Crítica: O Fantasma do Paraíso (1974, de Brian de Palma)

Quem acompanha o blog sabe que sou apaixonado por clássicos. Sou igualmente apaixonado por musicais e mais apaixonado ainda por suspense, terror e filmes que de algum modo exploram o oculto. Estou sempre à procura de novas obras clássicas que ainda não tive o privilégio de assistir. Ontem tive a excelente experiência de ver uma obra cult incrível. O Fantasma do Paraíso é um dos mais fantásticos clássicos de horror que já assisti. Direto do túnel do tempo, volte comigo até 1974. Pronto para a viagem?

Os filmes de Brian de Palma são sempre puxados para o terror e a tensão psicológica. Pai de grandes obras como Irmãs Diabólicas, Pecados de Guerra, Carrie – A Estranha, Femme Fatale e Missão Impossível (o primeiro), de Palma merece palmas! Aqui, o diretor demonstra todo seu talento ao dirigir, com um jogo de câmera magistral e impecável. Muito bem filmado e executado, ele de certa forma diz: “Está vendo os detalhes? Este filme é meu!” 

Brian de Palma sempre mostrou toda sua criatividade nos seus filmes. Aqui ele mais uma vez mostra isso, executando inclusive sua ousada técnica da imagem dividida em várias câmeras (era avançada para a época). Ele extrai atuações convincentes do elenco. Elenco este pequeno, porém satisfatório. Destaque para a linda e talentosa Jessica Harper, que depois deste filme brilhou no perfeito Suspiria (obra máxima do terror de todos os tempos). 

Neste terrível e melancólico enredo, sentimos profunda pena do personagem central. Mesmo com doses incríveis de humor negro e sátiras à clássicos da literatura de fantasia, fora às referências ao mestre do suspense Alfred Hitchcock (cujo de Palma sempre seguiu os passos); O Fantasma do Paraíso é muito triste e cativante. A junção do mito de Fausto, do clássico musical de horror O Fantasma da Ópera e do demoníaco O Retrato de Dorian Gray; funcionou surpreendentemente bem. O diretor, que também roteiriza, pegou um pouco de cada mitologia e adaptou a uma dita ópera rock, no melhor estilo anos 70. Canções marcantes da época, realmente clássicas, permeiam a obra. 

É engraçado ver o visual das roupas e cabelos em plenos anos 70. Arranca algumas risadas o desempenho dos cantores da época. Mas ao mesmo tempo é nostálgico ver o que já “fez a cabeça” das pessoas. Hoje assisto a pérolas daquela época e me pergunto como seria viver no meio de toda aquela evolução cultural. Tudo parecia mais inteligente. Uma prova são os excelentes filmes saídos da lendária década de 1970. O Fantasma do Paraíso nos blinda com o melhor do entretenimento descompromissado, porém com uma cultura pop muito rica e rara.


Algo que me chamou a atenção no filme foi a ótima direção de arte. O extremo cuidado com que cada cenário e plano de fundo foi feito, tudo impecável. Em certos momentos lembra o já citado Suspiria, e o clássico A Laranja Mecânica, tamanha qualidade de arte, figurino e maquiagem que o filme recebeu. Imagens de círculos, losangos, quadrados; cores berrantes como roxo, vermelho e verde; tudo com um corredor ou uma peça escura. Elementos berrantes e de cores vivas se mesclam com o obscuro e o dark. Mensagens visualmente sublineares do gótico, dark e punk estão no filme, sendo um deleite para que curte justamente produções diferentes, psicodélicas e em que as imagens falam mais que os diálogos.

O Fantasma do Paraíso é uma obra fantástica. Um excelente exemplar de uma obra obscura e poética! Horrível e lindo ao mesmo tempo. Tem humor negro, mortes que beiram ao trash, um ritmo artístico teatral impecável, um visual dark, gótico e psicodélico. Uma obra de ópera rock terror excelente. O nosso fantasma é triste e ingênuo; mesmo que vingativo. Com um visual assustador e excelente maquiagem (dentes de metal, lábios roxos, capacete), o fantasma faz você querer acompanhá-lo até o fim. O ritmo dançante e contagioso das cenas musicais temperam ainda mais esta excêntrica experiência cinematográfica. Pena que não se fazem mais filmes destes. Ainda bem que com certo esforço ainda encontramos relíquias como esta. Saído diretamente de 1974, aprecie esta obra prima que traz o melhor da melancolia, da nostalgia, da música e do terror. Volte no tempo 39 anos atrás.


Título Original: Phantom of the Paradise

Direção: Brian De Palma

Elenco: Paul Williams, William Finley, Jessica Harper, Gerrit Graham, George Memmoli.

Sinopse: Swan (Paul Williams) é um famoso produtor de discos, que rouba de Winslow Leach (William Finley), um desconhecido compositor, uma cantata que retrata a trajetória de Fausto, o lendário mago, que vendeu sua alma ao diabo. Winslow tenta protestar, mas acaba sendo incriminado por Swan e é condenado à prisão perpétua como traficante, sendo enviado para Sing Sing. Enquanto Swan planeja usar a música roubada para inaugurar o “Paraíso”, uma nova casa de espetáculos que está planejada para ser o novo templo do rock, Winslow consegue fugir da prisão. Ele pretende se vingar de Swan, mas sofre um terrível acidente em uma prensa de disco, que deixa seu rosto desfigurado. Perseguido por um guarda, Winslow acaba caindo em um rio, sendo dado como morto. Porém alguns acidentes começam a acontecer quando Swan está prestes a inaugurar o “Paraíso”.

Trailer:

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