Crítica: O Nome da Morte (2018, de Henrique Goldman)

A vida é rodeada de oportunidades. Somos privadamente responsáveis por nossas escolhas, trilhamos nossos próprios caminhos buscando o alento de mudança, de um novo começo, mas sempre há algo para desvencilhar-nos do trajeto adequado ao objetivo da realização ou questionamentos pertinentes para conduzir essas predileções. Não julguemos o certo ou errado, as consequências são causadas no seu estado de espírito de indução dos fatos rotineiros. As vias são existentes, múltiplas para gerar a sua personalidade, quem você realmente significa ou o modo, estilo que quer se agarrar para uma ideia de conquista. Júlio Santana poderia muito bem ter sua história de vida narrada de outra forma, sem essa de “vítima da sociedade”, o protagonista em questão tem bastante discernimento sobre o seguimento de suas projeções para o padrão de vida ideal totalmente altruísta, um pistoleiro de mão cheia. O Nome da Morte é uma parcial do que na maioria das vezes acontece nestes fatos cotidianos na região interiorana e nos deixa imergidos de como podemos ser “vendidos” por uma demanda alta de cifrões.


Júlio Santana (Marco Pigossi) é um adolescente do interior, rapaz de uma índole honesta, católico e que, aparentemente, consegue viver no estilo razoável de vida ao lado de sua família e namorada. A oportunidade de mudança lhe enche os olhos através de seu tio Cícero (André Mattos), policial militar, que o leva para a cidade grande prometendo um novo estilo de vida, mas para isso, os seus dotes de atirador serão certeiros para um futuro marcado entre a cruz e a espada, registrando 492 vítimas fatais.

Baseado no livro de mesmo nome, do autor Klesten Cavalcanti, de fatos verídicos, a trama retrata uma história verdadeiramente cruel do nosso certame brasileiro: matadores de aluguel. Mas não somente isso, há um lado humano (por mais negativo que seja) dessa interpretação. A narrativa mostra a convivência deste “fardo”, trazendo ao público os verdadeiros nuances dessas perspectivas do nosso assassino. Henrique Goldman, do elogiado Jean Charles, constrói bem o nosso personagem protagonista, mesmo que falte algo mais “estrondoso” para o papel. A nítida imagem é de passar a evolução narrativa do personagem ao longo dos seus assassinatos, sem a piedade e misericórdia que é enraizada na sua fuga cristã. Entretanto, essas passagens de tempo acabam atrapalhando o ritmo do filme com cortes temporais precoces e cenas totalmente descartáveis. Bastante previsível, O Nome da Morte é demasiadamente superficial, o roteiro não busca aprofundar relações com a família de Júlio (que serviu apenas para ilustrar a sua nascente), as consequências de suas ações e um possível arco dramático. Funciona bem para “denunciar” a corrupção militar e o enriquecimento ilícito sobre esta prática desses valores imorais. 

Tirando certos problemas de roteiro, a construção dos personagens consegue se destacar, principalmente pelo trabalho que Marco Pigossi dá para Julio Santana, criando uma personagem conflitante consigo mesmo. Longe de querer dar algum tipo de spoiler, mesmo porque não existe algo pra ser “escondido” pelo propósito da obra, mas em uma das cenas do filme, o pesadelo de ser enterrado vivo mostra bem o sentimento do nosso personagem aprisionado em um mundo do velho ditado “Aqui se faz, aqui se paga!”. 

Quem realmente está excelente e crível é André Mattos, que cria um personagem agridoce (com belas frases de efeitos), um dos pilares para o desenvolvimento da obra e do engajamento de Júlio Santana ao mundo dos pistoleiros; uma espécie de mentor ao nosso protagonista. Maria (Fabíula Nascimento), par romântico de Marco Pigossi, tem uma boa química com o ator, porém é uma atuação de tempo correta, nada demais atrativo no seu drama, até mesmo quando aceita a vida do marido. A participação de Matheus Nachtergaele, mesmo que pequena, tem uma importância tremenda para o ponto de evolução da narrativa do filme e seu jeito natural de atuar é algo extraordinário. 


A direção usa bem a fotografia do norte do Brasil, dando um toque charmoso ao filme, como vemos já nos créditos iniciais, usando demasiadamente o amarelo nas capturas de imagem, trazendo a aridez do interior, algo que busca o retrô. A trilha sonora não consegue equilibrar a compreensão da mixagem das cenas e o que realmente acontece em tela, prejudicando certos pontos da trama.

O Nome da Morte não traz algo grandioso para o cinema nacional, ele abrange o que já sabemos, implica para termos uma visão observadamente ligeira sobre os pistoleiros, sem guinar ou ligar alguns pontos pertinentes da trama e aprofundar em ocasiões que poderiam soar mais atrativo ao público. Se você quer uma reflexão sobre o assunto desse porte, vale acompanhar o filme, se não, é mais do mesmo dos noticiários que, por inúmeras vezes, falam do mesmo assunto ou enaltecem, uns mais dos que outros, como a morte da ex-vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco.


Título Original: O Nome da Morte

Direção: Henrique Goldman

Elenco: Marco Pigossi, Fabíula Nascimento, André Mattos, Augusto Madeira, Tony Tornado, Gillray Coutinho, Martha Nowill e Matheus Nachtergaele

Sinopse: Júlio Santana (Marco Pigossi) é um pai de família, um homem caridoso, um exemplo para sua família e um orgulho para os seus pais. No entanto, ele esconde outra identidade sob essa fachada: na verdade, ele é um assassino profissional responsável por 492 mortes. Entre a cruz e a espada, entre a lei e o crime, Júlio precisa descobrir uma forma de enfrentar os seus demônios.

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