Crítica: Operação Final (2018, de Chris Weitz)


Talvez o tema “Segunda Guerra Mundial” já tenha dado excelentes frutos como A Lista de Schindler, O Pianista e Bastardos Inglórios,
mas o fato é que, ainda hoje, filmes sobre o tema são produzidos e
amplamente assistidos mas, às vezes, apresentam alguns sinais de esgotamento, ou excesso de romantização. Será que não
teríamos ido longe demais ao explorar o tema?

O longa, lançado recentemente pela Netflix, Operação final, parece abordar um outro lado das consequências causadas pela Segunda Guerra Mundial, como a fuga de importantes membros do partido nazista para países da América Latina. Operação Final narra a operação de mesmo nome que prendeu Adolf Eichmann, arquiteto do Holocausto. Com a localização de Adolf Eichmann revelada, um grupo de agentes israelenses querem trazê-lo a julgamento dentro do próprio território de Israel. Para isso, devem agir secretamente em território argentino sem levantar qualquer suspeita, na possibilidade de causar uma crise diplomática. É, de fato, uma problemática interessante e baseada em fatos reais, mas falta profundidade e contextualização.


O período político que gira em torno de todas as nações citadas pelo filme é colocado de lado. A América Latina vivia um contexto político intenso, às portas de várias ditaduras que começariam em um período próximo ao tratado pelo longa, ainda mais na Argentina, palco da trama. O mundo vivia uma polarização centralizada nos EUA e na URSS, colocando cada pequena instabilidade internacional como uma possibilidade iminente de guerra, o que deixa a fuga de membros da SS para a Argentina (e Brasil com Joseph Mengel, diga-se de passagem) como um ponto impossível de ser colocado fora desse contexto. O foco do roteiro é quase que inteiramente dentro de como a operação ocorrera, o que acaba dando uma sensação de que o mundo vivia determinada estabilidade que não existiu, romantizando certas intrigas e ações, enquanto outros temas poderiam preencher o filme e dar mais força a história contada.
Mas, como filme, existe certa tensão que o deixa razoável. É a função mínima de uma história baseada em fatos reais: sabemos o final, mas ainda temos a expectativa de saber o que vai acontecer. Ponto que faz do filme fluido, com poucos momentos tranquilos, mas que falha em resolver todos os conflitos, criando tramas secundárias que não se solucionam, ou que são resolvidas de forma bem rasa, para dar espaço à trama da operação.



Fotografia e direção seguem um padrão estético dos anos 60, mostrando Buenos Aires de uma forma que até consegue transmitir a sensação da época, mas esse mesmo filtro que remete ao passado deixa um tom de artificialidade que não dá muito realismo aos ambientes arquitetônicos do filme. A impressão que fica é que, por conta de um orçamento que não permitia certa sofisticação de cenários ambientados, a solução foi, além do filtro e figurino, colocar várias cenas em locais fechados ou de campo aberto, sem prédios.

As atuações são razoáveis, com alguns nomes de peso, mas também mal aproveitados. Oscar Isaac é um personagem padrão de filmes noir, fora de um filme noir,  com uma motivação séria, apenas. Mélanie Laurent, parece que fora escalada como mera referência para causar similaridade ao público, por conta de seus trabalhos em outras obras de mesmo tema, como Bastardos Inglórios. O papel dado a ela é raso e vago, se comparado à importância inicial da personagem.


Operação Final é um filme razoável que causa incômodos, assim como deixa muito a desejar; tenta vender um thriller investigativo de base política que poderia ser muito mais do que é, se abordasse justamente a proposta política. Fica na superfície e em pequenas escalas ao abordar assuntos globais e históricos. No mais, uma das cenas finais do filme mostrando cenas reais do Holocausto deixa, talvez, uma das grandes mensagens sobre o que deve ser dito sobre os campos de concentração: “não há mais nada a ser dito”.

Título Original: Operation Finale


Direção: Chris Weitz

Elenco: Oscar Isaac, Ben Kingsley, Mélanie Laurent, Lior Raz e Nick Roll

Sinopse: Após descoberta a localização de Adolf Eichmann, o arquiteto do Holocausto, um grupo de agentes israelenses montam uma operação secreta para retirá-lo da Argentina e levá-lo para julgamento dentro do território de Israel, correndo o risco de causar uma crise diplomática.
Trailer:
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