Crítica: Triângulo do Medo (2010, de Christopher Smith)

Filmes que chegam direto em DVD aqui no Brasil costumam ser fracos, mas nem todos os filmes que saem no cinema são bons, assim como nem todos direto em DVD são ruins. Triângulo do Medo (péssimo título no Brasil, já que no original seria somente “Triângulo”), é um dos melhores filmes de suspense dos últimos anos. Para os mentalmente preguiçosos já vai um aviso: é preciso pensar para entender o filme! Caso contrário, é muito provável que diga que não gostou simplesmente por não tê-lo entendido. Outro aviso importante: este é um filme britânico, portanto, mais frio e diferenciado, não espere ver toques hollywoodianos aqui.

O elenco traz Melissa George como a protagonista da trama; a loirinha é australiana e por lá foi uma grande atleta, ganhando diversas medalhas no campeonato nacional de patinação (entre 1989 e 1991). No cinema, ela é uma das musas do terror! Duvida? Ela fez o remake de Horror em Amityville, o polêmico Turistas, o vampírico 30 Dias de Noite, dentre tantos outros, incluindo séries de mistério. Ela já tem cacife para terror e segura bem o papel principal desse filme. O restante do elenco é razoável, incluindo Liam Hemsworth (de Jogos Vorazes), irmão de Chris Hemsworth (o herói Thor). O roteiro perfeitamente costurado não cessa de nos surpreender a cada minuto.

Logo após conhecermos o drama de Jess e seu filho autista, estranhamente a moça embarca numa viagem em um barco à vela com uns amigos e eles acabam por tomar um rumo inesperado, seguido de um encontro com um gigantesco e lindo navio dos anos 30, mas coisas estranhas acontecem. Seria este um filme de navio fantasma? Não! Em seguida, surge um assassino… Seria então, um filme de um assassinato misterioso à bordo em um navio? Também não! Isso porque uma série de assassinatos ocorrem, de maneira assustadora ficando a cargo de nossa protagonista descobrir o que está ocorrendo. Tudo isto apenas na primeira meia hora! Teria ela que lutar para sobreviver? Outra vez… Não! Mas que “raio” de filme é este, afinal? A partir deste momento começa realmente o que o filme quer tratar. 

O excelente roteiro amarra tudo de maneira incrível, e o diretor, Christopher Smith (que já havia feito – o bom – Plataforma do Medo), entrega uma direção ousada e segura. Há elementos psicológicos e metafóricos o tempo todo. O jogo de câmera que o diretor e a equipe fazem dentro do navio é incrível. Cada ângulo, cena e foco em um corredor, quadro ou porta, toda atmosfera dentro do navio é ótima. A iluminação também é boa, tornando crível a obra. Nas cenas em alto mar, porém, percebe-se uso de computação ou telão, mas a fotografia de fundo é boa. O sangue e o gore estão presentes, mas sem exageros. O filme aposta em chocar não nas mortes, mas em um roteiro intrigante e com uma reviravolta a cada 5 minutos. Destaque para a excelente trilha sonora, lúdica e amedrontadora.

As cenas em que Jess encontra consigo mesma são bem elaboradas, e mantém mais ainda a tensão e mistérios. A cena em que ela encontra vários cadáveres de uma mesma personagem é surreal. Déjà vu e repetições do que já ocorreu a todo tempo, intrigando-nos a descobrir o que tudo aquilo significa. E, vale a dica, não é filme de viagem no tempo, é algo bem mais original. Apesar de ser desconhecido, o filme teve uma boa recepção, sendo até mesmo chamado por alguns críticos como o mais provocante filme de suspense nos últimos tempos. Sim, é provocante, pois apesar de todo terror e fantasia, o filme tem uma lição realista e chocante. 

O nome do navio é Aeolus, que na mitologia grega significa o Senhor dos Ventos. O título do filme (‘Triangle’) faz referência ao famoso Triângulo das Bermudas, uma das maiores lendas e mistérios da Terra, onde as leis da física não se aplicam. Tendo em vista os diversos eventos anormais que acontecem naquela região, como o não funcionamento de uma bússola, além do sumiço de embarcações e aviões; o filme se utiliza disso desde o início. Ainda, existe toda uma mensagem subliminar que faz referências ao clássico, O Iluminado (conto de Stephen King e dirigido por Stanley Kubrick). O designer do navio e alguns objetos, como o espelho e o machado, lembram muito tudo que está na direção de arte do título supracitado. E, voltando à mitologia grega, tanto o nome do navio quanto o quadro em sua parede, são referentes à lenda de Sísifu, um homem que, na mitologia grega, foi condenado a carregar uma pedra montanha acima só para vê-la rolar para baixo, repetidas e infinitas vezes…

Toda essa mitologia e referências à maldições e deuses acabam interligadas com a personagem central e seu filho autista. Além de todo complexo enredo acompanhado de uma assustadora trilha sonora, elementos como as malditas gaivotas estão presentes. 

É possível perceber o motivo de a maioria não gostar do filme… É complexo e de difícil entendimento, mas com uma moral incrível e cheio de referências à mitologia grega e ciclos de terror.  Uma das melhores fantasias dos últimos anos, que intriga e cativa os poucos que se arriscam a assistir. Último alerta: veja mais de uma vez e com a mente aberta! Fique atento às mensagens subliminares, presenças que se repetem e a morte traçando seu destino. Você irá se intrigar e ficar impressionado. 

Título Original: Triangle

Direção: Christopher Smith

Elenco: Melissa George, Joshua McIvor, Jack Taylor, Liam Hemsworth.

Sinopse: Quando Jess (Melissa George) parte para o alto mar com um grupo de amigos a bordo de um veleiro, ela tem o pressentimento de que algo está errado. Seus temores se confirmam quando uma tempestade atinge a embarcação deixando-os à deriva. Em seguida, um misterioso navio aparentemente abandonado surge e embarcar parece ser uma boa ideia. Logo, todos perceberão que não estão sozinhos e que alguma coisa está caçando os novos tripulantes, um a um.

Trailer:

Obrigada pela leitura, esperamos que tenha gostado da crítica! E caso já tenha assistido, não deixe de nos contar suas teorias sobre esse filme cheio de mistérios! 

26 thoughts on “Crítica: Triângulo do Medo (2010, de Christopher Smith)”

  1. SPOILER DO FILME: Aqui vai a minha teoria que é a correta! Hehehe: A Jess nada mais é do que uma alma penada. Todo o filme é um purgatório onde ela tem que sofrer por ter enganado a morte (taxista). Pois a alma dela não aceita seu caminho. Algumas cenas desse purgatório são semelhantes à vida real dela, como no acidente, onde ela e o filho morreram. O garoto era mto maltratado por ela. Depois da morte, foi mostrada a ela na forma de punição repetitiva, o quanto foi uma péssima mãe com seu filho autista.
    A alma culpada de Jess não pode descansar em paz até que ela aceite seu erro e siga. Assim como na lenda de Sísifo citada no filme, o castigo dela no purgatório (semelhante a realidade) será repetir eternamente seu pecado, sempre achando que poderá salvar o filho, e sendo obrigada a matar como conseqüência disso. Mas o taxista disse não há nada que ela possa fazer. Coitadinha…

    1. É exatamente isso. Além disso o taxista representa o barqueiro que na mitologia grega é responsável pela passagem para o submundo. Perceba que ela não paga o taxista. "Dê uma moeda ao barqueiro para realizar a travessia". Além disso as referências ao Iluminando são demais, o quarto 237, a mensagem no espelho e a decoração do navio lembram demais o Overlook.

    1. Como todos ja disseram antes no final do filme ela tinha a chance de concertar tudo. Era so ficar em casa com o filho mas infelizmente sua indecisao era muito grande

  2. Esse filme é muito legal, mas eu precisei dessa analise depois de assisti-lo para ligar alguns pontos. O que eu acho que faltou foi explicar como isso (a repetição) aconteceu pela primeira vez.

    1. Acho que simplesmente recomeçou, devido a maldição que ela recebeu. Mas realmente quando os filmes são sobre ciclos temporais, nunca mostram como inicia.

  3. Br adora colocar "do medo", "do barulho" no final dos títulos né? hahahhaha. Triangulo é um ótimo titulo, bem como o duplo sentido que há nele.

  4. Bastou assistir o filme uma vez, fantástico!
    Do tipo de suspense n tao comum por aí, é mais provocativo, i instigante, realmente u ótimo filme.

  5. O principal ponto da trama que não tem explicação é haver várias versões da Jess. A mesma versão da Jess que chegou no navio é a que volta ao passado e recomeça a história. Só deveria haver duas Jess, sendo que uma delas está sempre no passado e será jogada para fora do porta-malas do carro no acidente. Também não entendi o motivo de ter várias gaivotas mortas no passado (haveriam várias Jess e vários Tommy no IML?)

    1. Deveria haver mais de uma versão, à medida que a história evolui. Mas o que ditaria os ciclos e quantas Jess deveria haver é o número de “mortes” decisivas. Ela morre ou não ao cair do barco? Para mim, a única crítica ao filme é justamente exagerar no número de instâncias da Jess. Mas não sei se seria possível um filme tão bom com apenas duas (menos que isto seria teoricamente impossível).

    1. Olá, tudo bem? Algumas teorias do filme estão descritas na matéria e nos comentários. Mas basicamente é uma maldição grega que gera um looping infinito, como castigo por ela ter maltratado o filho.

  6. Acabei de ver o filme e no começo eu já percebi o loop, já desconfiando inclusive que a primeira aparição do mascarado era ela, mas não entrei aqui para falar exatamente sobre o filme e sim sobre o título. Logo em seu primeiro parágrafo eu percebi a mesma coisa que você comentou: O TÍTULO. Essas palavras-clichês insistentes de nossos “tradutores” de títulos apontarem. E curioso é que pouco mais abaixo o outro filme que você citou tem a mesma fórmula: Plataforma do Medo. Pois bem, assim que vi o título do filme sem saber nada sobre ele, nem sinopse, nem propaganda, pois vi direto pelo Telecine Action, já prestei atenção, me incomodou e já sabia que o título real não tinha “medo”. Eu tenho um Blog de Estranhas Traduções de Títulos de Filmes e estou atualizando dede junho de 2021 porque havia erros e repetições (sem ser loop rsrs), pois já vou em mais de 17 mil títulos. Não sei se pus este título em meu Blog, quando chegar em 2009/10, verificarei. Se não pus, será colocado. Meus filmes são desde 1914 e estou revisando 2006 ainda. Enfim, todo mundo aqui comentando sobre o filme e eu entrei aqui para comentar sobre o título, que assim como você, eu já percebi logo que havia algo que incomodava. Quem quiser convidar meu Blog, a vontade, mas é muito conteúdo. Só esse meu texto cansa, avalie 17 mil.

  7. (alerta de muito SPOILER)
    Oii, acabei de ver o filme (maio de 2022) e embora tenha entendido que se trata de um ciclo, e eu concorde em parte com o primeiro comentário, tenho algumas discordâncias/dúvidas.
    Na hora do acidente de carro, quem morre não é a Jess que estava com a gente naquele momento, mas sim a do “passado”, é só observar a roupa, a que é tapada pelos socorristas é a que está de vestido.
    No momento em que vemos a Jess de shorts (a que estamos acompanhando) a tela ficou mais escurecida, e então parecia noite só que quando ela chega no porto é dia claro, como se fosse algum horário da manhã. Então acho que a corrida com o taxista é o meio de tudo!
    Só que ai se vermos o filme novamente, agora já sabendo todo esse desenredo, vemos q o relógio da jess e o do barco estão parados na mesma hora, enquanto o do outro amigo dela está em outra hora.
    E é no barco que ela começa a ter deja-vu, então quando ela dormiu no taxi meio que tudo se reiniciou!?
    Gente eu to muito confusa kkkkk enfim, se alguém ler isso aqui, comenta o que achou pra falarmos sobre 🙂

    1. Então… eu acho que é um filme que se propõe a entreter… ele é cheio de furos… por exemplo: pq aquela mulher desaparece? Se a jess é uma alma vagando como os outros podem vê-la? Pq precisa matar todos do navio? Pq ela não impede ela mesma? Há jess demais e isso não fecha… pq alguns corpos desaparecem e outros acumulam? Qual a causa dela tirar um cochilo e esquecer de tudo? Como ela do futuro tem a chave de casa se a ela do passado não tem? É um filme que propõe brincar com looping e tal… mas acho que é pra isso mesmo, nos divertir… não é um filme fechado como a origem e ilha do medo… o roteiro só bota um monte de coisa e deixa a gente louco.

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