Crítica: Bohemian Rhapsody (2018, de Bryan Singer)

“A única coisa mais extraordinária do que a sua música é a sua história”. A frase, que ilustra o cartaz de Bohemian Rhapsody, pode traduzir adequadamente bem a carreira de sucesso de Freddie Mercury e do Queen. Mas o que os bastidores poderiam nos revelar sobre a personalidade astuta e artisticamente magistral do cantor sobre a sua vida particular, suas criações líricas e o comportamento com o grupo? A cinebiografia demonstra parte disto e, mesmo com todo os problemas que rodearam a produção do filme, tivemos um conteúdo fiel, atendendo tanto às expectativas dos fãs da banda e do cantor quanto à espectador. 


As discrepâncias do longa poderiam colocar Bohemian Rhapsody em risco de veiculação. Inicialmente, Sacha Baron Cohen (O Ditador) foi o escolhido para viver Freddie, porém o desencontro de ideias com a produção sobre a construção de caracterização de personagem e a montagem da trama com os integrantes do Queen o fizeram desistir da interpretação ainda em 2013. Logo, os rumores de o filme não sair mais da gaveta ficaram maiores, ainda mais com a constante troca de direção, passando de mãos em mãos até chegar em Bryan Singer. Com o diretor, o novo protagonista da trama seria Rami Malek (Mr. Robot). Assim, no meio de 2017, o filme finalmente começou a dar os primeiros passos e fluir com a produção, até outro fato colocar em cheque a finalização e estreia do filme: Singer foi dispensando da direção após fatos começarem a aparecer girando em torno de sua saúde e até mesmo supostas divergências com Malek. Dexter Fletcher foi prontamente contratado e assumindo a direção em dezembro, finalizando o filme em janeiro deste ano de 2018. 


Todo esse “caos” não prejudicou o filme, pelo contrário, a sensação era de estar assistindo um documentário especial de Freddie Mercury, onde conta-se toda a transformação desse ídolo eterno, que é ainda mais reforçada pelo fato de Rami Malek ter entendido a filosofia do cantor e ter se entregado de corpo e alma ao personagem, renascendo um músico dentro do filme. A trama não exigiu muito do ator. A cronologia dos fatos o deixaram em uma zona de conforto proposta da direção. A linha do tempo se dá no início da conturbada relação que tinha com o pai e a rebeldia do rapaz em transcender a sua áurea artística após conhecer Brian May e Roger Taylor, integrantes da banda colegial, Smile

A transição dos fatos é breve e intensa em tela, e vemos a sua transformação radical de Farrokh Bulsara em Freddie Mercury e da ascensão da banda, agora Queen, dentro do Reino Unido. Em contraponto, as questões sobre a sua sexualidade e o envolvimento com as drogas são abordadas de forma menos abrangente, fato da produção não roteirizar o lado mais sombrio do cantor e destacar positivamente o eufemismo artístico.


Um ponto que muitos fãs podem se queixar de Bohemian Rhapsody está justamente em um fato temporal envolvendo o nosso Brasil, que relata acontecimentos do Queen no primeiro Rock In Rio, alguns anos antes do verdadeiro clássico e memorável show ter ocorrido. A falta de uma menção profunda sobre Jim Hutton – companheiro de Freddie até seus últimos suspiros –  é outra questão que o filme não usa ao seu favor, qual poderia dar mais riqueza à obra. Fora isso, o filme segue seu paradigma narrativo passeando pelas músicas mais marcantes da banda e o modo de composição delas com a envolvência do grupo em algumas, como aborda o filme, por exemplo, em We Will Rock You.

A direção de arte e, principalmente, a equipe de casting é um dos pontos para se destacar. Gwilym Lee (O Turista) é o espelho de Brian May, as semelhanças parecem tão assimétricas que parece estarmos diante do guitarrista no filme, assim como Joseph Mazzello (A Rede Social), identicamente a John Deacon. Ben Hardy (X-Men: Apocalipse) é o que menos se assemelha ao interpretar, fisicamente, Roger Taylor, porém ele e o restante dos atores, incluindo Rami Malek, conseguem criar uma verdadeira família, criam cenas com bons diálogos, tiradas com bastante humor e as discussões simpatizam a interação do telespectador. A química é grandiosa e é bem traduzida quando o quarteto está confinado em um estúdio para a gravação do álbum A Night Ate The Opera, totalmente isolados da cidade. A escolha por manter a voz original de Freddie Mercury durante as canções deixam o fã mais próximo com a saudosa figura do cantor.


Bohemian Rhapsody é eficiente em sua dramaturgia de enaltecer Freddie Mercury e a banda Queen.  A cena final é o que resume bem a sinergia e doação harmônica que todos da produção se despuseram para transmitir o sentimento de gratidão por esse artista icônico da música mundial. Por isso, quando estiverem na sala de cinema, contemplem cada minuto do filme, deixem os seus ouvidos absorverem os maiores hits da banda ao mesmo tempo que sua boca esteja cantarolando.

Título Original: Bohemian Rhapsody

Direção: Bryan Singer

Elenco: Rami Malek, Joseph Mazzello, Gwilym Lee, Ben Hardy, Lucy Boynton, Aaron McCusker, Tom Hollander, Aidan Giller, Allen Leech e Mike Myers.

Sinopse: Freddie Mercury (Rami Malek) e seus companheiros, Brian May, Roger Taylor e John Deacon mudam o mundo da música para sempre ao formar a banda Queen durante a década de 1970. Porém, quando o estilo de vida extravagante de Mercury começa a sair do controle, a banda tem que enfrentar o desafio de conciliar a fama e o sucesso com suas vidas pessoais cada vez mais complicadas.
Trailer:


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