Crítica: Sharknado 5: Voracidade Global (2017, de Anthony C. Ferrante)



O filme começa com um plano aberto de uma caverna;
menos de dois segundos depois, antes que o seu cérebro possa sequer assimilar a
imagem apresentada, a trilha sonora “épica” começa e o título da obra (que
viria a aparecer novamente vinte minutos depois, o que nos leva a questionar a
razão dessa cena inicial) é jogado na sua cara em uma fonte claramente
inspirada na da franquia
Indiana Jones. A maioria dos estúdios preferiria colocar
sua marca nos créditos iniciais antes do título, mas
Sharknado não é assim e a The
Asylum Productions é creditada após o nome do filme, nos trazendo uma
constrangedora quebra de expectativa. Esses 10 segundos iniciais não estão lá
para ditar o tom do que você está prestes a assistir, mas sim como um aviso: se
você se preocupa demais com convenções cinematográficas que costumam rotular
filmes como “bem feitos” ou “mal feitos”, isso pode não ser pra você.

A franquia Sharknado, produto mais rentável do canal
Syfy atualmente, nasceu em 2013 com um primeiro filme cuja sinopse mais parecia
uma piada: uma tempestade cria um tornado que passa pelo oceano e leva consigo
um cardume de tubarões, criando o fenômeno da natureza que dá título à série;
isso mesmo, um tornado com tubarões. A obra possui 82% de aprovação no Rotten
Tomatoes e adquiriu um certo aspecto cult, tanto é que gerou quatro sequências
lançadas anualmente, cada uma delas aceitando um pouco mais o absurdo e a
essência “trash” da premissa. Estamos em 2017 e, se você ainda não aprecia a
série, muito provavelmente não é o quinto filme que vai te fazer rever sua
opinião, porém os fãs encontrarão muito para se aproveitar aqui.


Adicionando um elemento de magia literalmente
do nada, a trama de Voracidade Global gira ao redor de uma pedra antiga encontrada
por Nova (
Cassandra Scerbo) e Fin (Ian Ziering), nosso
protagonista, em uma caverna próxima a Stonehenge. Ao retirar o artefato de seu
lugar original à la Os Caçadores da Arca Perdida, acabam liberando um enorme sharknado
que suga Gil, filho de Fin, que convenientemente
usava um capacete em forma de barbatana e por isso os tubarões no tornado não o
atacam, “acham que ele é um deles”. Agora o protagonista e sua esposa, a cibernética April (Tara Reid),
juntamente com Nova devem viajar o mundo à procura do tornado e,
consequentemente, do garoto.


Sharknado 5: Voracidade Global não é, tecnicamente,
um bom filme; isso não deveria ser surpresa pra ninguém. O próprio roteiro nem
se preocupa com elementos aparentemente inúteis como coesão e sentido: é
revelado que esses tornados com tubarões existem desde a idade antiga, nossos
ancestrais lutaram contra eles e venceram. Ora, então por que os personagens nunca
tinham ouvido falar de tais fenômenos? Por que se passaram milhares de anos entre
um sharknado e outro? A montagem do filme também não ajuda, a passagem de tempo
muitas vezes não faz sentido: alguns personagens estão em um cenário, um deles
é convocado e viaja dezenas de quilômetros em um helicóptero; ao voltar para a
cena anterior, os personagens continuam exatamente na mesma locação. O senso de espaço
subconscientemente criado pelo espectador também é muitas vezes quebrado,
resultando no clássico teleporte de personagens conforme o roteiro pede.


Felizmente, nada disso importa. A franquia nunca foi
conhecida por sua graciosidade cinematográfica, apenas por seu puro valor de
entretenimento, intencional ou não. O quinto filme da série continua o padrão
de valorizar o absurdo e, é claro, as cenas de carnificina digital mal
renderizada; perdi a conta de quantas vezes um personagem novo foi apresentado
apenas para ter a cabeça ou outro órgão devorado por um tubarão um minuto
depois, uma dessas inclusive diz “as pessoas são descartáveis” um segundo antes
de morrer. Se você procura por esse tipo de coisa, é muito provável que se
sentirá satisfeito apenas com o insano prólogo de 20 minutos do filme, no qual Fin
tenta impedir um sharknado de atacar o Palácio de Buckingham.


Critiquei o roteiro anteriormente pela falta de sentido,
todavia é inegável a habilidade do escritor Scotty Mullen de manter um ritmo e
tom constantes durante todo o tempo de tela. Não há mais as cenas
desnecessariamente pacatas e “humanas” das primeiras obras da série, pelo menos não as convencionais. O filme se
aceita pelo que é e, após a breve introdução dos protagonistas, a bizarrice
nunca para: seja com uma sequência de cenas envolvendo tubarões comendo pessoas
de maneiras variadas, seja com alguma desconstrução histórica (o modo como eles
tratam a Casa de Ópera de Sydney e as pirâmides é hilário) ou com conversas
recheadas de diálogos propositalmente bobinhos, o roteirista sabe o que os fãs querem e entrega sem pretensão.

Também aumentando o nível de babaquice do roteiro estão
as já rotineiras participações especiais, todo Sharknado precisa de pequenas pontas
de pseudo-famosos, sempre em situações irônicas com sua personalidade. Aqui
não é diferente; não me atrevo a revelar para não estragar a graça, mas uma em
específico é simplesmente o meu momento cinematográfico favorito de 2017 até
agora, é extremamente imbecil e divertido. Na verdade esses dois adjetivos são
perfeitos para descrever o filme como um todo, já que este não se leva a sério
em momento algum: quase todas as cenas de ação são finalizadas com um lento close-up
no rosto do protagonista e uma frase de efeito, geralmente um trocadilho.


As atuações são todas uniformemente caricatas ou sem
graça, destaque para Tara Reid que nos primeiros filmes até se preocupava um
pouco, mas que nestes últimos, provavelmente por ordem do diretor, parece
sempre estar em outro mundo com seu sorrisinho forçado e sotaque ora britânico
ora americano. O mais interessante é que os protagonistas acabam sempre invertendo
seus valores, reagindo desesperadamente quando algo supérfluo acontece e como se estivesse tudo bem quando um tubarão vem voando em sua direção. Pode
parecer cansativo para quem gosta de sutileza e seriedade, mas quando os personagens
agem dessa forma durante todo o filme, o resultado é na verdade bem divertido.


Sharknado 5: Voracidade Global é um filme muito
recompensador para quem sabe exatamente o que quer e ainda não se cansou dessa
premissa; analisando criticamente há poucas qualidades dignas de nota, mas
justo por isso acaba sendo uma experiência tão interessante. Não é a melhor obra de 2017 e nem tenta ser, na verdade não é nem bom, porém a despretensão extrema o torna um dos títulos mais divertidos do ano. Ainda prefiro Corra Para o Quarto, quarto filme da série, em grande parte por causa do personagem de David
Hasselhoff, porém ainda recomendo este, principalmente para fãs da franquia e
amantes do cinema “tão ruim que é bom”.

Título Original: Sharknado 5: Global Swarming


Direção: Anthony C. Ferrante


Elenco: Ian Ziering, Tara Reid, Cassandra Scerbo, Billy Barratt


Sinopse: Com grande parte da América do Norte em ruínas, o resto do mundo se prepara para o inevitável: um ataque global de tubarões. De Londres à Asia, da África do Sul ao México; Fin e sua família devem acabar com os tubarões de uma vez por todas.


Trailer:

E você? É fã da franquia? Gosta desse tipo de filme? Deixe sua opinião aí nos comentários.

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