Crítica: Millennium: A Garota Na Teia de Aranha (2018, de Fede Alvarez)



Em 2009, a Suécia conhecia cinematograficamente Os Homens Que Não Amavam As Mulheres, adaptação do livro homônimo do jornalista Stieg Larsson de uma trilogia aclamada pelos fãs e elogiada pela crítica. Com o sucesso do filme, o mercado americano logo viu o potencial que a trama alcançou e, logicamente, como tantas outras obras internacionais, produziu a sua versão através do excelentíssimo diretor David Fincher (Mindhunter, House Of Cards).

Em ambas as versões, o filme conseguiu apresentar uma trama bastante envolvente, colocando mais uma vez o empoderamento feminino no centro das atenções e dando grande destaque as atrizes Noomi Rapace, ganhando notoriedade no cinema americano, e Rooney Mara na pele de Lisbeth Salander. O reconhecimento veio através de premiações e indicações de ambas em importantes eventos como o Oscar e o BAFTA Awards. 




Com a morte do criador da trilogia, outro jornalista sueco, David Lagercrantz, deu seguimento ao trabalho e escreveu mais dois novos livros: A Garota Na Teia De Aranha e O Homem Que Perseguia Sua Sombra. Assim, o quarto livro ganhou sua adaptação para o cinema, mas será que a consistência da franquia permaneceu? Partindo deste princípio, algumas dessas escolhas podem colher positivos frutos, outras se arrojam no declive narrativo e podem passar de despercebidas para o esquecível. Millennium: A Garota Na Teia de Aranha que o diga. A nova trama da saga é mais um caso questionável de continuações e ideias totalmente equivocadas, ao ponto de desconstruir tudo aquilo já passado em tela.


Novos rumos estão cercando a história. Agora, Claire Foy (The Crown) interpretando Lisbeth Salander, hacker já conhecida pelos seus feitos como uma anti-heroína em defesa das mulheres. Distante de qualquer contato midiático e tendo uma vida solitária, Salander tem uma nova missão: contratada por um ex-funcionário do serviço de segurança americano e criador do programa Firefall, Balder (Stephen Merchant), Lisbeth tem a incumbência de roubar esse software do governo americano para ser deletado em virtude do seu iminente perigo. O que ambos não esperavam é que um grupo, denominado Aranhas, também está interessado nele.


A nova mudança de características da personagem pode funcionar como lucro para a perspectiva hollywoodiana na versão feminina de James Bond. Entretanto, a nova personalidade da protagonista distancia radicalmente todo o seu idealismo criado na trilogia de Larsson. Mesmo com a sua ligação ainda cercada de dramas do passado, aqui a ação toma conta, a trama não rende a profundidade esperada pelos fãs e críticos e distancia todo o apreço que se tinha pela verdadeira luta de Lisbeth. 


Aqui, temos uma Lisbeth Salander (Foy) ainda perturbada com o seu passado, psicológico afetado, porém a  sua solidão é rapidamente preenchida pela missão que lhe é atribuída. Com todo esse jogo de gato e rato para ter êxito em sua jornada, o seu embate é menos exacerbado das tensões anteriores aqui nesse filme. Não temos uma verdadeira afinidade pelas emoções da personagem, vemos apenas alguém que deseja buscar a finalização do trabalho e enterrar os fantasmas do passado sem nenhum aprimoramento mais emotivo, apenas jogado aos tubarões enquanto aguarda o “balacobaco” que irá resultar.


O filme até consegue abordar bem o lado da espionagem com elementos bastante complexos e interessantes, como a relação dos Estados Unidos com a Suécia através do agente de segurança americano, interpretado por Lakeith Stanfield (Corra!), armas nucleares e terrorismo. Mesmo assim, Millennium: A Garota Na Teia De Aranha não apresenta fluidez impactante na trama. Culpa disso também transparece em um roteiro menos inspirador e cheio de lacunas substanciais.


Claire Foy não desaponta como Lisbeth Salander, mas está longe de ser Rooney Mara, indicada para o Oscar pelo papel. A britânica cria bem o sotaque sueco, consegue, de fato, exercer bem fisicamente suas cenas de ação, contudo regular em sua atuação, não mais que isso. Fora ela, outros personagens estão “esquecidos” ou sem combustão para criar algo interessante. É o caso de Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason), deixado em segundo plano e sem qualquer tipo de impacto dentro da trama, e da sem graça e antipática vilã (Sylvia Hoeks), que mesmo com toda ligação que tem com a protagonista, é um marasmo só.


Com a queda da censura de 18 anos para 12, Millennium: A Garota Na Teia De Aranha distorceu tudo que vinha sendo dramatizado, repaginou depressivamente e criou novos ares totalmente comportados sem nenhuma austeridade de fatos impactantes. A direção de Fede Alvarez (A Morte do Demônio), mesmo com toda a exuberante fotografia fria da Suécia, não consegue trazer a verdadeira chama da saga e desleixa em um roteiro amargo em suas ideias. O significado real da trama, infelizmente, será a nova dedução de lucrar do que salientar histórias que prendam a atenção de quem assiste. Para os amantes de ação, é um bom filme com a Bond Girl!

Título Original: The Girl in the Spider’s Web: A New Dragon Tattoo Story
Direção: Fede Alvarez

Elenco: Claire Foy, Sverrir Gudnason, Lakeith Stanfield, Sylvia Hoeks, Claens Bang, Vicky Krieps, Stephen Merchant e Cameron Britton.
Sinopse: Estocolmo, Suécia. Graças às matérias escritas por Mikael Blomkvist (Sverrir Gudnason) para a revista Millennium, Lisbeth Salander (Claire Foy) ficou conhecida como uma espécie de anti-heroína, que ataca homens que agridem mulheres. Apesar da fama repentina, ela se mantém distante da mídia em geral e levando uma vida às escondidas. Um dia, Lisbeth é contratada por Balder (Stephen Merchant) para recuperar um programa de computador chamado Firefall, que dá ao usuário acesso a um imenso arsenal bélico. Balder criou o programa para o governo dos Estados Unidos, mas agora deseja deletá-lo por considerá-lo perigoso demais. Lisbeth aceita a tarefa e consegue roubá-lo da Agência de Segurança Nacional, mas não esperava que um outro grupo, os Aranhas, também estivesse interessado nele.

Trailer:


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