Crítica: Atypical – 1ª Temporada (2017, de Joe Kessler e mais)

Eu, particularmente, amo séries ou filmes em que os protagonistas não se encaixam no contexto considerado “normal”, acredito que os personagens que possuem características divergentes do restante, têm uma riqueza de personalidade que o transformam em algo único e interessante.

Desde os vilões, que muitas vezes têm apelo significativo dentro da trama, aos personagem desajustados como nos filmes Submarine e As Vantagens de Ser Invisível, que tentam interagir com o meio em que estão inseridos, de forma a se transformar e também modificar as outras pessoas que passam pela sua vida.


E isto é o mais interessante das pessoas que são completamente avessas ao tradicional, elas possuem pontos de vista divergentes que nos fazem pensar por outro ângulo, e é exatamente neste contexto que Atypical se insere. Daqui em diante, para analisar a série, soltarei alguns spoilers, então, se você ainda não assistiu à série, corra para as colinas!

Em Atypical, observamos o adolescente Sam (Keir Gilchrist), já em suas primeiras cenas, em uma consulta com sua psicóloga, onde ele descreve traços obsessivos de personalidade, e logo em seguida, conhecemos sua família e amigos. E se você não tem ciência do que se trata a série, aos poucos descobre seu diagnóstico de transtorno de espectro autista.

Sam aparenta ser um adolescente típico, com seus amigos e questões da idade, tirando o fato de não ter filtros em sua fala e não conseguir expressar sentimentos de forma clara. De forma didática, compreendemos o universo do autismo visto através dos olhos de um autista.



Keir Gilchrist se encaixou tão perfeitamente em seu papel que não sabemos onde termina o ator e começa o personagem. Diversas vezes nos recordamos do nerd e inteligente Sheldon Cooper (Jim Parsons), de The Big Bang Theory, o que não significa que todos os autistas são nerds ou vice-versa, isto é um grande clichê da série, pois existem vários níveis de autismo, mas, esta associação a Sheldon faz com que o personagem principal seja cativante e reconfortante.

Apesar de observamos em alguns momentos o bullying com Sam, este não é o foco da série, e esta é a premissa mais acertada da Netflix, que já abordou outros temas fortes como anorexia, bullying e suicídio. Neste caso, como Sam provavelmente possui Asperger, que é a forma mais branda do autismo, conseguimos ver que ele, apesar de viver em seu mundo isolado, típico do seu diagnóstico, participa do contexto escolar, de suas atividades com seu amigo completamente desconexo de seu mundo e de sua família. Aliás, observamos sua própria irmã, Casey (Brigette Lundy-Paine), fazer piadas com as compulsões e escolhas do irmão, como toda dinâmica familiar.

Na série não conhecemos apenas a desenvoltura do rapaz, mas também de sua irmã e sua culpa por crescer, além da incerteza de tomar algumas decisões que não envolvam seu irmão, descobrimos alguns aspectos protetores de sua personalidade, do abandono temporário de seu pai, e a fuga através de um relacionamento extraconjugal de sua mãe.

Observamos também o pensamento rápido do personagem e a obsessão dele por pinguins e pela Antártida, geralmente, pessoas com Transtorno de Espectro Autista (TEA) possuem intenso interesse por determinados temas e estudam eles tão profundamente que tornam-se repetitivos. 

De certo modo, alguns autistas possuem uma fascinação incrível por água, o que faz muito sentido na trama, visto que o mar é uma imensidão obscura a ser explorada, e Sam busca explorar diversos temas, entre eles a descoberta de sua sexualidade e dos relacionamentos amorosos, que já são um assunto muito complicado para adolescentes em geral, e com certeza, ainda mais por um que está ainda descobrindo como funciona sua empatia. 

Sam, apesar de curtir sua rotina, quer também criar relações com outras pessoas, possivelmente inspiradas pelo interesse em pinguins, que constroem famílias, e nesta busca, conhece uma candidata a namorada, que sente-se confortável e inspirada por ele, e assim acontecem uma série de eventos em que o personagem passa a se conhecer e também identificar como seus sentimentos podem ser transformados.

É nítida a vontade que o adolescente possui em se encaixar e também de evoluir, como sua vontade de mudar seu visual e adaptar características de sua personagem para tornar-se mais palatável, não de forma forçada, mas como algo sutil que faz parte do processo de amadurecimento. 

A fotografia das cenas é algo marcante na série, onde tons marítimos predominam, e o azul e o verde sempre presentes no personagem principal, remetem ao oceano e suas tonalidades. A série tem uma dinâmica acertada, de apenas 8 episódios com curta duração, que não possuem enrolação e que podem ser maratonados em uma tarde sem exaustão.


A premissa é interessante e nos faz querer conhecer ainda mais de seu universo e de como ele se desenrolará. Recomendo, sem dúvidas, pois com certeza lhe dará uma nova perspectiva sobre o que significa ser diferente… Será que realmente é atípico?
Título Original: Atypical

Direção: Joe Kessler, Michael Patrick Jann e Seth Gordon

Elenco: Kier Gilchrist, Brigette Lundy-Paine, Jannifer Jason, Michael Rapaport, Nick Dodani, Graham Rogers.

Sinopse: Sam (Keir Gilchrist) é um jovem autista de 18 anos que está em busca de sua própria independência. Nesta jornada, repleta de desafios, mas que rende algumas risadas, ele e sua família aprendem a lidar com as dificuldades da vida e descobrem que o significado de “ser um pessoa normal” não é tão óbvio assim.

Trailer:

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