Crítica: Nada a Esconder (2017, de Fred Cavayé)

O cinema europeu sempre nos brinda com títulos reflexivos sobre aquilo que mais renegamos a pensar: nossa intimidade. Foi assim com Amour, Caché, Elle e tantos outros. Numa intensidade menor, surge das mãos do talentoso Diretor e Roteirista, Fred Cavayé (À Queima Roupa, Um amável pão duro, Tudo por ela), o divertido e igualmente reflexivo, Nada a Esconder. O filme começa com uma premissa básica interessantíssima: um eclipse lunar.

Para quem gosta de astrologia e é estudioso do assunto, sabe que um eclipse lunar gera um período de incertezas emocionais. A partir do início deste eclipse, Marie (vivida por Bérénice Bejo) dá a ideia de que todos coloquem os celulares no centro da mesa, e a partir de então, cada mensagem, e-mail, ligação recebida, seja lida/atendida em voz alta para todos da mesa. Um prato cheio para desentendimentos. Para quem acompanha o catálogo Netflix, sabe que existe outra obra parecida com o nome de Perfeitos Desconhecidos, e sim, trata-se da mesma fórmula. Ambos, por sinal, fazem parte de 5 remakes que o original italiano de 2016 teve.



A partir desta “maravilhosa” ideia, à medida que o eclipse se intensifica, as verdades mais sombrias começam a ser escancaradas à mesa, e podemos ressaltar o primeiro ponto de qualidade do longa: o roteiro.


Como um filme que conta basicamente com um só cenário e tem a mesma duração do evento retratado pode prender tanto a atenção de quem o assiste? O roteiro é um grande acerto do longa, tendo a dosagem certa em cada um dos seus atos, de tal forma que nunca se torna um filme cansativo, ao mesmo tempo que não entrega nada antes da hora. Até o final continuamos a nos surpreender com as verdades que vão surgindo daquele embaraçoso jogo.

Além de trabalhar com o roteiro de forma bem estruturada, o tema é interessante e diria que até certo ponto necessário. Em algum momento da vida das pessoas próximas e com mais de 30 anos, a era digital trouxe a possibilidade de estendermos nossas vidas, o que acabou por se tornar a criação de uma vida paralela, que para uma grande parte das pessoas é impensável compartilhá-la com as demais.


Mas é quando essa outra vida de cada um dos personagens começa a ser desnudada, que vemos outro grande acerto do filme: a crítica social ao comportamento da sociedade diante das diferenças, de como a sociedade muitas vezes parece super evoluída, mas, não quer discutir ou aceitar determinas discussões em seu quintal.



O elenco que dá vida à essa estória é composto por grandes nomes do cinema francês. Além de Bérénice Bejo, que ganhou o mundo – e a crítica – com O Artista, temos Vincent Elbaz, do recente Eu não sou um homem fácil, Suzanne Clément – que rouba a cena e faz a personagem que talvez mais cause identidade com o público, Roschdy Zem (Dias de Glória), Doria Tiller, Grégory Gadebois e o sempre ótimo Stéphane De Groodt.


É um filme que funciona como um ensaio ao psicodrama e que merece nossa atenção e reflexão, principalmente em como estamos lidando com a tecnologia. Ao lado de Buscando…, é outro grande filme que propõe de uma certa forma essa discussão.



Título Original: Le Jeu


Direção: Fred Cavayé


Elenco: Bérénice Bejo, Vincent Elbaz, Suzanne Clément, Roschdy Zem, Doria Tiller, Grégory Gadebois e Stéphane De Groodt.


Sinopse: Para apimentar a noite, velhos amigos resolvem compartilhar as mensagens privadas do celular. Os resultados são desastrosos.

Trailer:

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