Crítica: My Happy Family (2017, de Nana Ekvtimishvili e Simon Groß)

Este filme, embora seja um pouco difícil de ser digerido, e não porque é ruim, mas por ser denso demais, demorado demais e cheio de mínimos detalhes que somos obrigados a ficar atentos para não achar que estamos perdendo 2 horas de nossas vidas, é muito bom e vale a pena ser assistido. Aqui, sutilezas foram muito bem trabalhadas, pois mesmo que o filme não seja baseado em fatos reais, retrata uma história que não é tão incomum assim, que não está só lá na ex-república soviética da Georgia, onde esse drama familiar é passado, ainda, diga-se de passagem, uma das vantagens do cinema é nos aproximar de culturas que não são tão acessíveis, como é o caso deste.

No cinema estamos acostumados a ver filmes que estão muito distantes da nossa realidade e isso ocasiona um certo choque quando nos deparamos com um filme como My Happy Family, pois, aqui, não tem ficção, não tem fantasia, não tem final feliz, apenas tem uma vida acontecendo. É como se certo dia alguém ligasse uma câmera e começasse a filmar seu próprio cotidiano. Aí você pensa “nossa, que chato“, e não, não é nem um pouco chato. É bom nos forçamos a perceber e a refletir os nuances que relaxamos em prestar atenção em nossas próprias vidas. 

Aqui acompanhamos a vida de uma mulher comum, que já está com seus cinquenta e poucos anos e que está sedenta por sua paz e liberdade. Manana vive com três gerações sob um mesmo teto e faz-nos perceber que viver com muitos parentes nem sempre pode ser agradável; isso pode ser ocasionado por conta do excesso de liberdade que um acha que tem com o outro, achando que, por conta disso, pode-se fazer o bem quiser, falar como quiser e da altura que quiser. Sabemos que as pessoas por si só não são fáceis de lidar, mas a perda da sua autonomia, liberdade e voz dentro da sua própria casa por conta de falta de bom senso alheio pode ser enlouquecedor. 

Cansada de não sorrir mais, de viver em meio aos berros e de parecer não ter mais controle da própria vida, Manana, depois de muito pensar, resolve ir morar sozinha, deixando para trás seus pais, filhos e marido. Deixar para trás não no sentido de abandono, até porque, o contato continua, ela apenas vai morar em outra vizinhança; se ausentando um pouco para recuperar o que por anos lhe fora sugado, sua saúde mental. Com essa premissa, o filme vai fluindo basicamente assim, Manana tomando coragem para sair de casa e depois se adaptando a morar sozinha, mas não ache que é só isso, há ainda muitos dramas pelo meio do caminho…

My Happy Family é um filme que não se faz necessário ter nenhum tipo de chamarisco cinematográfico, pois sua premissa e seu desenrolar já fazem este papel. O único quesito que pode cansar alguns, mas que não necessariamente seja uma coisa ruim, é o tempo de duração. O filme possui tomadas muito longas, que, diga-se de passagem, foram muito bem ensaiadas, mas isso o tornou cansativo algumas vezes, fazendo com que por volta de 1h30min de filme nós pensemos “ok, já entendi a mensagem, mas poderia acabar por aqui“. Outra coisa que não pode deixar de ser mencionada é a trilha sonora, que é nada mais, nada menos, que feita pelos próprios atores; podemos observar pela música um pouco da cultura regional e o talento de voz e violão da nossa protagonista. Aliás, uma forte salva de palmas para todo o elenco, porque aparentemente são novos no universo da atuação, ao menos no cinema, e dão um banho em muitos que já estão no mercado há tempos. Chega dar a impressão que a Netflix bateu na porta dessa família e perguntou “ei, posso fazer um filme sobre vocês?

Um filme pode ter milhares de interpretações e reflexões, mas a que mais está presente neste, é a de que não precisamos estar o tempo todo rodeado de pessoas. Podemos e devemos nos sentir felizes e completos em nossa solidão e apreciar isso. 

x



Título Original: Chemi Bednieri Ojakhi


Direção: Nana Ekvtimishvili e Simon Groß

Elenco: Berta Khapava, Ia Shugliashvili, Merab Ninidze, Dimitri Oragvelidze, Giorgi Tabidze, Lika Babluani, Mariam Bokeria, Tsisia Wumsishvili.

Sinopse: Em uma sociedade patriarcal, uma família georgiana comum vive com três gerações sob um mesmo teto. Todos ficam chocados quando Manana, 52 anos, decide sair da casa de seus pais e morar sozinha. Sem sua família e seu marido, uma viagem para o desconhecido começa.

Trailer: 



Já assistiu o filme? O que achou? Nos conte aqui nos comentários e não deixe de nos seguir em nossas redes sociais!

12 thoughts on “Crítica: My Happy Family (2017, de Nana Ekvtimishvili e Simon Groß)”

  1. Realmente, a hora que termina o filme dá a impressão de ter perdido tempo. Porém, o enredo nos leva a algumas reflexões muito boas, como por exemplo, a necessidade da propria individualidade.
    Gostei….

    1. Concordo plenamente!! É muito frustrante vc vê um filme cujo final fica em aberto, sua cabeça que faz o desfecho…. Estava gostando muito do filme e ia indicar mas o final mudou completamente minha opinião…

    2. Concordo! O filme é bom, intimista, tem um trato sutil, a protagonista e os atores são ótimos, suscita muitas reflexões, mas o final foi abrupto. Não foi uma boa resolução do diretor na minha opinião… Ia indicar também, mas não o fiz por isso..Uma pena!

  2. Excelente! Eu me vi nela, por ter vivido situação quase idêntica na mesma idade da personagem! Atualmente, anos depois, ñ troco minhas privacidade, liberdade e meu sossego por nada! Tudo muito bem retratado no filme, inclusive a sede de porquês de todos por não terem a menor empatia para compreendê-la. Gostei muito!

  3. Gostei muito, interessante o retrato de família e amigos que em nenhum momento se preocupam com a felicidade de Manana e sim da situação vergonhosa da separação. Muito bom ver como ela vai descobrindo motivação depois de sair da casa, a infidelidade do marido que era de conhecimento de todos e ela não saiu por causa disso, mas percebe quanto estava cega pela tristeza. Recomendo.

  4. Gostei muito, Manana retrata o sentimento de muitas mães/esposas desgastadas em seu convívio familiar mas que geralmente permanecem nele devido a falta de coragem para mudar tal situação ou até por comodismo, gosto do silêncio e da minha privacidade em muitos casos a solidão é a paz que precisamos.

  5. Gostei do filme,mas do final não…O olhar dela,parecia dizer que ela ia continuar com o marido…A relação deles,me pareceu em aberto…

  6. Identifiquei-me completamente com a protagonista.
    Eu tbm vivo em uma casa familiar de três gerações , das quais eu sou a mais velha, onde vivencio a necessidade de ter meu sossego e a minha solitude preservados.
    Há momentos de muito stress e sofrimento por eu não ter coragem de deixá-los e seguir a minha vida, cortando o cordão umbilical deles, afinal lutei, estudei e trabalhei , com a ajuda de Deus, pra ser independente.

  7. Gostei muito, porque a atitude que ela tomou é uma atitude pouco comum para as mulheres que costumam ser muito cuidadoras da família e esquecem de si. Essa coragem poucas tomam, porque a culpa é muito forte, porém tomar essa atitude pode reorganizar a família para que entrem num fluxo mais saudável. Não há finais felizes ou infelizes na vida, ela continua ora de um jeito, ora de outro!

Deixe uma resposta