Crítica: Dark (2017, de Baran Bo Odar)

Acreditamos que o tempo decorre de forma linear. Que ele avança uniformemente, para sempre. Até o infinito. Mas a diferença entre passado, presente e futuro não passa de uma ilusão. O ontem, o hoje e o amanhã não são consecutivos, mas estão conectados em um círculo infinito. Tudo está conectado.

O recente fenômeno da Netflix, não está com a alcunha de fenômeno à toa: pense numa série que vai te deixar boquiaberto no primeiro episódio… Pense numa série que vai te fazer refletir (e muito!) sobre sua percepção de tempo e espaço e como você enxerga o mundo e suas dualidades… Pensou? Pois então… Você não chegou nem perto!

Essa é a primeira série produzida pela Netflix na Alemanha. Um país que foi berço de grandes nomes da ciência como Nietzsche e Einstein, não poderia entregar nada menos do que algo totalmente fantástico e profundamente reflexivo.


Somos apresentados a quatro famílias principais que possuem histórias que se conectam na pequena cidade de Winden, na Alemanha. Após o desaparecimento de alguns garotos no decorrer dos anos, eis que no ano de 2019 o filho de um policial também desaparece, policial esse que também teve um irmão desaparecido no ano de 1986. A grande questão, no entanto, não é onde esses garotos estão, mas quando.



Atrelado a estes fatos, a cidade, que abriga uma usina nuclear, apresenta fenômenos estranhos que se repetem num ciclo pré-definido, como luzes piscando e animais morrendo de forma misteriosa.
Pois então, você lembrou de uma outra série bastante famosa da Netflix não é mesmo?! Outro fenômeno que é uma nostalgia à parte? Bom, apesar de algumas semelhanças com Stranger Things, Dark possui um direcionamento bem diferente. Enquanto que uma se ambienta essencialmente nos anos 80, a outra apresenta um leque de épocas bastante variado. Enquanto que em uma a narrativa, apesar de bem trabalhada, é mais infantil, a outra apresenta temas mais pesados, como traição, acusações de estupro, doenças, mortes marcantes, viagens no tempo, paradoxos entre outros tantos pontos com complexidade bem superior.


Tecnicamente, também temos vários pontos positivos, como uma excelente trilha sonora que trabalha bem com as cenas que exigem um apelo maior e ainda pela ambientação das épocas que são apresentadas. Nos anos 80 temos
Tears for Fears e Kreator. Na abertura temos um belo presente de Apparat juntamente com Soap&Skin. A paleta de cores apresentada é bem diversificada, desde tons extremamente fortes (amarelo, laranja, vermelho) a tons mais sombrios e escuros (azul escuro, preto, cinza, marrom) e é interessante ver como esses tons se complementam, dialogam e se debatem em tela. Há ainda enquadramentos diversificados, tendo como destaque aqueles de plano aberto, o que dá uma sensação de grandiosidade da narrativa apresentada.


As teorias que embasam toda a história são o ponto alto de toda a série, conferindo um caráter mais sério e científico, o que com toda certeza arrebata e arrebatará o coração daqueles que são apaixonados (assim como eu) com ficção científica voltada para viagens no tempo,
paradoxos, O Eterno Retorno, máquinas futurísticas e afins. Alguns nomes de personagens também não foram escolhidos ao acaso, e ainda há símbolos valiosos (triângulo impossível, tríade,  uma tatuagem que é uma representação da Tábua de Esmeralda) nos remetendo ainda mais ao teor fortemente científico que a série carrega. Como se não bastasse, ainda há um livro (que infelizmente é fictício) Uma jornada através do tempo, do autor J.G. Tannhaus (também importante personagem da série), que possui uma conexão muito forte com algumas personagens, sendo um objeto extremamente importante em todo o contexto da história.


É claro que uma série como essa, mais atual, bebe diretamente da fonte de grandes obras como Donnie Darko (uma louca viagem no tempo), Twin Peaks (todos escondem um segredo), Interstellar (buraco negro, viagens no tempo, teorias e mais teorias), It: A coisa (sim, veja a belíssima fotografia), O Predestinado (praticamente todos os paradoxos reunidos), dentre outros grandes títulos.



Outro ponto muitíssimo positivo na série é a escolha do elenco. Apesar de num primeiro momento isso parecer algo sem relevância, aqui os produtores deram a merecida importância, afinal temos várias famílias, que possuem forte conexão entre si e que são apresentadas em épocas diferentes. É inquestionável a semelhança dos atores escolhidos e ainda a ótima interpretação dos mesmos, sendo uma das inúmeras qualidades que a série apresenta.


É claro, que apesar da série beirar à perfeição, ainda não chega lá. O ritmo, por vezes lento até demais, a entrega de alguns plots meio óbvios e ainda  a tomada de um rumo diferente ao apresentar um final mais desconexo com o restante da série, são pontos que você pode também perceber que jogam contra a grandiosidade da série, mas que de forma alguma apagam seu brilho. Talvez, ao contrário, pois permitem visões diferenciadas sobre o que é entregue.

A série finaliza com uma grande ponta solta para uma segunda temporada, além de várias pontas soltas ao longo da narrativa. É ruim? De forma alguma! Numa história, bastante inovadora sobre viagem no tempo, paradoxos, loops, limbo temporal, entre outros, é extremamente importante que pontas sejam deixadas, afinal, é importante que o espectador seja co-participante do que é contado, que se sinta parte da história, que crie teorias, que pense por um bom tempo, que critique sua realidade, que busque pelo conhecimento mais profundo que vai muito mais além do que as meras dualidades existentes no universo mais simplista. 

A diferença entre passado, presente e futuro é somente uma persistente ilusão.

Albert Einstein


Ah!, quer um conselho? Assista em alemão com legendas. Vale a pena, ver uma interpretação num idioma tão rico, poder perceber palavras e memorizá-las para poder ampliar, mesmo que um pouco, seu conhecimento.


Título Original: Dark
Direção: Baran Bo Odar
Elenco: as famílias são listadas pelo sobrenome, dentro das famílias, as pessoas mais velhas vem primeiro do que as pessoas mais jovens e as mulheres vem primeiro que os homens. As outras personagens são os últimos mencionados.


Personagem

Ano        

Ator

Episódios
Greta Doppler

1953

Cordelia Wege

1.08–1.10

Bernd Doppler

1986

Michael Mendl
1.03, 1.09

1953

Anatole Taubman


1.08–1.10

Helge Doppler

2019

Hermann Beyer


1.01, 1.04, 1.07, 1.08–1.10

1986

Peter Schneider


1.03, 1.07,
1.08–1.10

1953

Tom Philipp


1.07–1.10

Charlotte Doppler

2019

Karoline Eichhorn


1.01–1.07,
1.09–1.10

1986

Stephanie Amarell


1.03, 1.09–1.10

Peter Doppler

2019

Stephan Kampwirth



1.01–1.02,
1.04–1.07,
1.09–1.10

Franziska Doppler

2019

Gina Alice Stiebitz



1.01–1.02, 1.04, 1.09–1.10

Elisabeth Doppler

2019

Carlotta von Falkenhayn


1.04–1.05, 1.09

Yasin Friese

2019

Vico Mücke


1.04, 1.07–1.08

Daniel Kahnwald

1953

Florian Panzner


1.08–1.10

Ines Kahnwald

2019

Angela Winkler

1.01, 1.03, 1.05, 1.09–1.10

1986

Anne Ratte-Polle


1.03, 1.05, 1.07, 1.09–1.10

1953

Lena Urzendowsky


1.08–1.09

Hannah Kahnwald

2019

Maja Schöne


1.01–1.02,
1.04–1.07,
1.09–1.10

1986

Ella Lee


1.03, 1.05–1.07, 1.09

Michael Kahnwald

2019

Sebastian Rudolph

1.01–1.02

Jonas Kahnwald

2019

Louis Hofmann

1.01–1.02,
1.04–1.07,
1.09–1.10

2052

Andreas Pietschmann


1.02, 1.04–1.05, 1.07–1.10

Agnes Nielsen

1953

Antje Traue


1.08–1.10

Jana Nielsen

2019

Tatja Seibt



1.01–1.03,
1.06–1.07,
1.09–1.10

1986

Anne Lebinsky


1.03, 1.05, 1.09

1953

Rike Sindler

1.08–1.09

Tronte Nielsen

2019

Walter Kreye


1.02–1.04, 1.06, 1.09–1.10

1986

Felix Kramer


1.03, 1.05, 1.09

1953

Joshio Marlon


1.08–1.09

Katharina Nielsen

2019

Jördis Triebel 

1.01–1.07,
1.09–1.10

1986

Nele Trebs


1.02, 1.03, 1.05, 1.07, 1.09

Ulrich Nielsen

2019

Oliver Masucci


1.01–1.10

1986

Ludger Bökelmann


1.02–1.03, 1.05, 1.07, 1.09

Magnus Nielsen

2019

Moritz Jahn


1.01–1.02, 1.04, 1.06, 1.09–1.10

Martha Nielsen

2019

Lisa Vicari

1.01–1.02,
1.05–1.06,
1.09–1.10

Mikkel Nielsen

2019

Daan Lennard Liebrenz


1.01–1.03, 1.05, 1.07, 1.09–1.10

Ulla Obendorf

2019

Jennipher Antoni


1.01

Jürgen Obendorf

2019

Tom Jahn


1.01–1.02

Erik Obendorf

2019

Paul Radom


1.01, 1.08

Doris Tiedemann

1953

Luise Heyer


1.08–1.10

Egon Tiedemann

1986

Christian Pätzold


1.03, 1.05, 1.07, 1.09–1.10

1953

Sebastian Hülk


1.08–1.10

Claudia Tiedemann

2019

Lisa Kreuzer


1.09, 1.10

1986

Julika Jenkins


1.03, 1.09–1.10

1953

Gwendolyn Göbel


1.08–1.09

Regina Tiedemann

2019

Deborah Kaufmann

1.01–1.03,
1.05–1.06,
1.09–1.10

1986

Lydia Maria Makrides


1.03, 1.06, 1.09

Aleksander Tiedemann

2019

Peter Benedict


1.02, 1.04,
1.06–1.07,
1.09–1.10

1986

Béla Gabor Lenz


1.09

Bartosz Tiedemann

2019

Paul Lux


1.01–1.02,
1.05–1.06,
1.09–1.10

H. G. Tannhaus

1986

Christian Steyer


1.02–1.03, 1.05, 1.08–1.10

1953

Arnd Klawitter


1.08–1.10

Noah

Mark Waschke


1.05, 1.07,
1.09–1.10


Fonte: Wikipedia

(Você ainda vai me agradecer por esse quadro! Mas se ainda assim, se confundir com as famílias apresentadas, clique aqui para ver o mapa explicativo e aqui para mais informações sobre as personagens e a série ~em inglês~)

Sinopse: 
A história acompanha quatro diferentes famílias que vivem em uma pequena cidade alemã. Suas vidas pacatas são completamente atormentadas quando duas crianças desaparecem misteriosamente e os segredos obscuros das suas famílias começam a ser desvendados.


Trailer

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