Crítica: Frida (2002, de Julie Taymor)

Frida, filme estadunidense, de 2002, dirigido por Julie Taymor, teve seu roteiro baseado no livro biográfico de Frida Kahlo, de Hayden Herrera. O filme obteve prêmios absolutamente merecidos, quais justificarei mais tarde; foi indicado ao Oscar na categoria de melhor atriz para Salma Hayek, melhor direção de arte, melhor figurino, melhor canção original para Burn It Blue, e ganhou nas categorias de maquiagem e trilha sonora. Também foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de melhor atriz para Salma e venceu na categoria de melhor trilha sonora.

Por mais que o filme seja maravilhoso, ainda foi pouco para retratar tamanha grandiosidade e personalidade de Frida Kahlo, uma mulher que estava sempre a frente de seu tempo e que não queria ser nada menos do que ela mesma; exalava autenticidade e originalidade. Frida é, sem sombra de dúvidas, um dos maiores e mais conhecidos ícones inspiracionais do mundo, principalmente para as mulheres. Foi uma guerreira capaz de transformar suas maiores dores em arte, dando beleza as suas tragédias; tendo seus altos e baixos, como qualquer pessoa, mas diferente de muitos, ela sempre driblava as situações difíceis com seu belo sorriso, positividade, espontaneidade e carisma.


Com a base de uma personalidade forte e cativante, Frida Kahlo foi se construindo e reinventando ao longo do tempo conforme as situações iam surgindo em sua vida, sendo elas boas ou ruins; ela podia ter sido alguém completamente diferente do que foi e ter caído no esquecimento, mas decidiu ser extraordinária e hoje, 64 anos após seu falecimento, ainda é recordada com muito amor por pessoas do mundo inteiro. 

O filme retrata de forma rápida os principais acontecimentos da vida de Frida, a começar pelo acidente grave que sofreu aos 18 anos, quando o bonde em que estava chocou-se com um trem e um ferro de um dos veículos perfurou-lhe as costas, causando uma fratura pélvica e hemorragia, fazendo-a ficar entre a vida e a morte por vários dias no hospital, tendo que se sujeitar a inúmeras cirurgias e ficando com sequelas extremamente dolorosas, uma delas, é ter ficado impossibilitada de sustentar uma gestação, o que lhe resultou em três abortos (embora no filme seja mostrado apenas o primeiro).


Frida sempre teve seu estilo próprio de ser e vestir, qual tornou-se ainda mais singular ao longo do tempo por conta da sua doença – poliomielite – e do colete de ferro para a coluna que era obrigada a usar após seu acidente. Ela nunca quis que as pessoas fossem quem elas não gostariam de ser para agradar terceiros, por óbvio, ela também colocava em prática sua própria filosofia; e ninguém precisava/precisa conhecer Frida para saber disso, basta olhar para ela. É difícil citar uma ou outra característica, qualquer descrição soa incompleta e superficial, mas parar por um momento e admirá-la dispensa quaisquer descrições (vai por mim). E, embora fosse uma mulher completamente fora dos padrões impostos pela sociedade, jamais deixou de perder sua beleza e sensualidade ou parecer menos feminina ou desejada por conta de seus pelos ou roupas. Inclusive, a forma natural com que ela lidava com seu estilo, não necessitando prová-lo ou justificá-lo, tornavam-na ainda mais bela. 

“Eu costumava pensar que era a pessoa mais estranha do mundo, mas então pensei, há muita gente no mundo, tem que existir alguém como eu, que se sinta bizarra e danificada da mesma forma que eu me sinto. Consigo imaginá-la, e imagino que ela também deve estar por aí, pensando em mim. Bom, eu espero que se você estiver por aí e ler isso, saiba que, sim, é verdade, eu estou aqui e sou tão estranha quanto você.”


Por conta do acidente, Frida ficou por muito tempo acamada, então, seu pai teve a maravilhosa ideia de presenteá-la com telas, tintas e um cavalete especial onde pudesse ficar apoiado na cama, foi onde ela começou a pintar e depois dali, nunca mais parou. Suas pinturas eram auto retratos do que ela tinha vivido ou estava vivendo, por isso, muitas vezes não achava e não acreditava que suas pinturas eram maravilhosas e únicas; se subestimava enquanto artista e não tinha noção do quão extraordinária era (é). 

“Pensaram que eu era surrealista, mas nunca fui. Nunca pintei sonhos, apenas minha própria realidade”


Após melhorar e conseguir viver fora de sua cama, Frida conhece Diego Rivera – que foi um dos maiores pintores mexicanos -, e com ele teve um casamento longo e muito conturbado, para não dizer abusivo. Diego, desde o início “jogou limpo” com Frida, lhe avisando que nunca conseguiria ser fiel, e ela aceitou que o marido tivesse seus casos extraconjugais, desde que lhe fosse leal. Em contrapartida, Frida usava sua bissexualidade para manter suas relações extraconjugais, uma vez que Diego somente aceitava suas “traições” com mulheres. 

Embora aceitasse o marido como ele era e não quisesse que ele agisse contra seus próprios instintos para agradá-la, nem a lealdade, que fora a unica coisa que ela pediu, ele foi capaz de lhe dar, não demorando muito para Frida ter descoberto o caso que Rivera manteve com sua irmã, tal traição resultou no divórcio do casal. Ainda, Frida diz ao marido que ele fora o segundo pior acidente de sua vida.


Mesmo separados, continuaram amigos, e nas idas e vindas, Diego procura Frida em busca de um favor…. pediu-lhe que recebesse em sua casa por uns dias Leon Trótski, que após sua deportação, passou por alguns lugares, fixando-se no México a convite de Rivera. Mas essa estadia durou até que o romance de Frida e Trotski foi descoberto. 


Como se já não bastasse todos os maus bocados de Kahlo, ela ainda teve que lidar com uma amputação devido a poliomielite e com o choque de viver para ver Rivera lhe pedindo em casamento pela segunda vez. Para a surpresa de todos, ela aceitou o pedido, mas decidiu morar em casas separadas. Frida construiu uma casa ao lado da casa de Diego e ligou as duas casas por uma ponte, assim, cada um vivia em sua própria casa e frequentava a casa um do outro nas madrugadas. E assim viveram até o fim da vida dessa incrível mulher, que infelizmente nos deixou cedo demais.

“Espero que a partida seja feliz e espero nunca mais voltar.”


Obviamente a história de Frida Kahlo jamais se resumirá a um livro, filme e tampouco numa resenha ou crítica. Felizes foram àqueles que existiram ao lado de Frida a ponto de serem atingidos brutalmente por toda sua maravilhosa magnitude como pessoa, e espertos são aqueles que hoje aprendem e tiram lições do legado que essa mulher deixou aqui na Terra para nós. 

“Ao fim do dia, podemos aguentar muito mais do que pensamos que podemos” 
KAHLO, Frida.


Título Original: Frida

Direção: Julie Taymor

Elenco: Salma Hayek, Aida López, Alejandro Usigli, Alfred Molina, Amelia Zapata, Andrés Montiel, Anthony Alvarez, Antonio Banderas, Antonio Zavala Kugler, Ashley Judd, Benjamin Benitez, Chavela Vargas, Claudia Frias, Didi Conn, Diego Espinoza, Diego Luna, Edward Norton, Ehécatl Chávez, Enoc Leaño, Eszter Zakariás, Felipe Fulop, Femín Martínez, Geoffrey Rush, Ivana Sejenovich, Jorge Guerrero, Jorge Zepeda, Julian Sedgwick, Karine Plantadit-Bageot, Lila Downs, Loló Navarro, Lucia Bravo Margarita Sanz, maria Ines Pintado, Martha Claudia Moreno, Mary Luz Palacio, Mauricio Osorio, Mía Maestro, Omar Rodríguez, Patricia Reyes Spíndola, Roberto Medina, Roger Rees, Saffron Burrows, Valeria Golino, William Raymond

Sinopse: Uma biografia da artista Frida Kahlo, que canalizou a dor de uma lesão incapacitante e seu casamento tempestuoso em seu trabalho.

Trailer:
Galeria de Imagens: 

Deixe uma resposta