Crítica: Baseado em Fatos Reais (2017, de Roman Polanski)


Após cinco anos longe dos cinemas, Roman Polanski volta as telonas com o seu mais novo filme, Baseado Em Fatos Reais, adaptação do livro de mesmo nome, de Delphine de Vigan. O vasto tempo sem poder ter tido reflexo em seu novo longa, que está longe de ser um dos seus trabalhos memoráveis como o Bebê de Rosemary e O Pianista, mesmo com toda sua metodologia de dirigir seus arcos dramáticos, apresenta interposições confusas e uma arrastada história, alongando demasiadamente o enredo do filme.


Delphine Dayrieux (Emmanuelle Seigner), é uma renomada escritora que acabara de lançar seu mais novo livro. Em meio aos autógrafos, ela conhece Elle (Eva Green), mais que uma fã, uma admiradora do seu trabalho. Com a sua vida instável, ela começa a ganhar uma rápida intimidade com Elle, onde nasce uma amizade que vai transformar totalmente o seu mundo em uma instantânea gangorra cotidiana de sentimentos. A articulação de enredo de Roman Polanski, com roteiro assinado por Olivier Assayas (Personal Shopper), passam por momentos constantes de refutação, debulhando a inteligência de quem assiste. 


A introspecção de Delphine nos conduz ao ópio de suas ações desacerbadas, uma mulher frágil, que reluta em novas ideias proporcionadas pela sua inédita amizade. A tela branca em frente ao computador reflete bem o seu estado de espírito momentâneo. Por outro lado, Ella é enigmática, não se sabe ao certo as questões por quais está ali; suas características giram em torno de sua total dubiez, colocada para gerar suspense e tentar acarretar o clímax desejado para a história, substituindo a admiração por obsessão.

É neste quesito que o filme entra em seu marasmo sem rumo. A redundância de apresentar os fatos nos contorna com os suspenses superficiais, que conseguem convencer minimamente, entretanto, a passividade dos atos é entediante. A extensão da trama não consegue prender em nada a narrativa. Entre variados cortes secos, ficamos questionáveis em como Ella apareceu ali, como ela sabe das ocorrências posteriores de sua amizade com Delphine, e o pior, porquê ela quer usurpar algo assim? A inocência de Delphine dá margem para não simpatizar com sua personagem, caindo nas ciladas da vida e aceitando o velejar das coisas. 

Durante esse jogo de gato e rato, o vermelho se faz presente para tentar salientar “pitacos” fervorosos. A simples simbologia é bem sacada por Polanski, que gera determinados pensamentos em suas características. Aqui podemos diferenciar a cor em certos indícios de paixão, obsessão e sangue. Esse triângulo de palavras é a base para tentar alavancar a trama, dar uma segurança no pilar central do drama tentando deixar uma transparência para as personagens.
Baseado em Fatos Reais tenta remar contra a maré constante, entretêm pela sua proposta de thriller psicológico, mas a previsibilidade da trama deixa em cheque o que realmente quer atingir em toda a obsessão. Mergulhados na onda dos mistérios, Eva Green e Emmanuelle Seigner tentam segurar as pontas com a ótima química assídua, contudo, o filme não passa mais do que um simples jogo de aparência, um novo jeito de Quem Sou Eu? 


Título Original:  D’après une Histoire Vraie

Direção: Roman Polanski

Elenco: Emmanuelle Seigner, Eva Green, Vincent Perez, Dominique Pinon e Josée Dayan

Sinopse: 
Durante o lançamento de seu mais novo livro, a autora Delphine (Emmanuelle Seigner) conhece Elle (Eva Green), uma de suas fãs, que lhe pede para autografar seu exemplar. Elle também é escritora, trabalhando como ghost writer em biografias de celebridades. Aos poucos as duas se aproximam, com Elle se tornando cada vez mais presente na vida da autora. Por mais que às vezes se sinta incomodada com a onipresença da nova amiga, Delphine permite a aproximação devido à sua fragilidade emocional, o que logo se revela um erro.

TRAILER:
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