Crítica: Infiltrado na Klan (2018, de Spike Lee)




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Spike Lee está de volta! E ele ressurge com toda força possível. Não que o cineasta estivesse morto ou parado, mas, sem sombra de dúvidas, Infiltrado na Klan é um novo ápice em sua carreira. Uma obra que lhe ilumina e o eleva no olimpo cinematográfico ao qual sempre pertenceu. Um filme que abalou Cannes e irá dominar as futuras premiações. E, se isso não acontecer, problema das premiações! Elas só perdem a sua relevância ao ignorarem um filme tão importante e grandioso como esse.


Spike Lee sempre foi a voz da resistência em Hollywood. Mesmo em seus filmes mais descontraídos, o seu viés político sempre se manteve presente. Infelizmente, quase 30 anos após o lançamento do seu clássico Faça a Coisa Certa, Spike Lee ainda é uma das poucas vozes do movimento negro em Hollywood. Pouca coisa mudou nessas últimas três décadas: a Academia, por exemplo, só deu o Oscar de Melhor Diretor para um cineasta negro em 2017 e isso tudo após a grande repercussão do movimento “Oscar So White”, que criticava exatamente a dominação de homens brancos na premiação. 

É triste dizer que, em pleno 2018, Infiltrado na Klan ainda seja um filme (muito) atual e que ainda existam muitos resquícios da década de 70 em nossa sociedade moderna. Trata-se de um filme político da cabeça aos pés. Uma obra que nos recorda a dolorosa trilha histórica que os negros precisaram (e precisam) correr constantemente para manterem seus direitos mínimos garantidos. 

O longa conta a história surreal, mas verídica de Ron Stallworth (o ótimo John David Washington), o homem que – depois de muitas ressalvas – tornou-se o primeiro policial negro a trabalhar na Polícia do Colorado Springs. Constantemente humilhado, rebaixado a um cargo inferior e vítima de ataques racistas na própria delegacia, Ron decide dar uma guinada em sua carreira. Depois de ver um anúncio da Ku Klux Klan(!) em um jornal local, ele resolve entrar em contato e se passar por um deles. O preconceito racial era descarado na poderosa América dos anos 70. Quando as conversas com o grupo vão avançando e a intimidade entre eles é estabelecida, Ron aciona um outro policial branco (e judeu) para se passar por ele nas obscuras reuniões da KKK. Esse homem é Flip Zimmerman (um competente Adam Driver), um policial que nunca enfrentou problemas por ser judeu, mas que passa a se incomodar muito com o latente racismo presente nos discursos e ações maléficas do grupo. 

Os problemas começam a aparecer quando o grupo radical desconfia da real identidade do policial infiltrado. É nessa premissa maravilhosa que Spike Lee se esbalda e tira o melhor dela. Não existe um diretor melhor para conduzir essa trama e Spike o faz de forma extraordinária: ele faz referências a si mesmo, homenageia a blaxploitation e  ainda dá espaço para uma forte e pertinente crítica ao atual governo do presidente Trump.

Spike é bem didático em sua mensagem. Em determinado momento, o diretor utiliza-se de cenas reais e recentes de protestos em defesa da supremacia branca em Charlottesville e atos do movimento “Black Lives Matter”. Ou seja, os fatos de 1970 perpetuam até hoje. E, por mais que o filme seja um soco no estômago, Spike Lee torna a obra extremamente acessível e até engraçada. O humor ácido e crítico de Infiltrado na Klan se assemelha muito ao de Bastardos Inglórios, a obra-prima de Quentin Tarantino. 


Muitas cenas do longa dialogam diretamente com o atual realidade brasileira: a negação de fatos históricos, a disseminação de fake news, o preconceito desvelado, o ataque aos movimentos sociais (…) É uma pena que uma trama sobre a Ku Klux Klan guarde muitas semelhanças com o Brasil de 2018. E também é importante lembrar que David Duke, o ex-líder do grupo racista e antissemita, que no filme é interpretado pelo ator Topher Grace, recentemente reconheceu Bolsonaro como um possível integrante da KKK: “Ele se parece com um de nós”. Agora é só torcer para que 2019 não repita os acontecimentos históricos mostrados em Infiltrado na Klan, que é uma grande obra-prima.


Título Original: BlacKkKlasman

Direção: Spike Lee



Duração: 128 minutos


Elenco: John David Washington, Adam Driver, Topher Grace, Laura Harrier, Ryan Eggold, Corey Hawkins, Jasper Pääkkönen e Ashlie Atkinson
Sinopse: Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas. 

Trailer:



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