência ao país e às origens da personagem, fazendo com que o filme perca, assim, boa parte do seu poder de desenrolar essa história e nos envolver. Maquiar as origens de alguém, quando contamos sua história é, para mim, tirar dela também toda a beleza de sua natureza, se perder de seus hábitos, sua língua, é perder a essência de tudo.
Ficamos com uma adaptação que poderia ser muito melhor explorada mas com boas interpretações. Keira Knightley parecia ter vindo diretamente de Orgulho e Preconceito para as gravações desse filme. Não a vejo como uma atriz espetacular mas, sim, uma que cumpre seu papel, na maioria das vezes ao menos e nunca vou entender o fascínio dos diretores em vê-la fazendo filmes de época. 
Título Original: Colette

Direção: Wash Westmoreland

Elenco: Keira Knightley, Dominic West, Eleanor Tomlinson, Denise Gough, Fiona Shaw, Rebecca Root, Shannon Tarbet, Arabella Weir.

Sinopse: Colette é uma jovem francesa que vive um casamento abusivo com Willy, um homem sedutor que ganha a vida publicando livros de escritores fantasmas. Ela é uma mulher forte, criativa e cheia de anseios, mas vive a sombra do marido que se apropria de suas obras e ganha fama fazendo da esposa sua galinha dos ovos de ouro.

Trailer: 

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