Crítica: Doentes de Amor (2017, de Michael Showalter)


Até onde um filme precisa ser surpreendente para ser bom? Ficamos o tempo todo buscando roteiros que fujam dos clichês e que tragam elementos novos para dentro da narrativa, mas isso nem sempre é necessariamente bom, às vezes um filme que seja previsível, de uma maneira bem feita, consegue emocionar mesmo sem surpreender. Doentes de Amor é um desses filmes.


Falar que o cinema independente estadunidense dá de 10 a 0 nos filmes com grandes orçamentos é chover no molhado e eu não gosto desse discurso que soa elitista, mas existe sim uma beleza enorme em filmes baratos que falem de situações da vida comum de maneira especial.

Doentes de Amor consegue mesclar muito bem a comédia com o drama, embora o filme demore um pouquinho para engrenar, quando menos se espera, já estamos apegados a Kumail e a sua trajetória, tanto na sua relação amorosa e nos conflitos culturais, quanto na sua vida profissional.


O casamento com amor é relativamente novo na nossa sociedade, então não cabe a mim, julgar outras culturas que eu não conheço profundamente ou não concorde com o modo que eles enxergam o casamento, mas é notável que Kumail não concorda com sua família e na hora que ele decide confrontá-los sobre o amor e sobre o sentimento que ele tem por Emily, o filme cresce. O filme vai e vem entre esses conflitos que Kumail passa, e também nas dúvidas de Emily no terceiro ato, o que é sim clichê, mas aqui é feito com tanta naturalidade que é muito bonito ver esses conflitos se desenvolverem. Há uma conexão muito grande com o telespectador e o filme provoca várias reações, a gente ri e se emociona nas horas certas.


O roteiro é autobiográfico e ao saber disso (depois de ver o filme), deu para entender porque ele é tão tocante. Durante o filme, a gente percebe que todas as situações são críveis e que em nenhum momento há fantasias sobre o amor, o trabalho e o preconceito que o protagonista sofre, é tudo bem realista e é por isso que nos identificamos tanto.

A direção de Michael Showalter (Doris, Redescobrindo o Amor) é básica e cumpre o papel necessária para que o longa se desenvolva bem, ele escolhe deixar as cenas necessárias e faz um filme enxuto, além de dirigir muito bem os atores, mas sentimos muito mais o roteiro sendo protagonista do que a direção.


Kumail Nanjiani está muito bem fazendo ele mesmo, a performance dele cresce com o filme e ele consegue gerar empatia, ainda que falte um pouco de carga dramática em alguns momentos. Zoe Kazan está muito bem também, ela é apaixonante e engraçada. Podem anotar seu nome que veremos em breve nas premiações, como atriz e como roteirista também. Holly Hunter rouba a cena em vários momentos, ela está muito bem, a gente consegue ver através de seus olhos e sentir a dor de sua personagem, sem precisar carregar nos momentos dramáticos. O restante do elenco está bem, mas nada que mereça ser mencionado.


Doentes de Amor segue uma fórmula conhecida do gênero, mas a construção perfeita dos personagens, a combinação exata do drama com a comédia e o casal principal passam algo muito difícil de ser ver com comédia-românticas: verdade.


Título Original: The Big Sick


Direção: Michael Showalter.


Elenco: Kumail Nanjiani, Zoe Kazan, Holly Hunter, Ray Romano, Bo Burnham, Zenobia Shroff, Anupam Kher, Adeel Akhtar, Aidy Bryant, Rebecca Naomi Jones, Linda Emond, Kurt Braunohler, Shenaz Treasury, David Alan Grier e Vella Lovell.



Sinopse: O comediante paquistanês Kumail e a estudante de graduação Emily se apaixonam, mas encontram dificuldades quando suas culturas entram em conflito e Emily descobre uma doença grave.

                                           Trailer

Deixe uma resposta